Há pouco mais de dois meses, em 5 de outubro, o então candidato favorito à Presidência, Jair Bolsonaro (PSL), declarou que "nasceu de novo" durante a campanha eleitoral. A metáfora não chega a ser um exagero já que o capitão reformado do Exército realmente esteve perto da morte. Mas, se é verdade que "a história é escrita pelos vencedores", mais apropriado seria dizer que o novo presidente eleito do Brasil "viveu para contar a história" das eleições 2018.
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O drama quase bélico que se tornaram as eleições 2018 no Brasil, sobretudo as presidenciais, tiveram em Jair Bolsonaro o seu principal incentivador e vítima, mas ele passou longe de ser o único. Muito antes da polarização se configurar entre a nova liderança do PSL no espectro da direita e a tradicional liderança do PT do lado da esquerda, foi o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) o primeiro a se tornar alvo.
Condenado em primeira instância pelo então juiz Sérgio Moro a cumprir 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex, Lula viu sua situação se agravar ainda no início do ano. O petista teve a sentença confirmada e a pena, ampliada para 12 anos e 1 mês de prisão por decisão unânime proferida pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) em 24 de janeiro, quando se abriu contagem regressiva para sua prisão ser decretada.
Enquanto os advogados de defesa usavam todos os recursos disponíveis para tentar livrar ou, ao menos, postergar a prisão, Lula decidiu viajar pelo sul do País . Foi então que, além de alvo da Justiça, o ex-presidente da República também entrou na mira de criminosos que dispararam tiros contra dois ônibus da caravana do PT , no Paraná, em 23 de março.
Ninguém se feriu naquela ocasião, mas o episódio serviu para dar o tom do que estava por vir no período eleitoral. Se soubessem, adversários de Lula como Bolsonaro e Geraldo Alckmin (PSDB) talvez não tivessem relativizado ou ironizado o episódio
, que foi investigado pela Polícia Civil
do Paraná.
Não muitos dias depois, era para o próprio estado do Paraná, mais especificamente sua capital, Curitiba, que Lula teria que retornar. Isso porque, mesmo antes de ver seus recursos se esgotarem em instâncias superiores, o ex-presidente teve sua prisão decretada por Moro , tirando virtualmente da disputa eleitoral aquele que, até então, era líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente .
Lula armou cenário épico para sair de cena, rodeado por apoiadores em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), seu berço político. Ali, o petista fez um discurso histórico no qual se comparou a Mandela e a Che Guevara, cunhou a frase "eu sou uma ideia" e citou a que diz que "os poderosos podem matar uma, duas ou cem rosas, mas jamais vão deter a chegada da primavera". Já no início da noite daquele 7 de abril, o ex-presidente deixou a sede do sindicato a pé e se entregou à Polícia Federal, que o aguardava do lado de fora .
Da prisão, Lula continuou insistindo na hipótese de que seria candidato à Presidência nas eleições 2018. O PT adotou o discurso de que se alguém haveria de tirar Lula da disputa, não seria o próprio partido, mas viu suas ações na Justiça serem derrotadas uma a uma. Foram negados os pedidos de gravar vídeos da prisão ou de fora dela , de receber visita de governadores e outras autoridades ( inclusive internacionais ), de participar de debates à Presidência e de conceder entrevistas (após idas e vindas da Justiça ).
O PT se apegou ao que tinha. Montou uma vigília na frente do prédio da Superintendência da Polícia Federal no Paraná, onde Lula estava preso, e viu o acampamento ser alvo de tiros novamente. Houve greve de fome e veio a obtenção de uma decisão liminar favorável do Comitê Internacional de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), seguido até mesmo do registro da candidatura de Lula à Presidência .
O registro foi alvo, quase que de imediato, de 16 pedidos de impugnação
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e provocou, inclusive, um calendário excepcional de julgamento do TSE que varou a madrugada para decidir, de uma vez por todas, que Lula não poderia ser candidato à Presidência com base na Lei da Ficha Limpa. Tudo isso antes mesmo do início do horário gratuito de propaganda eleitoral nas cadeias de rádio e TV.
