O novo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira (9) o novo secretário especial e chefe do Escritório de Representação do Estado de São Paulo, em Brasília. O escolhido será o deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB), mas o que chamou mesmo atenção é o fato de que este é o décimo ex-integrante do alto escalão do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) a compro a gestão Doria no governo de São Paulo.
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A nova função do escolhido de Doria
é responsável por articular a relação polícia do estado com a Presidência e a Vice-Presidência da República, além do contato com o Congresso Nacional, os ministério, as autarquias federais e instituições financeiras como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Por esses motivos, Imbassahy ficará na capital federal e não na sede do governo em São Paulo.
Com a nomeação, Doria garante ao correligionário tucano um cargo público a partir de 2019 já que o Antonio Imbassahy tentou a reeleição para a Câmara dos Deputados nas eleições 2018, mas não conseguiu. Se não fosse indicado para a função no governo de São Paulo , portanto, ele deixaria oficialmente Brasília no próximo dia 31 de janeiro, quando termina seu mandato. Os parlamentares, no entanto, já estão de recesso e só devem voltar aqueles que tomarão posse para um novo mandato em 1º de fevereiro.
Em nota, o governador João Doria afirmou que o ex-ministro de Temer "traz ao governo de São Paulo mais um experiente colaborador, profundo conhecedor do Congresso Nacional e das instituições públicas no plano federal". Deputado federal por dois mandatos, Imbassahy ocupou a liderança do PSDB na Câmara Federal entre 2014 e 2016 e, antes disso, foi governador da Bahia, entre 1994 e 1997, e prefeito de Salvador por dois mandatos de 1997 a 2004.
Aproximação entre Doria e Temer?
Apesar de não serem aliados publicamente, a formação da equipe de governo de João Doria a frente do estado de São Paulo tem revelado um perfil bem parecido com a formação da equipe de governo do ex-presidente Michel Temer, na época, a frente da Presidência da República. Isso porque o deputado federal Antonio Imbassahy é o décimo nome a compor ambas as equipes.
Durante as eleições, o ex-presidente Temer divulgou um vídeo em que atacava Doria, pedia para que o então candidato falasse a verdade e chegava a pedir para que o novo governador "desacelerasse" em alusão ao mote de campanha usado pelo ex-prefeito de São Paulo "acelera SP".
O vídeo de Temer foi divulgado no início da noite de quarta-feira , 19 de setembro de 2018, em meio às eleições 2018. Na mensagem direcionada a Doria, Temer diz que ele está se "desmentindo" uma vez que, após já tê-lo elogiado "inúmeras vezes" e que, no "brevíssimo tempo" em que Doria esteve à frente da prefeitura da capital paulista, pediu ajuda ao governo federal e o presidente deu o auxílio necessário, mas "agora Doria o critica".
“João Doria, eu quero me dirigir a você e lamento muito ter que fazê-lo, porque eu quero registrar três pontos determinados. O primeiro é que você tem usado a propaganda eleitoral, as inserções, para fazer criticas direta ou indireta ao meu governo, ou seja, você está se desmentindo”, afirmou Temer.
O presidente também rechaçou a tentativa de Doria de “dissociar a figura do presidente da República da figura dos partidos que o apoiam”. Temer ressaltou que as siglas que apoiavam o seu próprio governo são as mesmas que apoiavam o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo.
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“Por isso, se você me permite, você que tanto me elogiou, você que tantas vezes enalteceu o meu governo, não é por causa das eleições que você vai mudar as suas características. Aliás, se nós quisermos dar um exemplo nesta eleição, João Doria, nós devemos nos comportar como somos, e não como muitas vezes, penso eu, o marqueteiro talvez te aconselhe. Eles estão equivocados, João, porque ferem os critérios morais que devem pautar a sua conduta e de todos os candidatos”, declarou.
“Por isso eu peço a você que não falte com a verdade, desacelere”. Veja o vídeo:
Após as eleições, no entanto, Doria começou a montar sua equipe de governo e logo escolheu o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Gilberto Kassab (PSD) para o posto de secretário estadual da Casa Civil , responsável, portanto, pela articulação política do poder executivo estadual com a nova Assembleia Legislativa de São Paulo.
Kassab, que foi um dos maiores aliados políticos da campanha de Doria, no entanto, teve que pedir afastamento do cargo antes mesmo de assumir a nova função já que se tornou investigado pela Justiça Federal e até alvo de mandatos de busca e apreensão em vários endereços ligados a ele e seus familiares como forma de tentar esclarecer ou comprovar as denúncias feitas, em delação premiada, pelos executivos da J&F, Ricardo Saud e Wesley Batista, que acusaram Kassab de ter recebido R$ 58 milhões em propina e doações ilegais de campanha.
Primeiro, em forma de mesada de R$ 350 mil, realizada ilegalmente através de contratos fictícios de alugueis de caminhões com a empresa Yape Transportes, ligadas ao político, totalizando R$ 30 milhões. Os policias investigam se a Yape Consultoria, também de Kassab, também foi utilizada no esquema.
