Nessa semana, as atenções da atual guerra travada por Israel contra sete frentes de batalha – Gaza, Cisjordânia, Líbano, Irã, Síria, Iraque e Iêmen – mudaram de direção. Uma ação atribuída ao Mossad, agência de serviço secreto de Israel (embora ela não tenha assumido a autoria), provocou a explosão de mais de 5 mil pagers utilizados por combatentes do grupo terrorista Hezbollah no Líbano. Um dia depois, o mesmo ocorreu com celulares e walkie-talks. Membros do grupo localizados na Síria também foram atingidos.
O evento feriu mais de 4 mil combatentes, incluindo 18 do alto escalão do Hezbollah, e provocou a morte de dezenas. As explosões geraram vários incêndios, especialmente em apartamentos e lojas de celulares, espalhando enorme pânico entre a população libanesa.
Já entre os israelenses, o evento foi festejado da forma habitual: com humor. Em poucos minutos, a mídia social encheu-se de memes sobre o tema, que também foi o centro das atenções em toda a mídia local.
No entanto, a celebração em Israel durou pouco. Na mesma semana, mais quatro soldados israelenses foram mortos em Gaza, entre elas uma soldada – a primeira mulhera morrer nesta guerra em território inimigo: a paramédica Agam Naim, de 20 anos. Com o grupo Hamas praticamente desmobilizado e a negociação de um cessar-fogo ainda longe de ser concluída, Israel continua vivendo o drama da falta de expectativa em trazer de volta para casa os 101 reféns que permanecem prisioneiros na Faixa Gaza.
Um tesouro de informações
Israel obteve resultados importantes com o ataque, que foi considerado por analistas internacionais como o mais inteligente da história. Em primeiro lugar, atingiu primordialmente terroristas do Hezbollah, e obrigou o grupo a abandonar meios eletrônicos de comunicação – celulares, pagers e walkie-talkies – por temor de novas explosões. O grande número de feridos, especialmente na área dos olhos, braços ou na altura da cintura (naqueles que carregavam os equipamentos nos bolsos), criou caos entre as unidades de combate. Fora isso, os hospitais do país estão com sua capacidade de atendimento esgotada.
O evento foi noticiado com destaque em todo o mundo.
Outro resultado importante diz respeito aos dados que estão sendo colhidos em função do mapeamento, realizado por Israel, de mortos, internações hospitalares, postagens em mídias sociais, imagens de notícias e registros médicos, conectando as informações sobre militantes do grupo Hezbollah, assim como seus amigos, familiares, locais de trabalho e residência etc. Um verdadeiro tesouro de informações, o qual levaria anos para ser coletado.
Um plano de mestre
Os equipamentos haviam sido adquiridos há cerca de cinco meses pelo Hezbollah. Foram fabricados por uma empresa de Taiwan, que utilizou os serviços de uma fornecedora baseada em Budapeste, na Hungria, com a qual havia selado recentemente um acordo. A empresa já não existe. A explosão foi provocada por poucas gramas de material explosivo que foram inseridas nos equipamentos no momento de sua fabricação e detonado por aquecimento. Mais informações estão sendo divulgadas a conta-gotas.
O governo israelense prometeu diversas vezes, nas últimas semanas, uma solução para a situação crítica que vivem os habitantes do norte de Israel, evacuados de suas casas para o centro do país desde a semana de 7 de outubro de 2023. Em números atualizados até 25 de agosto, mais de 8 mil mísseis lançados pelo Hezbollah resultaram em 43 mortos e 271 feridos, além de causar 780 incêndios de diferentes proporções nas florestas locais – essa é a área mais verde do país e, durante o verão, a vegetação encontra-se extremamente seca e mais suscetível a grandes queimadas. Algumas cidades, como Kiriat Shmona e Metula, apresentam um nível considerável de destruição.
A ação parceria preparar o terreno para um grande ataque militar israelense contra o Líbano, o que até o momento não se realizou, com o objetivo de forçar os combatentes do Hezbollah a se afastarem da fronteira entre os dois países. Em canais de rádio e TV, os habitantes do Norte declararam sua decepção.
Uma coisa é certa: esse tipo de tática eleva a moral dos israelenses, aqui e no mundo. No entanto, não substitui uma manobra militar. Resta-nos aguardar as cenas dos próximos capítulos, sem nos distanciarmos dos bunkers.