'Eleição de extremos' faz partidos preferirem neutralidade a apoio a PT ou PSL

Diferentemente do que aconteceu em 2014, quando os partidos optaram por apoiar Dilma ou Aécio, em 2018, a estratégia usada é se declarar neutro

Partidos optam por se declararem neutros no 2º turno, diferentemente do que ocorreu na eleição de 2014
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 13.12.2017
Partidos optam por se declararem neutros no 2º turno, diferentemente do que ocorreu na eleição de 2014

A votação do segundo turno das eleições, marcada para o próximo dia 28 de outubro, definirá o novo presidente da República e os governadores de 13 estados e do Distrito Federal. Na disputa presidencial, o número de partidos neutros no 2º turno é superior à soma daqueles que declararam apoio a Jair Bolsonaro (PSL) ou a Fernando Haddad (PT).

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Na última eleição presidencial, vencida por Dilma Rousseff (PT) contra Aécio Neves (PSDB), o cenário era o oposto. Somente o Psol se declarou neutro naquela disputa, mas, ainda assim, indicou voto contra Aécio e o partido tucano. Neste ano, neutros no 2º turno são a grande maioria.

Partidos neutros no 2º turno em 2018

Foto: Igo Estrela/PMDB Nacional - 19.12.17
MDB, do presidente Michel Temer, é um dos partidos neutros no 2º turno das eleições

Os partidos que anunciaram neutralidade foram: MDB, PP, PR, PRB, PSDB, Solidariedade, PMN, PHS, Podemos, PV, PPS, DC e Patriota.

Democratas e Novo também se declararam neutros, mas atacaram o PT e indicaram voto contrário a Fernando Haddad. Já o PDT, de Ciro Gomes, e a Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, declararam "apoio crítico"  a Haddad, atacando o candidato Jair Bolsonaro.

Apoiam a coligação Povo Feliz de Novo, que congrega PT, PCdoB e Pros em torno da candidatura de Fernando Haddad, os seguintes partidos: PSOL, PCB, PDT, PSTU, PPL e PSB. Já Bolsonaro e sua coligação, Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos (PSL-PRTB) tem o apoio manifesto de PSC, PTB e PSD.

Nenhum partido saiu da base de apoio  da candidatura de Dilma Rousseff em 2014 para a de Jair Bolsonaro em 2018, enquanto o PSB apoiou Aécio Neves no segundo turno em 2014 e agora está com o candidato petista.

Cientista político analisa cenário de neutros no 2º turno

Foto: ig
Bolsonaro e Haddad não tem muitos apoios formais de outros partidos, que preferiram ser neutros no 2º turno

Para o cientista político Roberto Gondo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a 'onda antipetista' distancia até mesmo setores mais progressistas da candidatura de Fernando Haddad.

O PDT de Ciro Gomes, por exemplo, declarou "apoio crítico" ao PT e se colocou ao longo da campanha como 'fogo amigo' para Haddad. A situação foi escandarada nas declarações de Cid Gomes , irmão de Ciro, e de Kátia Abreu, ex-candidata a vice-presidente.

"É importante notar os diferentes perfis de 'ciristas' [apoiadores de Ciro Gomes]. Há os mais progressistas, de esquerda, que por algum motivo não votaram no PT no primeiro turno, mas naturalmente votarão no segundo. Há os que se identificam com Ciro pessoalmente, sobretudo no Ceará; muitos que tentaram evitar PT x PSL no turno decisivo; e, por fim, outros que não votam mais ou nunca votaram no PT e vão para o nulo ou até para Bolsonaro”, comentou o cientista político.

Gondo avalia que, para os eleitores, a adoção do voto nulo ou branco no segundo turno representa posicionamento crítico de quem não se sente representado por nenhuma das duas opções. "No segundo turno, o nulo/branco não é abrir mão da respondabilidade. No primeiro turno é diferente, porque havia outros 11 candidatos e o voto nulo/branco é um voto fora do sistema, contra ele."

Situação complicada vive o PSDB, que perdeu espaço nessas eleições e sofreu com o momento de insatisfação que levou a população a algo mais radical, como o PSL, partido que passou de 8 para 52 cadeiras na Câmara a partir de 2019 e lidera as pesquisas de intenção de voto para presidente, como reitera Gondo. "É importante observar que, sob a influência negativa de Aécio Neves, a população abandonou o PSDB e achou uma linha antipetista mais radical."

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Na campanha para o primeiro turno, Alckmin atacou Haddad e Bolsonaro e se colocou como uma candidatura diferente, longe dos extremismos. Hoje, seu partido está fragmentado quanto à disputa entre PT e PSL, sobretudo devido à posição adotada pelo candidato tucano ao governo do Estado de São Paulo, João Doria.

Doria entrou em rota de colisão com Alckmin, presidente nacional do PSDB, e passou a defender o ' BolsoDoria ’, que seria uma união entre ele e Jair Bolsonaro, enquanto outras lideranças do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, demonstram rejeição menor a Haddad na atual situação.

"A insegurança com a polarização causou o racha e faz com que figuras como o Doria surjam e criem instabilidade dentro do partido. O partido, para se reestruturar, precisa buscar reorganização do seu modelo tradicional", avalia o cientista político.

Os ‘partidos de governabilidade’, do famoso centrão, "agem de acordo com seus interesses em apoios e cargos em ministérios, mas no período eleitoral fogem do Partido dos Trabalhadores, mas também não se associam a Bolsonaro pelo discurso inflamado e o receio com as políticas que serão adotadas em um eventual governo", conforme analisa Gondo. Quem apoia, o faz, de modo geral, veladamente, para não atrair a rejeição. Uma exceção é o PSD, que nessa semana  comunicou apoio ao candidato do PSL.

O MDB, partido do presidente Michel Temer, declara-se neutro e deve seguir a tendência das legendas que foram base de apoio de Temer no Congresso, inicialmente apoiando o candidato que for eleito, o que é de praxe na história política brasileira.

A postura do PSL na reta final é de silêncio e de evitar a participação de Bolsonaro em debates programados, mesmo após liberação médica para participação do candidato.

"É uma candidatura imatura e cheia de conflitos comunicacionais entre Bolsonaro, seu candidato à vice-presidente, General Mourão, e Paulo Guedes, nome forte para a economia. Vendo isso, a postura de silêncio é adotada, para não dificultar o processo que está próximo de obter sucesso", opina o cientista político do Mackenzie.

A candidatura de Fernando Haddad buscou, no segundo turno, dialogar com o centro e tentar aproximação de setores mais conservadores , mudando o discurso nos programas eleitorais, nos eventos e nas entrevistas concedidas para a imprensa.

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Os partidos neutros no 2º turno buscam se desassociar das imagens dos dois candidatos à presidência, que tem, por diferentes motivos, taxas de rejeição altíssimas, e, portanto, é visto como perigoso declarar abertamente o apoio.