Ao longo de 11 meses – mais especificamente, desde o dia seguinte à invasão do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro –, o grupo terrorista Hezbollah, alocado no sul do Líbano, tem atacado o norte do país. Foram lançados 8 mil mísseis até o momento. Israel respondeu com bombardeios localizados, atingindo especificamente alvos militares próximos à fronteira entre os dois países. Ali estão concentrados os combatentes do Hezbollah, contrariando a Resolução n. 1.701 da Organização das Nações Unidos (ONU), assinada em 2006, que obriga a organização a manter-se a uma distância mínima de 30 km da divisa.
Há cerca de duas semanas, o governo israelense anunciou que começaria a agir com mais determinação e, a partir dos últimos dias, os céus do sul do Líbano ficaram semelhantes a uma noite de réveillon no Rio de Janeiro: as investidas israelenses visam à destruição de arsenais e de locais de lançamento de foguetes e, a cada ataque, centenas de mísseis ali estocados explodem pelos ares. Até o momento, Israel já realizou 1,6 mil bombardeios aéreos.
Essa nova e intensiva operação militar ganhou em Israel o nome de Northern Arrows, ou Flechas do Norte, em tradução livre, resultando em cerca de 500 mortos e 1,4 mil feridos no Líbano. A ela, o Hezbollah, que possui entre 150 mil e 200 mil mísseis apontados para o país vizinho, responde com bombardeios que agora se estendem até a Galileia, próximo à área central e superpopulosa de Israel, que contabiliza até o momento cerca de 50 mortos e 300 feridos.
Israel eliminou, nessas últimas semanas, dezenas de oficiais de alto escalão do Hezbollah e tirou de ação mais de 3 mil combatentes, com a ação promovida na semana passada em que pagers, walkie-talkies e celulares usados por eles explodiram como resultado de uma operação de inteligência que foi considerada como a mais surpreendente e eficaz da história.
De novo, a vida de pernas pro ar
A população civil dos dois países paga um preço alto pelo conflito. A região norte de Israel foi evacuada em outubro do ano passado e, até o momento, cerca de 80 mil moradores da área estão residindo provisoriamente no centro do país – e é esta a situação que o governo de Israel precisa e pretende mudar. Enquanto isso, milhares de cidadãos libaneses deixaram o país nas últimas semanas e outros milhares, aqueles que vivem no sul, estão se deslocando para a área central em busca de segurança.
Diversas companhias aéreas suspenderam voos de e para os dois países. O Exército de Israel, assim como fez na Faixa de Gaza, realiza milhares de ligações telefônicas todos os dias pedindo que os moradores do sul do Líbano deixem a região. Além disso, lançou uma campanha pelas mídias sociais explicando que seu inimigo não é o Líbano, mas sim o Hezbollah – o mesmo que fez em Gaza em relação ao Hamas.
No mundo, como era de se esperar, as reações são majoritariamente contra Israel. Aparentemente “esquecendo” que o país vem sendo bombardeado pelo Líbano há quase um ano – o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirma fazê-lo em solidariedade ao povo palestino –, governos e entidades criticam a escalada de tensão na região. Novamente Israel é visto como vilão pela ONU e sujeito a sanções e condenações. A estratégia de explosão de equipamentos eletrônicos utilizados por combatentes do Hezbollah foi classificada por muitos como terrorismo, muito embora ela não atenda a uma das premissas que a caracterizariam como tal: o alvo era os combatentes, e não civis.
O que acontece hoje não é nada que Israel já não tenha visto no passado, nessa guerra e em todas as outras. E nunca é demais lembrar que, em seus 76 anos de vida, o Estado judeu não iniciou um único conflito. Se alguém duvida, basta checar a informação na internet.
Para piorar a situação, o Hezbollah copiou do Hamas a estratégia de escudos humanos, escondendo em instalações civis, incluindo prédios de moradores, seus arsenais e bases de lançamento.
O cinismo iraniano
O Irã é o mentor e financiador dos dois grupos terroristas hoje em guerra contra Israel. E justamente dele vem a resposta mais cínica em relação ao conflito. O presidente iraniano Masoud Pezeshkian, eleito em julho deste ano e considerado “reformista e moderado”, afirmou que “queremos viver em paz, não gueremos guerra. Israel é quem busca criar este conflito aberto”.
Enquanto ele faz esse tipo de afirmação para o mundo, internamente seu discurso é outro. Pezeshkian divide forças com – embora o correto seja dizer que ele responde a – o supremo líder religioso do Irã, aiatolá Ali Khamenei, o principal responsável pela atual guerra em curso. Em diferentes ocasiões ao longo dos meses, o presidente Pezeshkian pediu moderação ao aiatolá, lembrando que o Líbano e seus cidadãos – dos quais, é sempre bom lembrar, cerca de 32% são cristãos – não querem experimentar novamente uma guerra com Israel. Seus pedidos não encontram resposta, e o povo libanês continua à mercê do ódio de Khamenei a Israel.
Tudo indica que a erradicação do Hezbollah do Líbano, que já foi uma das nações mais desenvolvidas e belas do Oriente Médio, não depende de forças externas: o próprio povo libanês precisa extirpar este câncer contando com a ajuda internacional. Resta saber quem lhe estenderá a mão.