Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro do ano passado, Jair Bolsonaro (PL) deixou o posto de presidente da República ainda no fim de 2022, quando viajou para os Estados Unidos usando um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) e partindo da Base Aérea Militar de Brasília.
Antes disso, logo após a divulgação do resultado do pleito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), manifestantes bolsonaristas começaram a ocupar estradas e rodovias por todo o país como forma de protesto contra a vitória do petista. Caminhoneiros obstruíram as vias em quase 20 estados brasileiros e, depois de quatro dias de bloqueio, Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais pedindo que os manifestantes liberassem as estradas.
"O fechamento de rodovias pelo Brasil, prejudica o direito de ir e vir das pessoas, está lá na nossa Constituição. E nós sempre estivemos dentro dessas quatro linhas. Tem que respeitar o direito de outras pessoas que estão se movimentando, além de prejuízo a nossa economia. Sei que a economia tem sua importância, né, sei que vocês estão dando mais importância a outras coisas agora. É legítimo. Mas eu quero fazer um apelo a você, desobstrua as rodovias. Isso daí não faz parte, no meu entender, dessas manifestações legítimas", disse Bolsonaro, afirmando estar "chateado" com o resultado das eleições.
Com a derrota em outubro, surgiram boatos de que Bolsonaro não participaria da cerimônia de posse do petista. Dessa forma, cogitou-se que a faixa fosse entregue por Hamilton Mourão, então vice-presidente. À época, no entanto, o senador eleito afirmou que também não estaria no evento.
A cerimônia de posse do petista aconteceu em 1º de janeiro de 2023 e, na ocasião, um grupo de pessoas, que foi chamado de “povo brasileiro”, foi responsável por entregar a faixa presidencial ao mandatário. O grupo era representado por uma criança, um indígena, um negro, uma mulher, entre outros. A escolha foi feita pela própria direção do Partido dos Trabalhadores após Bolsonaro se recusar a passar a faixa.
Com isso, a expectativa do PL, sigla de Bolsonaro, e dos eleitores do ex-chefe do Executivo era que ele liderasse a oposição ao governo Lula.
Enquanto estava nos Estados Unidos, alguns apoiadores do ex-presidente invadiram os prédios dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro, em protesto à vitória de Lula nas eleições. Na ocasião, eles depredaram os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto.
No mesmo dia, Bolsonaro se pronunciou sobre os ataques, dizendo que "depredações e invasões de prédios públicos" fogem à regra da democracia. Na ocasião, ele também fez críticas a Lula e à esquerda.
"Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridas no dia de hoje, assim como as praticadas pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra", escreveu Bolsonaro nas redes sociais.
Mais tarde, o ex-mandatário saiu em defesa dos responsáveis pelos atos golpistas e disse que eles foram “tratados como terroristas”.
Em 11 de janeiro, Bolsonaro voltou a publicar nas redes sociais conteúdo com teor antidemocrático, mas após duas horas a publicação foi apagada. À época, o ex-presidente compartilhou um vídeo de uma apoiadora em que um homem diz que 'Lula não teria sido eleito pelo povo'. No vídeo antigo, de 12 de novembro, o procurador Felipe Gimenez incita manifestações de protesto contra um possível governo petista e sugere que o Brasil estaria prestes a se transformar 'em uma Venezuela'.
No dia seguinte, o jornal Folha de S.Paulo revelou que, durante um mandado de busca e apreensão na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, a Polícia Federal encontrou uma minuta de decreto para o ex-presidente Jair Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE. A medida serviria para mudar o resultado das eleições de 2022. Torres se defendeu dizendo que o documento encontrado era "fantasioso" e uma "aberração" sem "validade jurídica". Já Bolsonaro, disse que a minuta é "apócrifa", que nunca foi publicada e que "nunca extravasou o plano da cogitação".
Em fevereiro, Bolsonaro fez uma publicação nas redes sociais na tentativa de criticar a gestão de Lula, mas acabou criticando seu próprio governo ao citar dados do desemprego apurados em dezembro, quando ainda estava à frente do Palácio do Planalto.
Depois, Bolsonaro disse que aguardava que parlamentares da oposição criassem uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar os ataques do 8 de janeiro, dizendo que o episódio foi uma “armadilha feita pela esquerda” e acusando o atual presidente de ter responsabilidade.