Enquanto Lula articulava a sua própria candidatura da prisão, os demais candidatos, do lado de fora, também não ficavam para trás. E as eleições 2018 não só tiveram um número recorde de candidatos, como também de pré-candidatos.
Vários nomes ficaram pelo caminho. Alguns não passaram de intenções frustradas, como é o caso do apresentador de TV Luciano Huck . Outros pensaram na hipótese, mas nunca chegaram a anunciar sua intenção, como é o caso do ex-juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB).
Mas também teve aqueles que chegaram a dar declarações oficiais de que concorreriam e depois acabaram voltando atrás, como foi o caso do empresário dono das lojas Riachuelo, Flávio Rocha (PRB), do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), do ex-presidente e senador por Alagoas, Fernando Collor (PTC), da deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB) e do próprio presidente da República, Michel Temer (MDB).
Parte dessas desistências se deve, inclusive, à articulação política dos nomes que resistiram e registraram suas respectivas chapas. Da prisão, Lula conseguiu demover o PCdoB de D'Ávila da ideia de se candidatar e optar por compor sua futura chapa ao mesmo tempo em que convenceu o PSB a ficar neutro em vez de apoiar Ciro Gomes (PDT). Já Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu convencer o Centrão a apoiá-lo integralmente e formar a maior coligação das eleições, com nove partidos, dentre eles DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, deixando Ciro novamente isolado.
Marina Silva (Rede)
formou chapa com Eduardo Jorge (PV)
. Henrique Meirelles (MDB) ficou apenas com o PHS ao seu lado. Ciro Gomes (PDT) foi obrigado a fazer chapa de puro sangue com Kátia Abreu (PDT) de vice. Álvaro Dias (Podemos) fechou apenas com partidos menores como PSC, PRP e PTC. Guilherme Boulos (PSOL) e João Amoêdo (Novo) se isolaram por convicção política e outros nanicos também se registraram para compor as 13 chapas registradas: Cabo Daciolo (Patriotas), João Goulart Filho (PPL), José Maria Eymael (DC), Vera Lúcia (PSTU) e, é claro, Jair Messias Bolsonaro (PSL)
.
Até então apenas um deputado do "baixo clero" da Câmara dos Deputados, Bolsonaro merece um capitíulo a parte na história nessa retrospectiva 2018 . Não só pela vitória nas eleições, é claro, mas também pela maneira como quebrou recordes atrás de recordes até chegar lá.
Se as últimas eleições mostravam que a receita para conquistar a Presidência passava por grandes coligações, tempo de TV, participação em debates, fortunas investidas, não se envolver em polêmicas, evitar polarizações e abraçar o centro, Jair Bolsonaro (PSL) fez questão de subverter cada um desses itens.
O capitão reformado do Exército filiou-se a um partido nanico, que contava com apenas um deputado federal eleito em 2014 e o PSL, quase inexistente, elegeu a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados . Isso porque a cláusula de barreira não permitiu que sete outros candidatos fossem eleitos , puxados por recordistas de votos como o próprio filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, eleito deputado federal por São Paulo com 1.843.735 votos e impediu que o PSL superasse seu novo grande rival, o PT.
Ainda assim, o PSL e Bolsonaro se mantiveram convictos e não se aliaram a partidos que não compactuavam, de partida, com suas ideologias tidas como radicais demais para vencer uma eleição no Brasil em que a rejeição vale tanto quanto se não mais do que a aprovação do candidato. Sem partidos, o tempo de televisão de Bolsonaro na TV foi quase inexistente : apenas oito segundos no horário eleitoral gratuito e 11 inserções, algo irrisório perto do "caminhão de tempo" de 5 minutos e 32 segundos que Alckmin garantiu para si.
Tão improvável era a vitória de Bolsonaro que o candidato teve dificuldades até mesmo para encontrar um vice-presidente viável para sua chapa. Convites foram recusados por ao menos três nomes citados pelo hoje futuro presidente. No entanto, cada um deles teve um destino diferente.
Enquanto o senador Magno Malta (PR-ES) recusou o convite em troca de concorrer à reeleição ao Senado e acabar perdendo a vaga e a participação no futuro governo Bolsonaro , o general Augusto Heleno (PRP-RJ) também negou o convite , mas acabou sendo nomeado futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) .
