Muitos dizem por aqui que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está desde ontem vivendo o momento com o qual sonha desde o início de sua carreira política: conquistou a legitimidade internacional para que o Exército israelense – e a agência de inteligência, o Mossad, que anda fazendo um trabalho fenomenal – combata diretamente o Irã. Após o ataque de ontem, a guerra entre os dois países está declarada.
Esse evento causou a maior tensão em Israel desde o 7 de outubro de 2023 e forçou 10 milhões de israelenses a se manterem em áreas protegidas durante 50 minutos. O país parou, incluindo o Aeroporto Internacional Ben Gurion, o qual muito raramente suspende suas operações (mas apenas por cerca de duas horas, o que é louvável). Incrivelmente, apenas uma pessoa morreu: um palestino de Gaza que estava na Cisjordânia.
O ataque me pegou em uma estação de trem e fui forçada, junto com cerca de 500 pessoas, a permanecer sentada por 50 minutos no corredor do subsolo, com as costas contra a parede.
Sem conexão com a internet, ficamos todos ali rendidos e imaginando quando seriam interrompidos os maiores estrondos que já ouvimos até hoje, um barulho bem diferente do provocado pela ação do Domo de Ferro (escudo antiaéreo israelense) contra outros tipos de mísseis. É preciso dizer que, no entanto, não houve pânico, apenas apreensão.
O Irã declarou que o ataque foi uma resposta ao assassinato de Ismael Haniyeh, líder do Hamas morto por Israel em solo iraniano em 31 de julho, do líder do Hezbollah Hassan Nasrallah e de outro oficial da mesma organização. Nos últimos dias, Khamenei encontra-se escondido em um bunker aguardando a reação de Israel, que ainda não sinalizou o que pretende fazer. Há várias possibilidades.
As opções de Israel
É possível apenas estimar o que Netanyahu pretende oferecer como resposta, ainda mais após duas semanas de ações surpreendentes contra o Líbano. Caso busque uma reação pontual (o que é pouco provável), atacará apenas as bases de lançamento dos 180 mísseis balísticos lançados contra Israel, os quais carregavam entre 300 e 700 quilos de material explosivo. Talvez opte por ampliar o ataque atingindo também outras instalações militares. Ou, ainda, vá mais longe, destruindo a usina atômica em construção no Irã, a ilha que abriga o porto por meio do qual toda a sua produção de petróleo é exportada ou os poços de petróleo em si. Essas duas últimas opções fariam o Irã submergir em uma crise econômica feroz e interromperia o fluxo do financiamento de organizações terroristas pelo mundo, como o Hezbollah e o Hamas. Por outro lado, provocariam uma crise no preço do petróleo ou até mesmo um desastre ecológico, que, digamos, não colaborariam para a imagem de Israel no mundo.
Invasão do Líbano por terra
Enquanto isso, o Exército de Israel continua focado na destruição da estrutura terrorista do Hezbollah no sul do Líbano. Para terror da população israelense, que detesta mais do que qualquer outra coisa ver seus soldados em solo inimigo (lembrando que as Forças Armadas são formadas pela própria população), o país iniciou recentemente uma incursão terrestre, já que o Hezbollah se vale da mesma estratégia do Hamas, utilizando estruturas e áreas urbanas civis e operando por meio de túneis de difícil acesso por ar.
A geografia do sul do Líbano é montanhosa, os terroristas do Hezbollah são muito mais bem preparados do que os do Hamas, e a aproximação do inverno tipicamente chuvoso do Oriente Médio logo transformará tudo em um imenso lamaçal. Tudo isso dificulta, em muito, a atuação dos soldados, e já há entre eles um morto e 38 feridos até esse momento.
No entanto, está claro que não existe outra opção, já que a intenção do comando Radwan – a força de elite do Hezbollah – era invadir a região da Galileia em Israel com 6,5 mil homens e repetir o ataque de 7 de outubro. Apenas a Inteligência israelense contava com essa informação até a invasão terrestre. Nos últimos dias os soldados encontraram, nos túneis escavados em rocha (e não na areia, como no caso da Faixa de Gaza), mapas e documentos que confirmam o plano.
O clima entre os israelenses é tenso e nem as comemorações do Ano-Novo Judaico ajudam a dissipá-lo. Um enorme número de reservistas foi convocado nesses últimos dias, o que espalha a preocupação entre as famílias – e tudo isso acontece às vésperas do próximo 7/10, que marca um ano desde a mortífera invasão do Hamas ao sul do país. A maioria da população apoia o governo em todas as frentes e, acreditem se quiser, também os iranianos: segundo pesquisas, cerca de 85% deles querem a destruição do regime dos aiatolás e veem em Israel um aliado para esse objetivo.
Seja como for, o Ano-Novo está aí para renovar as energias e nos lembrar de que a paz é possível – mesmo que seja à força, como exigem nossos vizinhos.