O segundo ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi marcado pela pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2). O primeiro caso da doença no Brasil foi detectado no dia 26 de fevereiro e, a partir de março, as medidas de prevenção começaram a ficar mais rígidas.
Deste ponto em diante, o país registrou um número expressivo de casos de infecção pela Covid-19
, enfrentou dificuldades econômicas
, acompanhou os desentendimentos entre o governo federal e os governos estaduais e viu o comando do Ministério da Saúde mudar três vezes
. Confira abaixo alguns dos principais momentos destacados pelo iG
.
"Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, tá ok?"
Em março , o presidente já adotava a postura de negação em relação à pandemia de Covid-19 e aos desdobramentos que ela traria para o país. Em seus comunicados oficiais e em aparições públicas, Bolsonaro chamou medidas de prevenção ao novo coronavírus de “histeria” e reduziu a doença a uma “gripezinha” , dizendo que não enfrentaria problemas se fosse infectado, graças ao seu “histórico de atleta” . Além disso, ele apresentou a hidroxicloroquina como um medicamento para tratar a infecção, mesmo sem eficácia comprovada.
O presidente também teve atritos com o então Ministro da Saúde , Luiz Henrique Mandetta , por conta de diferentes posicionamentos quanto às medidas de precaução contra o vírus. Contudo, questionado sobre a possibilidade do Ministro ser demitido, Bolsonaro disse: “ Comigo, ninguém vai viver sob tensão. Está bem o Mandetta ”.
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”
No começo de abril foi sancionado pelo Governo Federal o auxílio emergencial de R$600 destinado a trabalhadores informais, microempreendedores individuais, contribuintes individuais da Previdência Social e desempregados.
Bolsonaro demitiu Mandetta do Ministério da Saúde no dia 16 de abril, após divergências sobre as ações do governo frente à pandemia e, principalmente, a questão da cloroquina, defendida pelo presidente e desacatada pelo ex-ministro . Nelson Teich assumiu o cargo e disse que haveria “alinhamento completo” com Bolsonaro.
Quando o Brasil ultrapassou o número de mortes da China, atingindo a marca de 5.017 mortos, Jair Bolsonaro foi questionado por uma repórter sobre o assunto e respondeu: “ E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre
”.
“Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína”
Alguns desdobramentos importantes da política brasileira aconteceram em maio , como a segunda demissão de um Ministro da Saúde em meio à pandemia. Nelson Teich pediu para sair do cargo e fez o comunicado em público no dia 15 de maio, antes de completar um mês de atuação. Segundo o médico, não houve alinhamento com o presidente e por isso decidiu sair. "Não foi a cloroquina, foi política", disse ele.
Nesse mês, já com Eduardo Pazuello ocupando interinamente o posto de Ministro da Saúde, o governo ampliou o uso da cloroquina em um protocolo que autorizava médicos a prescreverem o medicamento para pacientes com sintomas leves , mesmo com os possíveis efeitos colaterais que o remédio poderia causar.
“A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”
No começo do mês de junho , o presidente disse que estava estudando romper relações com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e definiu o órgão como partidário, ideológico e político. “Ou a OMS trabalha sem o viés ideológico ou nós vamos estar fora também. Não precisamos de gente lá de fora dando palpite na saúde aqui dentro”, comentou Bolsonaro.
O chefe de Estado também atribuiu a governadores e prefeitos a responsabilidade sobre o número de desemprego no país, que, segundo ele, foi causado pelas medidas de contenção ao novo coronavírus.
“Morre gente todos os dias de uma série de causas. É a vida, é a vida”
Na primeira semana de julho , Bolsonaro foi diagnosticado com Covid-19 . O presidente se manteve isolado no Palácio da Alvorada e foi monitorado de perto pelo Hospital das Forças Armadas. Ele não teve complicações e se recuperou bem.
Bolsonaro sancionou a lei que determina o uso obrigatório de máscaras em público enquanto durar a pandemia no Brasil. No entanto, ele vetou o trecho que obrigava a utilização de máscaras em templos religiosos, estabelecimentos comerciais e instituições de ensino e não autorizou a imposição de multas para quem descumprisse as medidas.
“Vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar”
No dia 8 de agosto , o Brasil atingiu a marca de 100 mil mortes por Covid-19. Já nesse mês, Bolsonaro dizia que a vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford poderia estar disponível até dezembro para os brasileiros. Foi também em agosto que o Congresso derrubou vetos do presidente, assim garantindo acesso a água potável e materiais de higiene a indígenas e quilombolas e assegurando a obrigatoriedade do uso de máscaras .
No sexto mês de pandemia no Brasil , o chefe do Executivo sancionou a lei que libera escolas e universidades de cumprir 200 dias letivos em 2020 e a medida provisória que permite que o governo federal adote medidas para restringir a circulação de bens e pessoas. Bolsonaro também continuou a defender o uso da hidroxicloroquina e chegou a fazer piadas de cunho sexual e homofóbico sobre a aplicação de ozônio no reto como método de tratamento contra o novo coronavírus .
“Estamos praticamente vencendo a pandemia”
Após quatro meses comandando a pasta no posto de interino e cinco dias depois de o Brasil ultrapassar 130 mil mortos, o general Eduardo Pazuello tomou posse como ministro da Saúde em 16 de setembro . A cerimônia foi marcada pela crítica ao isolamento social e pela defesa da cloroquina. Nesse mês, o ex-ministro Mandetta declarou que o presidente teve uma “reação bem negacionista e bem raivosa” ao ser alertado sobre milhares de mortes que a pandemia poderia ocasionar.
Em setembro , Bolsonaro editou medidas provisórias para oficializar a entrada do Brasil no consórcio Covax Facilty , um programa mundial voltado para o desenvolvimento de imunizantes contra Covid-19. No mesmo mês, o presidente atacou as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos, classificando-as como "projetos ditadores nanicos que apareceram pelo Brasil afora".
“Eu não pedi para ninguém ficar em casa”
Em outubro , o Brasil chegou a 150 mil mortos e a corrida por uma vacina ganhou novos capítulos. No dia 20 de outubro, Pazuello havia anunciado a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac , desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. Em seguida, o ministro da Saúde foi desautorizado por Jair Bolsonaro .
O presidente também sustentou o discurso contra o isolamento social , medida recomendada pela OMS durante a pandemia, e rejeitou a ideia de uma vacinação obrigatória .
"Tem que deixar de ser um país de maricas"
Em novembro , veio à tona a notícia de que 6,86 milhões de testes de Covid-19, adquiridos pelo Ministério da Saúde, estavam prestes a vencer nos próximos dois meses e poderiam ser descartados. Além disso, também foi o mês em que a guerra das vacinas se intensificou . "Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", disse o presidente sobre a suspensão temporária dos testes da CoronaVac .
Com pelo menos 173 mil mortos , Bolsonaro declarou que “tudo agora é pandemia , tem que acabar esse negócio, pô” e afirmou que a população deveria deixar de ser “maricas” e “enfrentar” a Covid-19. O presidente ainda negou que tenha usado o termo “gripezinha” para se referir à doença em qualquer momento durante a pandemia.
“A pressa da vacina não se justifica”
O Brasil chegou ao fim do ano, mas não ao final da pandemia, com os casos de infecção por Covid-19 crescendo novamente. No dia 16 de dezembro , o Plano Nacional de Imunização foi apresentado oficialmente e, três dias depois, com pelo menos 186 mil mortes no país, Bolsonaro afirmou que “a pressa da vacina não se justifica” .
Foi também nesse mês que o presidente editou uma medida provisória com R$ 20 bilhões destinados à compra de doses de vacina e insumos e ao financiamento de logística e campanha de imunização. Além disso, Bolsonaro também falou sobre planos de exigir um termo de responsabilidade de quem tomar a vacina contra o novo coronavírus.
*Estagiárias supervisionadas pela Equipe de Último Segundo