Já a terceira convidada, Janaina Paschoal (PSL-SP) alegou questões familiares que a impediriam de se mudar para Brasília (DF), optando por candidatar-se à deputada estadual por São Paulo e acabar batendo o recorde de votos na história ao ser eleita com a confiança de 2.060.786 de eleitores paulistas. A negativa de Janaina foi especialmente frustrante pela expectativa de compor a chapa com uma mulher, algo que a maioria de seus concorrentes fez e utilizou para criticar Bolsonaro . Restou a opção de compor a chapa com o agora vice-presidente eleito, também militar, general Hamilton Mourão (PRTB) .
Registrada a chapa, Bolsonaro continuou seguindo métodos pouco ortodoxos para construir sua candidatura. Líder das pesquisas de intenção de voto nos cenários sem a presença do ex-presidente Lula, ele aproveitou a ausência de outsiders e consolidou-se, ao mesmo tempo, como defensor do anti-petismo e do anti-sistema sendo bem-sucedido na estratégia de desvincular-se do passado de 28 anos de mandato como deputado federal.
O presidenciável, portanto, firmou-se num terreno fértil de polêmicas e, graças a elas, germinou. Quando não era o próprio Bolsonaro que dizia coisas como "fuzilar a petralhada" durante a campanha ou via adversários reviverem frases polêmicas como "não lhe estupro porque você não merece" e "o quilombola mais leve [...] pesava 10 arrobas" , eram os próprios aliados que rendiam polêmicas suculentas como sugerir o fim do 13º salário e do adicional de férias , o retorno da CPMF , o fechamento do STF e até um autogolpe militar com a convocação de uma constituinte formada por representantes não-eleitos .
Conscientemente ou não, foi assim que Bolsonaro sequestrou a atenção das pessoas. No melhor estilo "falem bem, falem mal, mas falem de mim", pouco a pouco, o debate deixou de ser em função de Lula e passou a ser em torno das polêmicas do novo líder das pesquisas de intenção de voto para presidente , sobretudo depois do atentado à faca sofrido num evento de campanha nas ruas de Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro.
A facada no abdômen perfurou o intestino e uma importante artéria, obrigou Bolsonaro a ser operado as pressas mais de uma vez, ficar vários dias na UTI , colocar uma bolsa de colostomia e cancelar todos os compromissos de campanha dali em diante.
O agressor, Adelio Bispo de Oliveira , foi preso em flagrante e identificado como portador de transtornos mentais . Os candidatos adversários repudiaram a agressão , mas, passado o susto, o episódio reforçou a figura de "mito" e ajudou a esconder as falhas da campanha de Bolsonaro, que não participou de mais nenhum debate presidencial nem no primeiro nem no segundo turno.
Mas talvez nada disso teria dado certo se não fosse uma estratégia de comunicação muito bem arquitetada nas redes sociais. Descrente e crítico da "grande imprensa"
, Bolsonaro fez do Twitter, do Facebook e, sobretudo, do WhatsApp, o palanque da exposição que não tinha na TV. Com redes de articuladores profissionais, milhares de apoiadores voluntários e robôs que repassavam automaticamente as mensagens ( fossem elas verdadeiras ou fakes
), Bolsonaro não parou mais de crescer, tanto que esteve próximo de vencer já no primeiro turno
.
Os adversários denunciaram as fake news , pediram a anulação do primeiro turno e repercutiram as revelações de que empresários pagaram para impulsionar as mensagens da equipe de Bolsonaro , no episódio que ficou conhecido como "caixa 2 de Bolsonaro" e que ainda não foi totalmente esclarecido. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), porém, pouco fez e nenhuma pedra no caminho era mais capaz de parar a onda de otimismo que inundou a campanha de Bolsonaro, nem mesmo o contra-fluxo que adotou o nome de Ele Não.
No dia 29 de setembro, milhões de pessoas se reuniram em 62 cidades brasileiras de 12 estados diferentes da federação, e até no exterior, para protestar contra o então candidato à Presidência da República.
