Em 2023, o presidente Lula tomou posse em seu terceiro mandato após uma campanha eleitoral muito baseada no discurso pró-diversidade na política, numa clara tentativa de contraponto a Jair Bolsonaro, cujo discurso anti-direitos humanos era muito gritante.
O que Lula provavelmente não esperava é que sua relação com o Congresso Nacional fosse dificultar tanto a composição de seu governo, quando o Centrão de Arthur Lira começou a cobrar cargos para não atrapalhar os planos do Governo na Câmara.
Em sua busca por poder, os parlamentares miraram diretamente as mulheres que foram escolhidas por Lula para a Esplanada dos Ministérios. Ao longo do ano, as ministras Ana Moser, dos Esportes; do Turismo, Daniela Carneiro; e a presidente da Caixa Econômica, Rita Serrano, caíram. Foram demitidas e, sem exceção, substituídas por homens .
Além disso, vale ressaltar que as ministras que seguem no governo não estão seguras em seus cargos. A busca do Centrão por espaços no governo constantemente mira outras mulheres , especialmente Marina Silva , ministra do Meio Ambiente, Nísia Trindade, ministra da Saúde , e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara .
Daniela Carneiro
No dia 6 de julho, a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro, entregou sua carta de demissão ao presidente Lula, e foi substituída pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA).
A demissão foi uma longa “novela” que começou quando ela decidiu se desvincular de seu partido, o União Brasil, no mês de abril após ter sofrido o que ela definiu como um assédio por parte da direção nacional da sigla.
A saída de Daniela do partido causou um problema de governabilidade, quando o União Brasil começou a pressionar Lula para voltar a ocupar a pasta , por meio da demissão de Daniela, e sua substituição por um nome da sigla.
Após deixar o comando do ministério, Daniela Carneiro foi nomeada vice-líder do governo no Congresso Nacional no dia 29 de setembro.
Ana Moser
A mais ruidosa dentre as demissões de ministras do governo certamente foi a de Ana Moser. A ex-jogadora de vôlei sofreu um longo processo de fritura. Ela foi substituída por André Fufuca (PP-MA), líder da bancada do PP na Câmara .
Após a divulgação de vídeos em que ele pedia votos para o ex-presidente Jair Bolsonaro , Fufuca afirmou que nunca foi bolsonarista, e que é “mais aliado do governo, inclusive, que muitos integrantes do PT.”
No dia 5 de setembro, Ana Moser foi ao Palácio do Planalto se reunir com o presidente Lula . Após 50 minutos de conversa, a saída dela do posto de ministra foi oficialmente anunciada por meio de uma nota que não trouxe, como seria de praxe, nenhum agradecimento pelos serviços prestados pela ex-atleta.
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na tarde desta quarta-feira (6/9) com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com os deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Rep-Pernambuco). Os deputados foram convidados, respectivamente, para os ministérios do Esporte e dos Portos e Aeroportos, e aceitaram o convite. A nomeação e posse serão realizadas no retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da reunião do G20. O ministro Márcio França assumirá a nova pasta das Micro e Pequenas Empresas.”
A oficialização da saída de Ana Moser gerou uma forte onda de críticas a Lula, por se afastar, na prática, do discurso de inclusão de mulheres na política que defendeu em sua campanha. Tudo ficou ainda pior depois que Moser se pronunciou, alegando “tristeza e consternação” .
“Tivemos pouco tempo para mudar a realidade do Esporte no Brasil, mas sei que entregamos muito, construímos muito e levamos a política do presidente Lula aos que tivemos contato de norte a sul deste país. Continuarei lutando e contribuindo para uma política pública de esporte que seja para todas, todos e todes. Agradeço aos que tiveram comigo percorrendo este caminho curto e árduo” , declarou a ex-ministra por meio de nota oficial.
O destino da ex-atleta no Governo Lula permaneceu incerto por um tempo, até que no mês de novembro ela assumiu um novo cargo .
Hoje, Ana Moser exerce a função de membro titular do Conselho Fiscal do Serviço Social do Comércio (Sesc). Ela substituiu o ministro da Previdência, Carlos Lupi, como representante do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no colegiado.
Rita Serrano
A terceira mulher demitida por Lula foi Rita Serrano , que ocupava o cargo de presidente da Caixa Econômica Federal - um espaço extremamente cobiçado.
Funcionária de carreira da Caixa, Rita Serrano participa do Conselho de Administração da Caixa desde 2014 e é mestre em Administração e graduada em Estudos Sociais e História, com especialização em Governança Corporativa para conselheiros. Ela também foi presidente do Sindicato dos Bancários do ABC entre 2006 e 2012, e coordena o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas desde 2015.
A demissão foi oficializada em outubro, para ceder o espaço de Rita a Carlos Antônio Fernandes, indicado da “cota pessoal” do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) .
O novo presidente da Caixa é funcionário de carreira do banco e já trabalhou com integrantes do PP em outros governos petistas. A reunião, segundo informações do portal Metrópoles, durou cerca de 50 minutos e contou com a presença do ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Em meio às duras críticas que o governo recebeu pela decisão de demitir a presidente da Caixa, Rita Serrano veio a público afirmar que a experiência de chefiar um órgão tão relevante lhe mostrou como ser mulher em espaços de poder é desafiador.
“Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses a fio na imprensa. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e entregar resultados, de que é possível ter um banco público eficiente e íntegro, de que é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política e ter relações humanizadas no trabalho.”