Depois, o ex-ministro Gilberto Kassab também teria vendido o apoio político do PSD, partido político fundado por ele, ao PT na campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014. Os pagamentos teriam sido realizados pela J&F por meio de doações oficiais ao partido, além da quitação de notas fiscais falsas de prestação de serviços e da entrega de dinheiro em espécie aos envolvidos no esquema, totalizando outros R$ 28 milhões.
Após as acusações, Kassab uniu novamente Temer e Doria, já que o ex-presidente elogiou o seu ex-ministro afirmando que houve pacificação das áreas de Ciência e Tecnologia em decorrência da "habilidade extraordinária" de Kassab. Enquanto isso, Doria acatou o pedido de afastamento de Kassab e afirmou que confia "na conduta da Justiça" e "no amplo direito de defesa" .
Entre Kassab, anunciado no dia 5 de novembro, e Imbassahy, anunciado neste 9 de janeiro, outros oito integrante do governo Temer foram "acolhidos" na gestão Doria.
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) assumiu a pasta de mesmo tema no governo de São Paulo. Mesmo caso do ex-ministro da Educação Rossieli Soares, ex-ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão, e do ex-ministro do Turismo Vinícius Lummertz que seguem no equivalente estadual das pastas federais de mesmo tema.
Já o ex-ministro das Cidades Alexandre Baldy (Podemos) assumiu o cargo de secretário estadual de Transportes Metropolitanos e o ex-ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB) assumiu a presidência da agência paulista de promoção de investimento, Investe SP.
Enquanto isso, o ex-presidente da Infraero (estatal que administra os aeroportos) Antônio Claret de Oliveira foi escolhido para presidir o Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) e o ex-presidente da Caixa Econômica Federa Nelson de Souza escolhido para chefiar um grupo de três diferentes estatais estaduais: a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), a Companhia Paulista de Obras e Serviços (CPOS) e a Companhia de Desenvolvimento Agrícula de São Paulo (Codasp).
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Conheça a equipe completa do governador João Doria abaixo:
Secretários:
- Casa Militar e Defesa Civil – Coronel Nyakas
- Segurança Pública - General Campos
- Energia, Saneamento e Recursos Hídricos - Marcos Penido
- Justiça - Paulo Dimas Mascaretti
- Pessoa com Deficiência - Célia Leão
- Agricultura - Gustavo Diniz Junqueira
- Saúde - José Henrique Germann
- Cultura - Sérgio Sá Leitão
- Educação - Rossieli Soares
- Casa Civil - Gilberto Kassab
- Transportes Metropolitanos – Alexandre Baldy
- Logística e Transporte – João Octaviano Machado Neto
- Desenvolvimento Regional - Marco Vinholi
- Habitação - Flávio Amary
- Desenvolvimento Social - Célia Parnes
- Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Inovação e Emprego - Patrícia Ellen da Silva
- Turismo - Vinicius Lummertz
- Esportes – Aildo Rodrigues Ferreira
- Administração Penitenciária – Coronel Nivaldo Restivo
- Fazenda – Henrique Meirelles
Secretários especiais:
- Comunicação - Cleber Mata
- Relações Internacionais e Invest SP - Julio Serson
- Escritório do Estado de São Paulo em Brasília - Antonio Imbassahy
Outros cargos da administração:
- Procuradora-Geral do Estado – Lia Porto
- Presidente do Fundo Social – Filipe Sabará
- Presidente do Conselho do Fundo Social – Bia Doria
- Chefe de Gabinete - Wilson Pedroso
- Presidente da Sabesp – Benedito Braga
- Presidente da Cetesb – Patricia Iglecias
- Presidente do Memorial da América Latina - Jorge Damião
- Presidente da Desenvolve SP - Milton Santos
- Presidente da Invest SP - Aloysio Nunes
- Presidente do Procon-SP - Fernando Capez
Segurança militar e civil:
- Secretário Executivo da Polícia Militar – Coronel Alvaro Batista Camilo
- Comandante Geral da Polícia Militar – Coronel Salles
- Secretário Executivo da Polícia Civil – Yousseff Abou Chahin
- Delegado Geral da Polícia Civil – Ruy Ferraz
Destes, no entanto, além da questão legal de Kassab, João Doria já teve problemas que impossibilitaram a posse do indicado para a presidência do Memorial da América Latina, Jorge Damião, e com o indicado para o comando do Procon-SP, Fernando Capez, já que as indicações do novo governador não respeitaram o estatuto interno dos órgãos que exigem a formação de uma lista tríplica pelo Conselho das entidades com os indicados que só então são enviados ao governador que, por sua vez escolhe um.
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Dessa forma, Doria foi obrigado a demitir os aliados no seu segundo dia de governo e respeitar o rito de cada instituição, mas deverá acabar confirmando as mesmas indicações de antes.