Convocados pelas redes sociais, os atos contaram com a presença majoritária de mulheres, faixa que mais rejeitava Bolsonaro , e bandeiras de partidos políticos como PSOL, PT, PDT e PSB até puderam ser vistas, mas o discurso partidário não predominou na maior parte das manifestações que depois viraram um movimento de ativismo digital que ganhou o apoio de personalidades nacionais e internacionais e resultou em protestos de rua em outras datas também , contra e a favor.
O movimento demonstrou força e criou a expectativa de que uma queda de Bolsonaro pudesse ser vista nas pesquisas seguintes na reta final do primeiro turno. No entanto, nem Boulos, nem Ciro e nem Haddad foram capazes de colher os frutos das manifestações.
Sim. A essa altura, Fernando Haddad (PT) já era o candidato oficial do partido à Presidência da República. Ele visitou semanalmente o ex-presidente na prisão e Haddad foi Lula durante a campanha , pelo menos no primeiro turno. O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação surfou na popularidade do ex-presidente preso , se tornou mais conhecido no País e cresceu nas pesquisas de intenção de voto .
Com o novo quadro eleitoral, Bolsonaro e Haddad alimentavam um discurso de extremos enquanto Ciro se mantinha estável, Alckmin não decolava e Marina definhava nas pesquisas. A possibilidade de ver uma disputa "entre dois extremos" no segundo turno fez com que adversários cogitassem uma aliança de última hora para tentar viabilizar uma "terceira via", apoiada em carta inclusive pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas as forças políticas de centro não foram capazes de entrar em acordo e o resultado das urnas confirmaram o que se esperava. Pelo menos nas eleições presidenciais.
O primeiro turno marcou a quase vitória de Bolsonaro e a presença do PT em mais um segundo turno presidencial, mas também marcou a eleição antecipada de governadores em metade do País e uma incrível fragmentação partidária e renovação política na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
A lista de grandes caciques partidários que acabaram de fora do legislativo foi grande . Além da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) que liderava as pesquisas de intenção de voto até as vésperas da eleição e acabou apenas em quarto lugar na disputa de Minas Gerais, outros nomes como Lindbergh Farias (PT-RJ), Eduardo Suplicy (PT-SP), Beto Richa (PSDB-PR), Marconi Perillo (PSDB-GO), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Magno Malta (PSL-ES), Chico Alencar (PSOL-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF), Romero Jucá (MDB-RR), Edison Lobão (MDB-MA), Roberto Requião (MDB-PR), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN) e o próprio presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE) não foram reeleitos.
Fora isso, outros políticos também investigados pela Operação Lava Jato e seus desdobramentos se anteciparam ao resultado das urnas e resolveram reduzir suas expectativas, deixando suas reeleições para mandatos de oito anos no senado de lado para concorrer à Câmara dos Deputados, como é o caso de Aécio Neves (PSDB-MG) e Gleisi Hoffmann (PT-PR). Também investigado pela Lava Jato, o senador José Agripino Maia (DEM-RN), por sua vez, tentou a mesma estratégia e se candidatou para a Câmara, mas nem isso conseguiu.
Com esse cenário estabelecido e cientes de que teriam as maiores bancadas partidárias na Câmara , mas que isso não seria suficiente para aprovarem grandes projetos nas Casas Legislativas, Haddad e Bolsonaro seguiram caminhos diferentes no segundo turno das eleições.
Favorito, com quase 49,2 milhões de votos válidos no 1º turno (46,1%) e disparado na primeira pesquisa de intenção de voto realizada no 2º turno , Bolsonaro manteve o discurso antissistema e anticorrupção e escolheu não fazer alianças com partidos políticos. Recebeu o apoio de governadores que ainda tentavam a vitória e de outros políticos isolados de legendas que, de modo geral, optaram pela neutralidade .
Enquanto isso, Haddad, candidato que obteve 31 milhões de votos válidos no 1º turno (29,1%), mudou o tom. Tentou se viabilizar como um nome conciliador, tirou o vermelho da campanha , parou de citar o nome de Lula e explorou o grande cardápio de declarações polêmicas de Bolsonaro para tentar vender seu adversário como uma ameaça à democracia .
