Palácio do Supremo Tribunal Federal é destruído após atos terroristas
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil - 08.01.2023
Palácio do Supremo Tribunal Federal é destruído após atos terroristas

O ataque terrorista que depredou os Três Poderes em Brasília e abalou as estruturas da democracia brasileira completa um mês nesta quarta-feira (8). Considerado uma das piores agressões ao Estado Democrático de Direito desde a redemocratização do país, o ataque ganhou  repercussão internacional e o rastro de detruição deixado pelos extremistas ainda ecoa no trabalho àrduo dos profissionais que tentam recuperar o patrimônio público, artístico, histórico e arquitetônico brasileiro.

Além disso, em um trabalho conjunto com o governo federal, a PF tem realizado desde então a Operação Lesa Pátria , que se tornou permanete e, até o momento, em suas cinco fases, já cumpriu 16 mandados de prisão preventiva e 31 de busca e apreensão contra extremistas suspeitos de participar dos crimes na capital federal.

Investigados e presos

Incessante, as investigações que envolvem o caso continuam. Desde a primeira fase da Operação Lesa Pátria, deflagrada na metade de janeiro, a Polícia Federal já efetuou diversas prisões de suspeitos de estimular e participar do ataque no dia 8 de janeiro.

1ª fase 20/01 - Na  primeira atuação contra golpistas que estiveram nos atos em Brasília, em 8 de janeiro, a PF prendeu os bolsonaristas Renan da Silva Sena; Ramiro Alves da Rocha, conhecido como Ramiro dos Caminhoneiros; Soraia Baccioci; Randolfo Antonio Dias; além de uma quinta pessoa, que não teve a identidade revelada. 

2ª fase 23/01 -  policiais prenderam, em Uberlândia (MG), Antônio Cláudio Alves Ferreira que invadiu o Palácio do Planalto e destruiu um relógio do século 17 feito pelo francês Balthazar Martinot .

3ª fase 27/01 -   Nesta etapa, dois  radicais foram presos em Minas Gerais; um em Santa Catarina; um no Paraná; e outro no Espírito Santo.  Léo Índio, sobrinho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estava entre os alvos de mandado de busca e apreensão cumpridos no DF e no Rio de Janeiro.

Entre os presos mineiros, estava Marcelo Eberle Motta e Eduardo Antunes Barcelos — advogado que trabalha como coordenador da assessoria jurídica da Santa Casa de Misericórdia de Cataguases (MG).

Outra presa na operação foi Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souz a, de 67 anos, conhecida como Dona Fátima de Tubarão.

4ª fase 03/02 -   Dois homens foram presos pela Polícia Federal , um dos alvos em Rio Verde (GO). Lucimário Benetido Camargo, conhecido como Mário Furacão, é empresário e presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do município. O segundo suspeito foi o ex-candidato a deputado estadual de Rondônia William Ferreira da Silva.

5ª fase 07/02 - PF prende quatro agentes da PM-DF (Polícia Militar do Distrito Federal) que estão supostamente envolvidos nos atos golpistas. O  coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime Barreto , responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios no dia dos atos, um capitão, um tenente e um major da PM que ainda não tiveram a identidade divulgada.

Fora os suspeitos detidos na Operação Lesa Pátria, mais de mil extremistas foram presos durante os ataques e em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília após os atos terroristas. Destes, segundo os últimos dados divulgados pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal, no dia 30 de janeiro, 882 pessoas ainda continuavam presas, sendo  576 homens no Centro de Detenção Provisória II do DF306 mulheres na Penitenciaria Feminina do estado. Já  459 pessoas, foram liberados mediante uso de tornozeleira eletrônica e seguem sendo acompanhadas pela polícia.

As denúncias acusam os golpistas de crimes como:

  • associação criminosa;
  • incitar a animosidade entre as Forças Armadas contra os Poderes Constitucionais;
  • tentativa de abolir, com grave ameaça ou violência, o Estado Democrático de Direito;
  • golpe de Estado;
  • dano qualificado pela violência e grave ameaça, com emprego de substância;
  • inflamável, contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo para a vítima;
  • associação criminosa armada;
  • deterioração de patrimônio tombado.

Além destes, autoridades como o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, e o ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) coronel Fábio Augusto Vieira foram presos pela PF após determinação de Alexandre de Moraes. Vieira teve a  liberdade provisória concedida pelo ministro na sexta (3/1). Torres continua detido.

Na terça (7), a  Advocacia-Geral da União (AGU) pediu à Justiça Federal que realize um novo bloqueio de bens dos bolsonaristas e envolvidos nos atos golpistas de Brasília . O pedido é que o montante passe de R$ 18,5 milhões para R$ 20,7 milhões.