“Eu acompanho o trabalho do senador Marcos do Val (Podemos-ES), entre outros parlamentares, estamos Esperamos muito que haja a CPMI para botar em prática levantar isso aí. Foi uma armadilha feita pela esquerda, tanto que o atual presidente não quer CPMI”, discursou Bolsonaro ainda nos EUA.
Pouco antes de voltar ao Brasil da viagem de Orlando (EUA), onde passou três meses, o ex-chefe do Executivo disse que não se aposentou da vida pública e recebeu o convite de Valdemar Costa Neto para ser presidente de honra do PL.
Embora a expectativa fosse que ele liderasse a oposição, ainda no início do ano Bolsonaro negou a possibilidade, dizendo que viajaria pelo país, mas que não lideraria nenhuma frente de oposição.
"Não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com meu partido como uma pessoa experiente, com 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e 15 de Exército. Para colaborar com aqueles que assim desejarem, sobre como a gente pode se apresentar para manter o que tiver que ser mantido e mudar o que tiver de ser mudado", disse Bolsonaro em entrevista à CNN Brasil em março, pouco antes de retornar ao Brasil.
Em abril, em participação por videochamada em uma live da deputada federal Amália Barros (PL-MT) e do deputado estadual Gilberto Cattani (PL-MT), Bolsonaro (PL-RJ) acusou a oposição de tentar levá-lo ao “esquecimento” e afirmou que o Brasil “voltará ao seu eixo normal” porque seus oponentes serão “expurgos”.
Ao longo do ano, o ex-presidente continuou tecendo críticas ao atual governo, como durante participação no evento agrícola Agrishow, em maio deste ano, quando criticou a gestão de Lula e quando afirmou que o petista governa o país “com o fígado", além de ser uma "figura senil, ultrapassada”.
“Está governando com o fígado. É uma figura senil, ultrapassada. Até o momento, a preocupação dele é dizer que pegou um país destruído. É só a gente ficar quieto que ele faz a nossa campanha", disse Bolsonaro em entrevista à Veja.
O ex-presidente também continuou não descartando a participação na vida política. Durante evento do PL Mulher, comandado por sua esposa, Michelle Bolsonaro, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na capital paulista, Bolsonaro disse que continuará sendo uma “alternativa” ao Brasil enquanto estiver vivo.
“Juntos nós resgatamos muitos valores no nosso país, entre eles o amor à pátria, a defesa da família e fizemos uma excelente política internacional. Só a morte coloca um ponto final nas nossas vidas, enquanto ela não chegar estaremos à disposição para sermos uma alternativa política”, disse Bolsonaro, em maio.
No mesmo mês, ele disse ter superado as eleições de 2022 e que tem a intenção de “colaborar” com o país, mesmo não gostando do governo de Lula. "Ajudar, apesar de não simpatizar com o governo, queremos colaborar. Eleições de 22 superadas. [As eleições de] 26 só se discutem depois de 2024. Sem rancor da nossa parte", declarou ao conversar com jornalistas.
Em seu primeiro ano na oposição, Bolsonaro também criticou publicamente encontros que o atual chefe do Executivo teve com outros líderes, como com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Na ocasião, ele disse que não está "mais radical”, apenas “mais maduro”, e escreveu: "Ninguém pode dizer que ele não avisou", sugerindo que petista está seguindo os mesmos passos do líder venezuelano.
Em junho, o TSE condenou Bolsonaro pela propagação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas. Com isso, Bolsonaro ficou inelegível pelos próximos oito anos. O julgamento encerrou com o placar de 5 a 2 contra o ex-presidente. Após o resultado, o ex-mandatário insinuou ter sido "perseguido" pela Corte Eleitoral e fez menção às eleições de 2018.
“Não há dúvida que é uma perseguição e uma ideia de esconder algo que aconteceu nas eleições de 2018”, declarou. O antigo mandatário do país relatou que “sempre defendeu o voto impresso”, por isso não considera que seja um posicionamento recente.
“Não persegui ninguém enquanto presidente. Para quem diz se orgulhar do comunismo, jamais saberá o que é a democracia. Infelizmente, a democracia que ele [Lula] conhece é a de Fidel Castro, de Nicolás Maduro, de Daniel Ortega“, afirmou.
Ao longo de 2023, Bolsonaro também esteve envolvido no escândalo das joias que foram dadas de presente à então primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita e foi alvo de questionamentos após a divulgação dos gastos no cartão corporativo na época em que ainda era o comandante do governo brasileiro.