A possível reação do PT, no entanto, veio tarde. Com apoios recebidos de última hora , Haddad até cresceu nas pesquisas , mas nunca conseguiu construir a sonhada Frente Democrática e mesmo os apoios esperados como o do amigo Ciro Gomes, terceiro colocado nas eleições presidenciais, não vieram com a empolgação necessária. Pelo contrário. Coube ao irmão de Ciro, Cid Gomes, um dos episódios mais polêmicos da campanha no segundo turno em que critica o PT em pleno comício eleitoral , enquanto o primogênito seguia isolado e calado em Paris.
Dessa forma, coube a Bolsonaro apenas administrar a vantagem e, por isso, entenda-se aplicar a lei do silêncio entre seus apoiadores e a si mesmo. Ainda se recuperando do atentado à faca recebido no primeiro turno, o então candidato do PSL recusou todos os convites para participar de debates presidenciais mesmo após ter obtido a liberação médica , blindou-se, pouco saiu da própria casa e contou com a empolgação de seus apoiadores para garantir a vitória.
Foi assim que, em 28 de outubro de 2018, Jair Messias Bolsonaro (PSL), aos 63 anos de idade, obteve 57,7 milhões de votos e foi eleito o novo presidente da República Federativa do Brasil numa eleição sangrenta, suada, emocionante. Fernando Haddad (PT), por sua vez, obteve 47 milhões de votos, não conseguiu a virada inédita no segundo turno e viu o seu partido ser derrotado numa disputa presidencial pela primeira vez no século, após 16 anos. No total, mais de 147 milhões de brasileiros compareceram às urnas para participar das eleições 2018.
Vencida a eleição, o novo presidente eleito não desceu o tom de imediato e continuou na mesma linha da campanha, a começar pelo meio de comunicação escolhido: as redes sociais.
No primeiro discurso após a confirmação do resultado pelo TSE, Bolsonaro usou a sua página oficial no Facebook para fazer uma transmissão ao vivo em que seguiu a mesma linha retórica militar, religiosa e radical. Com uma Bíblia, um exemplar da Constituição Brasileira e a biografia do ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill cuidadosamente colocados em cima da mesa, Bolsonaro atacou a mídia, seus adversários, agradeceu o apoio, citou um versículo e afirmou: "Estou muito feliz: missão não se escolhe, se cumpre. Forte abraço a todos e fique com Deus", finalizou.
De uma coisa, porém, não se pode acusar Bolsonaro: estelionato eleitoral. Na formação ministerial que se sucedeu, o novo presidente eleito não chegou a dar a dimensão prometida na redução do número de ministérios que prometeu, mas nomeou ministros livre de indicações político-partidárias.
No final das contas, as 29 pastas federais viraram 22, sendo que duas delas estão fadadas a serem extintas com o passar do tempo e os nomes escolhidos para compor o primeiro escalão do governo tentaram ao máximo respeitar os requisitos técnicos ao mesmo tempo que se provavam alinhados à ideologia defendida por Bolsonaro e seus aliados nas mais respectivas áreas.
Vieram os já antecipados Paulo Guedes, Onyx Lorenzoni e Augusto Heleno. Os surpreendentes Ernesto Araújo e Osmar Terra. Os indicados Luiz Henrique Mandetta e Tereza Cristina. Os desconhecidos Ricardo Vélez Rodríguez e Damares Alves. Os famosos Marcos Pontes e, sobretudo, Sérgio Moro, que começa o ano mandando prender Lula e acaba aceitando o convite para ser o novo ministro da Justiça no governo Bolsonaro.
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Dessa forma, por caminhos tortuosos a política brasileira redefiniu os rumos do País. Muita expectativa, de todas as partes, cercam o governo eleito nas eleições 2018 que tomará posse em 1º de janeiro de 2019. Será Paulo Guedes capaz de tirar o País da crise econômica? Será Bolsonaro capaz de acabar com o presidencialismo de coalizão? Será o PT capaz de se renovar e ressurgir das cinzaspara liderar a oposição mais uma vez? Será que a Lava Jato continua tirando do jogo os caciques da velha política? Histórias que serão contadas nos próximos capítulos. Quem viver, verá.