Durante e após o ataque - veja a cronologia dos fatos

Sábado 07/01

Aproximadamente 4 mil bolsonaristas chegam de ônibus a Brasília para se juntam a outros extremistas que já estão acampados desde os resultada das eleições, de 30 de outubro, em frente ao Quartel-General do Exército na capital federal.

Domingo 08/01

Desde o início da manhã milhares de pessoas chegam à capital do país. O movimento começa a ganhar força e, através das redes sociais e de comentários entre os próprios radicais, já há indícios de que os atos pretendem ir além de apenas uma manifestação pacífica e democrática.

10h -  A preparação para a invasão começa. Nas redes, bolsonaristas compartilham vídeos de supostas conversas com oficiais da Polícia Militar.

O alerta da inteligência

11h -   A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alerta sobre o risco de uma possível invasão a prédios públicos horas antes dos atos -- um relatório é encaminhado para as forças de segurança de Brasília, incluindo o governo do Distrito Federal, informando que os acampados do QG do Exército ameaçam invadir a Praça dos Três Poderes.

12h30 -  Antes da saída dos golpistas do QG, um policial militar explica como será feita a escolta ao longo da Esplanada dos Ministérios.

12h30 -  Neste momento, Everaldo Bosco Rosa Moreira, coordenador-geral da Secretaria de Polícia do Senado Federal, vai ao Congresso após receber a informação de cerca de 5 mil manifestantes pretendem invadir a sede do Legislativo.

“Situação tranquila”, avisa secretário em exercício para Ibaneis

13h23 - O secretário de Segurança Pública em exercício, Fernando de Sousa Oliveira, em uma conversa por WhatsApp para o governador Ibaneis Rocha, revelada pelo portal “Metrópoles” , atualiza a situação para o governador dizendo que está "Tudo tranquilo, ordeiro e pacífico”.

Lula viaja para o interior de São Paulo

14h26 -  Nesse meio tempo, o presidente Luiz Inácio Lula da Sila (PT) pousa em Gavião Peixoto para prestar solidariedade às vítimas dos estragos causados pela chuva em Araraquara. O mandatário está acompanhado dos ministros Luiz Marinho (Trabalho), Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Jader Filho (Cidades).

Quebrando o bloqueio frágil

14h30 - Extremistas radicais começam a chegar à Esplanada dos Ministérios e encontram um bloqueio frágil, diferente do habitual, alguns deles são revistados, mas outros ignoram a barreira e passam direto.

Início da invasão

14h42 -  Bolsonaristas radicais rompem a barreira que cercava o Congresso e inciam a invasão aos Três Poderes. Neste momento, alguns agentes tentam conter conter os extremistas, mas a tentativa é insuficiente frente, tendo em vista o grande número de invasores.

Lula vê imagens da invasão dos Três Poderes

15h -  O presidente Lula visitava Araraquara quando um auxiliar mostra no celular cenas do protesto na Esplanada e a invasão ao Congresso. Após isso, o mandatário vai até a prefeitura da cidade, onde é informado da invasão do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na mesma hora, Lula se da conta da gravidade da situação e acompanhando os atos terroristas pela televisão e faz uma videoconferência com seus ministros. O chefe do Executivo também contata o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Ele pede que o ministro da Justiça, Flávio Dino, formule um texto de intervenção na segurança pública do Distrito Federal.

A chegada dos reforços

16h30 -  Quase duas horas após o início dos ataques aos Três Poderes, os primeiros reforços começam a chegar no local, são oficiais da Polícia Militar sob o comando do Coronel Vanderly, adjunto do Departamento de Segurança Presidencial. Eles conseguem "limpar" o terceito andar do prédio. Do lado de fora, militares do Exército continham os extremistas que entravam no segundo andar pela rampa. Após a chegada do policiamento, os invasores são reunidos no segundo andar do Palácio e recebem voz de prisão.

Retomada dos Três Poderes e Intervenção Federal

17h - Imagens que mostram conivência e falhas policiais em relação à manifestação já circulavam na internet, além disso o país já sabia que o o então secretário de Segurança Pública e ex-ministro Anderson Torres estava de férias na Flórida.

Neste horário o Brasil assistia pelas redes sociais e pela TV cenas do ataque. Políticos começam a se manifestar nas redes e a criticar  a atuação do governador do Distrito Federal em relação ao caos instalado pelos extremistas.

Ibaneis dexonera Anderson Torres

17h08 - Tentando se salvar politicamente, Ibaneis anuncia pelas redes sociais a exoneração de Anderson Torres  do cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Lula anuncia a intervenção federal na capital do país

18h - Ainda na prefeitura de Araraquara, Lula convoca um pronunciamento de emergência exibido em rede nacional e condena os atos terroristas, afirmando que houve “falta de segurança”, além de prometer punição aos envolvidos. Após isso, é decretada intervenção na segurança do Distrito Federal .

