O volume de notícias falsas envolvendo Israel prejudica todos os processos possíveis
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O volume de notícias falsas envolvendo Israel prejudica todos os processos possíveis


A guerra contra a desinformação não é nova para  Israel e muito menos para os judeus. Ela começou há quase dois milênios, a partir do momento em que os judeus foram acusados, no então Império Romano, de serem os responsáveis pela morte de Jesus Cristo. Depois disso, surgiram inumeráveis libelos, ou seja, a divulgação de mentiras a respeito dos judeus, que provocam reações calamitosas, tais como a utilização de sangue de criancinhas cristãs para a produção do pão ázimo, com o qual nos alimentamos durante a festa de Pessach, passando pela culpa pela propagação da peste negra (ambos durante a Idade Média), chegando até o século passado quando, na era do nazismo, os judeus foram culpados por todas as agruras vividas pelo povo alemão como resultado da Primeira Guerra Mundial. 

O preço da desinformação foi sempre alto: perseguição, tortura, assassinato e, no  Holocausto, exclusão da sociedade local, aprisionamento, tortura e, por fim, o assassinato de 6 milhões de judeus.

Após a criação do Estado judeu, em 1948, a guerra contra a desinformação passou a ser travada também pela única nação judaica do mundo. Em tempos de guerra como os atuais,  Israel ganha as manchetes dos meios de comunicação em todo o mundo por motivos que parecem impossíveis de serem explicados, uma vez que no momento ocorrem outros conflitos muito mais sangrentos e de maior impacto do que o local, como o entre a  Rússia e a Ucrânia, para citar apenas um exemplo.

BBC, campeão de fake news

O volume de notícias falsas envolvendo Israel prejudica todos os processos possíveis – incluindo o de paz. A BBC, tradicionalíssima empresa de comunicação inglesa, é o primeiro exemplo que vem à mente por conta da extensão de sua campanha contra Israel e contra a verdade. 

Uma pesquisa realizada pelo veículo The Telegraph, sob a coordenação do advogado inglês Trevor Asserson, com a participação de uma equipe de 20 advogados e 20 cientistas de dados que se valeram da inteligência artificial, apontou que a BBC violou mais de 1,5 mil vezes suas próprias orientações editoriais no que diz respeito à imparcialidade e à precisão na cobertura de notícias em todas as suas mídias: televisão, rádio, portal, podcasts e mídia social. Entre os exemplos da pesquisa está a associação da palavra “genocídio”, com Israel comparado ao Hamas, 14 vezes. 

Pois é, o  Hamas, aquele grupo terrorista que invadiu Israel em 7/10, feriu, torturou, assassinou e sequestrou indiscriminadamente homens, mulheres, idosos e bebês que estavam dormindo em suas casas, passeando de bicicleta ou participando de um festival de música. E nunca é tarde para lembrar: quase um ano depois, 101 reféns continuam prisioneiros em  Gaza.

Não apenas a BBC, mas também importantes agências de notícias, cujas informações são retransmitidas pela mídia mundo afora – entre eles a Reuters (alemã) e a France Press (francesa) –, e conhecidos veículos de imprensa, tais como Washington Post, CNN ou Sky News, não acreditam que seja problemático confiar em informações divulgadas pelo chamado “Ministério da Saúde de Gaza”, que é coordenado por quem? Pelo  Hamas.

Um exemplo clássico foi o pretenso  ataque de Israel em outubro passado a um grande hospital de Gaza, Al-Ahli Arab, que teria matado mais de 500 palestinos e que provocou a ira mundial. Poucas horas depois, foi confirmado que o míssil havia atingido, na verdade, o estacionamento do hospital, vitimado algumas dezenas (e, sim, qualquer morte como efeito colateral da guerra é trágica) e que se tratava de um míssil mambembe e falho, deflagrado por outro grupo terrorista islâmico baseado em Gaza, a Jihad Islâmica. 

Convenhamos: quem lê notícias que trazem a correção de informações falsas? E mais: quem as publica? Uma vez divulgada, a mentira torna-se verdade.


Noticiários contra a paz

Mas não apenas a más notícias se restringem as consequências terríveis da divulgação de fake news: boas notícias, quando mentirosas, também causam enormes estragos. É isso que Israel vive toda vez que seus aliados – usemos como exemplo os Estados Unidos – divulgam estar otimistas e próximos à conclusão de um acordo de cessar-fogo com objetivos eleitorais (é sabido que o fim da atual guerra pode garantir a eleição da  candidata democrata Kamala Harris) quando não há nenhum sinal real de que isso vá acontecer. Nessa hora, a culpa pelo fracasso da negociação recai, como sempre, sobre Israel.

Após o recente início da ofensiva de  Israel contra o Hezbollah no Líbano, depois de quase um ano de ataques diários ao norte do país, começamos a ver o mesmo fenômeno acontecendo. A posição do governo israelense é clara: para um cessar-fogo, o grupo terrorista precisa não apenas suspender os ataques, mas também distanciar-se da fronteira entre os dois países conforme definido na Resolução 1701 da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2006. Outras medidas também são exigidas, como o fortalecimento de forças internacionais que garantam o silêncio nessa divisa. 

No entanto, em lugar de trabalhar com a verdade – ou seja, o  Hezbollah não dá sinais de interesse em aceitar condições básicas de Israel para o cessar-fogo –, países que se colocam como negociadores do conflito (agora a França incluiu-se nesse processo) espalham notícias sobre um falso acordo entre os oponentes. Isso força o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu , a vir a público para reafirmar que não, essa intenção não existe. E, de novo, sobre quem recai a culpa do aumento da guerra? Israel, claro.

A mídia tornou-se um inimigo da paz no mundo. Em vez de transmitir informações reais e prover conteúdo verdadeiro para que o público possa posicionar-se de acordo com seus valores, ela faz campanhas com interesses próprios e cria mais obstáculos à solução de conflitos.

Isso precisa acabar. E cabe a você, caro leitor, ficar atento ao que lê e procurar fontes fidedignas, as quais tornam-se cada vez mais raras. Infelizmente.

** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

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