A devastadora notícia do assassinato de seis reféns israelenses pelo Hamas está sendo chamada em Israel de “o segundo 7 de outubro”. Não há uma única pessoa aqui que tenha conseguido digeri-la, e ela se tornou ainda mais sombria e estarrecedora com a divulgação das condições sob as quais eles viveram durante pelo menos as últimas semanas de seus 11 meses de cativeiro.
O Exército de Israel divulgou vídeos mostrando o local em que permaneceram aprisionados Hersh Goldberg-Polin (23 anos), Eden Yerushalmi (24), Ori Danino (25), Alex Lobanov (32), Almog Sarusi (27) e Carmel Gat (39). Os cinco primeiros foram sequestrados no Festival Nova, no qual mais de 350 jovens foram assassinados, enquanto a última foi sequestrada em uma das comunidades agrícolas do sul de Israel, o kibbutz Beeri, que foi palco de um dos maiores massacres no dia 7/10.
O túnel em que foram encontrados não lhes permitia ficar em pé ou se deitarem; sem ventilação, sem banheiro, sem nenhum resquício de luz natural, 20 metros abaixo do solo. Havia no local algumas roupas, um pequeno gerador, garrafas plásticas com urina e restos secos de comida.
Agora, resta aos israelenses digerir o erro da estratégia do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que prega incessantemente que a única forma de trazer de volta os 101 reféns restantes (parte deles já mortos) é por meio da pressão militar, já que a aproximação do Exército pode resultar, como nesse caso, justamente no contrário. Tudo indica que os seis foram assassinados a tiros por seus guardiões no dia em que soldados localizaram e resgataram com vida o refém israelense muçulmano Farhan Al-Qadi, de 52 anos, que estava preso a 800 metros do local onde eles eram mantidos.
Esse fato provocou uma mudança importante na percepção da população em relação ao tema, e atualmente cerca de 60% dos israelenses apoia o cessar-fogo, apesar das terríveis consequências dessa atitude para a segurança de Israel.
Frentes de guerra inflamadas
Segundo o Hezbollah, o fim da guerra em Gaza os levaria a abandonar os ataques diários com mísseis ao norte de Israel. A maior parte da população dessa região do país, cerca de 80 mil pessoas, está desde o dia 7 de outubro deslocada de suas casas e vivendo na região central de Israel. Até agora, o governo não apontou nenhuma solução possível para a volta desses cidadãos para casa.
Por outro lado, a Cisjordânia, território conquistado da Jordânia por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, onde vivem cerca de 2,5 milhões de palestinos e 450 mil israelenses, está terrivelmente inflamada. Em face de sua derrota militar, o Hamas convocou a população à realização de ataques terroristas individuais, no modelo do que aconteceu durante as duas intifadas (insurreições dos palestinos contra Israel marcadas por ataques suicidas em ônibus, pubs e outros locais públicos), que vitimaram mais de mil israelenses entre os anos 1980 e 2000.
A resposta de combatentes do Hamas e de outras organizações terroristas alocados na Cisjordânia, como a Jihad Islâmica, foi imediata. Somente na última semana, seis israelenses foram mortos em ataques a tiros e um soldado, por atropelamento. O Exército e o serviço secreto interno de Israel, conhecido como Shin Bet, realizaram nos últimos meses mais de 11 mil ações antiterrorismo.
Em Jenin, cidade ao norte da Cisjordânia totalmente controlada pela Autoridade Palestina, foi realizada uma manifestação na qual terroristas armados bradavam pelo assassinato de judeus. Estas são imagens apavorantes, às quais os israelenses sonharam não assistir mais.
Turbulências na fronteira com a Jordânia
Também a fronteira entre Israel e Jordânia – que conta com 309 quilômetros, em sua grande parte sem nenhum sistema de segurança – está sujeita a turbulências. Nesta semana, três civis israelenses foram mortos a tiros na passagem fronteiriça Allenby. O autor do atentado foi um civil jordaniano.
Diante de mais essa onda interna de violência, os israelenses discutem entre si qual a saída possível para a atual situação. Os que buscam soluções pacíficas se lembram de uma frase famosa do primeiro-ministro de Israel entre 1948 e 1953, David Ben Gurion, que dizia que “em Israel, quem não acredita em milagres não é realista”. Já os que não enxergam a paz como uma possibilidade, apostam no slogan de Bibi Netanyahu: “Sem uma espada, não se pode viver no Oriente Médio”.
Seja qual for a crença, não há dúvidas: Israel inteiro é no momento uma mãe em luto.