Ana Moser, ex-jogadora de vôlei, foi demitida do cargo de Ministra dos Esportes para dar lugar ao deputado André Fufuca
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Ana Moser, ex-jogadora de vôlei, foi demitida do cargo de Ministra dos Esportes para dar lugar ao deputado André Fufuca


Em 2023, o presidente Lula tomou posse em seu terceiro mandato após uma campanha eleitoral muito baseada no discurso pró-diversidade na política, numa clara tentativa de contraponto a Jair Bolsonaro, cujo discurso anti-direitos humanos era muito gritante. 

O que Lula provavelmente não esperava é que sua relação com o Congresso Nacional fosse dificultar tanto a composição de seu governo, quando o Centrão de Arthur Lira começou a cobrar cargos para não atrapalhar os planos do Governo na Câmara. 

Em sua busca por poder, os parlamentares miraram diretamente as mulheres que foram escolhidas por Lula para a Esplanada dos Ministérios. Ao longo do ano, as ministras Ana Moser, dos Esportes; do Turismo, Daniela Carneiro; e a presidente da Caixa Econômica, Rita Serrano, caíram. Foram demitidas e, sem exceção, substituídas por homens


Além disso, vale ressaltar que as ministras que seguem no governo não estão seguras em seus cargos. A busca do Centrão por espaços no governo constantemente mira outras mulheres , especialmente Marina Silva , ministra do Meio Ambiente,  Nísia Trindade, ministra da Saúde , e a ministra dos Povos Indígenas,  Sonia Guajajara .

Daniela Carneiro

No dia 6 de julho, a então ministra do Turismo, Daniela Carneiro,  entregou sua carta de demissão ao presidente Lula, e foi substituída pelo deputado Celso Sabino (União Brasil-PA). 

A demissão foi uma longa “novela” que começou quando ela decidiu se desvincular de seu partido, o União Brasil, no mês de abril após ter sofrido o que ela definiu como um assédio por parte da direção nacional da sigla. 

A saída de Daniela do partido causou um problema de governabilidade, quando o União Brasil começou a pressionar Lula para voltar a ocupar a pasta , por meio da demissão de Daniela, e sua substituição por um nome da sigla. 

Após deixar o comando do ministério, Daniela Carneiro foi nomeada vice-líder do governo no Congresso Nacional no dia 29 de setembro.

Ana Moser

A mais ruidosa dentre as demissões de ministras do governo certamente foi a de Ana Moser. A ex-jogadora de vôlei sofreu um longo processo de fritura. Ela foi substituída por André Fufuca (PP-MA), líder da bancada do PP na Câmara .

Após a divulgação de vídeos em que ele pedia votos para o ex-presidente Jair Bolsonaro , Fufuca afirmou que nunca foi bolsonarista, e que é “mais aliado do governo, inclusive, que muitos integrantes do PT.” 

No dia 5 de setembro, Ana Moser foi ao Palácio do Planalto se reunir com o presidente Lula . Após 50 minutos de conversa,  a saída dela do posto de ministra foi oficialmente anunciada por meio de uma nota que não trouxe, como seria de praxe, nenhum agradecimento pelos serviços prestados pela ex-atleta. 

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na tarde desta quarta-feira (6/9) com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com os deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Rep-Pernambuco). Os deputados foram convidados, respectivamente, para os ministérios do Esporte e dos Portos e Aeroportos, e aceitaram o convite. A nomeação e posse serão realizadas no retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da reunião do G20. O ministro Márcio França assumirá a nova pasta das Micro e Pequenas Empresas.”

A oficialização da saída de Ana Moser gerou uma forte onda de críticas a Lula, por se afastar, na prática, do discurso de inclusão de mulheres na política que defendeu em sua campanha. Tudo ficou ainda pior depois que Moser se pronunciou, alegando “tristeza e consternação” .

“Tivemos pouco tempo para mudar a realidade do Esporte no Brasil, mas sei que entregamos muito, construímos muito e levamos a política do presidente Lula aos que tivemos contato de norte a sul deste país. Continuarei lutando e contribuindo para uma política pública de esporte que seja para todas, todos e todes. Agradeço aos que tiveram comigo percorrendo este caminho curto e árduo” , declarou a ex-ministra por meio de nota oficial.

O destino da ex-atleta no Governo Lula permaneceu incerto por um tempo, até que no mês de novembro ela assumiu um novo cargo .

Hoje, Ana Moser exerce a função de membro titular do Conselho Fiscal do Serviço Social do Comércio (Sesc). Ela substituiu o ministro da Previdência, Carlos Lupi, como representante do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no colegiado.

Rita Serrano 

A terceira mulher demitida por Lula foi Rita Serrano , que ocupava o cargo de presidente da Caixa Econômica Federal - um espaço extremamente cobiçado. 

Funcionária de carreira da Caixa, Rita Serrano participa do Conselho de Administração da Caixa desde 2014 e é mestre em Administração e graduada em Estudos Sociais e História, com especialização em Governança Corporativa para conselheiros. Ela também foi presidente do Sindicato dos Bancários do ABC entre 2006 e 2012, e coordena o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas desde 2015.

A demissão foi oficializada em outubro, para ceder o espaço de Rita a Carlos Antônio Fernandes, indicado da “cota pessoal” do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL)

O novo presidente da Caixa é funcionário de carreira do banco e já trabalhou com integrantes do PP em outros governos petistas. A reunião, segundo informações do portal Metrópoles, durou cerca de 50 minutos e contou com a presença do ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Em meio às duras críticas que o governo recebeu pela decisão de demitir a presidente da Caixa, Rita Serrano veio a público afirmar que a experiência de chefiar um órgão tão relevante lhe mostrou como ser mulher em espaços de poder é desafiador. 

“Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses a fio na imprensa. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e entregar resultados, de que é possível ter um banco público eficiente e íntegro, de que é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política e ter relações humanizadas no trabalho.”

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