“Invadiram a sede do Governo, invadiram a sede do Congresso Nacional, invadiram a Suprema Corte, como verdadeiros vândalos, destruindo o que encontravam pela frente.", disse o presidente.

"Queria dizer para vocês que todas essas pessoas que fizeram isso serão encontradas e serão punidas."

Planalto e STF retomados

18h20 -  A partir deste horário, a Polícia do DF com a ajuda de todo o efetivo policial, inclusive os que estavam de folga, retoma os prédios do STF e o Palácio do Planalto mas, por volta de 18h20, ainda não havia conseguido esvaziar o Congresso. 

Desocupando o Congresso Nacional

18h30 - Forças policiais usam cavalaria, jatos d'água e bombas de efeito moral para desocupar o Congresso. Helicópteros atiram bombas de gás e bala de borracha para dispersar grupo que se concentrava em cima do prédio e nos arredores.

19h - Tropas de choque da PM fazem bloqueio para isolar os prédios dos três Poderes e evitar que os radicais, que já foram dispersados, voltem ao local. Vários grupos começam a retornar ao acampamento no QG do Exército.

Lula chega em Brasília

20h36 - Lula desembarca em Brasília e segue com uma equipe em direção ao Palácio do Planalto para inspecionar a devastação do prédio. Após isso, ele vai até o STF onde é recebido pela presidente da Corte, Rosa Weber e os ministros Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso.

Bolsonaro se manifesta sobre os ataques dos EUA

21h17 -  Após a retomada dos Poderes pela polícia do Distrito Federal, Bolsonaro se pronuncia pelas redes sociais e afirma que as depredações "fugiram à regra". 

Justiça e Defesa se reúne com militares

22h - Durante à noite, os ministros Flávio Dino (Justiça), José Múcio Monteiro (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil) vão ao quartel general do Exército em Brasília e se encontram com o comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda, e com o comandante militar do Planalto, Gustavo Menezes, em uma reunião de emergência.

Segunda 09/01

Moraes afasta Ibaneis

00h15 - No início da madrugada de segunda, o ministro do STF Alexandre de Moraes afasta o governador Ibaneis Rocha do cargo por 90 dias . Ele determina também a desocupação imediata dos acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis do Exército no Distrito Federal e em todo país.

Fim dos acampamentos

7h30 - Oficiais da Polícia Militar, Exército e da Força Nacional começam a operação para retirar os manifestantes acampados em frente ao QG do Exército acatando a ordem de Moraes.

8h30 -   Manifestantes que se recusaram a sair de frente do QG do Exército foram detidos e encaminhado para a Academia da Polícia Federal. Cerca de 1200 pessoas, entre adultos, idosos e crianças que acompanhavam os pais passaram pelo procedimento de triagem.

Nota em defesa da democracia

11h30 - Lula se reúne com outras lideranças no Palácio do Planalto, incluindo, ministros do Supremo, a presidente da Corte, a ministra Rosa Weber, o presidente da Câmara, Arthur Lira, o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo, e ministros. Todos divulgam uma nota conjunta em defesa da democracia.

"O país precisa de normalidade, respeito e trabalho para o progresso e justiça social da nação", diz um trecho da  nota dos Poderes em defesa da democracia.

Lula faz reunião com governadores de todos os estados da federação

19h - Lula recebe os 27 governadores do país  em um encontro que se transforma em um ato de união e repúdio às ações praticadas por golpistas.

Após a reunião,  Lula, governadores e as lideranças do Poder Legislativo e Judiciário se encontram na rampa do Palácio do Planalto e fazem uma caminhada pela Praça dos Três Poderes.

Terça 10/01

Moraes decreta prisão de Anderson Torres

17h -  O ministro Alexandre de Moraes, do STF, decreta a prisão do ex-secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, que estava de férias nos EUA, e do ex-comandante da Polícia Militar no Distrito Federal, Fábio Vieira, por conta dos atos terrorista que haviam ocorrido há dois dias.

Quinta 12/01

Financiadores são identificados

No dia 12 de janeiro, a polícia começa a identificar os financiadores dos atos golpistas . Neste momento, a Justiça Federal determina o bloqueio de bens, no valor de R$ 6,5 milhões, de 52 pessoas e sete empresas identificadas pela AGU. 

Minuta do golpe é encontrada na casa de Torres

A Polícia Federal encontra durante busca e apreensão na casa do ex-ministro Anderson Torres, no dia 10, o PDF de uma  minuta de um decreto para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A medida serviria para mudar o resultado das eleições de 2022, o que pode ser considerada inconstitucional.

Sexta 13/01

STF autoriza investigação

ex-presidente Bolsonaro é incluido na investigação sobre os atos terroristas em Brasília. 

Sábado 14/01

Anderson Torres é preso após se entregar à polícia 

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres é preso pela PF em Brasília, ao desembarcar de um voo vindo de Miami, nos EUA.

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