O que o mundo assistiu nesta semana foi uma mudança crucial na postura do governo de Benjamin Netanyahu frente aos inimigos de Israel: pela primeira vez em sua curta história, o país deixou de adotar uma posição defensiva ou de contenção para atacar mortalmente os grupos que o ameaçam. Isso explica o feroz ataque ao sul do Líbano e o assassinato de todos os líderes do Hezbollah – incluindo seu líder Hassan Nasrallah.
O Hezbollah é um inimigo antigo de Israel. O último conflito entre os dois em 2006 resultou na Resolução 1701 da Organização das Nações Unidas, a qual exige que o grupo terrorista mantenha-se longe da fronteira israelense. Ela nunca foi cumprida de fato pelo grupo terrorista, o que leva os israelenses a se perguntarem o que a Unifil, braço da ONU a cargo de manter o silêncio nessa divisa, tem feito ao longo dos últimos quase 20 anos.
Se até hoje os dois oponentes se enfrentaram como em uma partida de pingue-pongue, agora Israel está utilizando todas as suas cartas, unindo inteligência e força bélica. Aliás, tudo indica que justamente por causa desse histórico anterior Nasrallah não temeu permanecer no Líbano e convocar uma reunião que incluiu também oficiais da guarda revolucionária iraniana, mortos no mesmo ataque.
Surpreendentemente, até mesmo aqueles que não defendem Israel entenderam os motivos que o levaram a essa ação. Menos surpreendente é a reação de outros que o acusam pelo acirramento do conflito atual, como o secretário-geral da ONU, António Guterres. Este, como sempre, não se manifestou durante os 11 meses em que Israel foi atingido pelo disparo de 8 mil mísseis do Hezbollah que destruíram vilarejos e cidades e forçaram a evacuação de 80 mil moradores do norte de Israel, mas apelou pelo cessar-fogo frente à reação de Israel.
A lingua da força
O Oriente Médio usa uma linguagem diferente do mundo ocidental, a qual Israel, até essa semana, recusava-se em adotar. As palavras têm aqui significados diferentes: para o mundo fundamentalista árabe, “acordo” é sinônimo de “fraqueza” e, para “cessar-fogo”, utiliza-se o termo hudna – em árabe, o termo representa um momento de recuperação e fortalecimento para uma retomada mais violenta do conflito. “Honra” é palavra de ordem, e a “humilhação” – e não a morte, como para os ocidentais – é a consequência mais temida em um conflito. “Capitulação” ou “soberania judaica” também não fazem parte do léxico de árabes fundamentalistas.
A surpresa do momento é o fato de Netanyahu ter trocado seu dicionário, para a felicidade de muitos israelenses (não todos, porque a palavra “unanimidade” sumiu do léxico local há tempos) exaustos por verem-se criticados mesmo quando em posição de defesa.
O que vem pela frente ainda é uma incógnita. O Irã, como sempre, esbraveja e afirma que destruirá Israel, muito embora seja difícil saber como o fará sem contar com seu braço armado local, o Hezbollah. No entanto, o Oriente Médio é cheio de surpresas, como se viu nessas últimas semanas, e aprender a atuar dessa forma é um processo que tem ajudado, e muito, na sobrevivência de Israel em um dos piores momentos de sua trajetória.
E o Hamas?
O conflito no norte dominou a mídia, o que faz parecer que a guerra entre Israel e Hamas acabou. Infelizmente, não: 101 reféns ainda encontram-se prisioneiros em Gaza e, enquanto continuarem por lá, a guerra aparentemente não acabará. Netanyahu continua contrário à negociação de um cessar-fogo que preveja a retirada do exército de Israel e a devolução em fases com prazos não definidos de todos os sequestrados, vivos e mortos.
Seja como for, vivemos aqui um momento diferente e de esperanças renovadas, apesar da incerteza que ainda paira sobre o futuro do conflito em Gaza. A torcida é para que os libaneses saibam aproveitar a oportunidade para livrarem-se do que restou do Hezbollah em seu território e passem a cultivar a paz e a prosperidade em uma aliança que é totalmente viável com seu país vizinho.
Se Deus quiser – ou Inshallah.