Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) "começa a ter a cara do governo" , o ministro da Educação, Milton Ribeiro, decidiu esclarecer a declaração do mandatário. Ele falou sobre o assunto ao participar de uma sessão da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (17).
"[O Enem] tem a cara, sim, do governo. Em que sentido? Sentido de competência, honestidade, seriedade... Essa é a cara do governo, é a cara do nosso governo. Nós não temos nenhum ministro preso, não temos nenhum caso de corrupção", disse Ribeiro.
Ao ouvir suas palavras, deputados na sessão reagiram com deboche. O governo Bolsonaro é marcado por algumas suspeitas de corrupção. Por exemplo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia trouxe à tona irregularidades no contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin
, o hoje ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, é acusado de participar de um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais
e o agora ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é suspeito de envolvimento num caso de exportação ilegal de madeira
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Quando conseguiu retomar a palavra, o ministro da Educação deixou o tópico corrupção de lado e frisou que não há "possibilidade de qualquer interferência" nas provas do Enem
. O exame será aplicado no próximo domingo (21) e no dia 28 de novembro. "Embora até por ordem e por questão de hierarquia, eu pudesse ter acesso, eu não posso achar que é anormal o ministro da Educação ter acesso à prova, como aconteceu no passado. Mas eu abri mão disso considerando as polêmicas que poderia gerar", defendeu.
O assunto veio à tona porque, há duas semanas, servidores do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao MEC e responsável pela realização do Enem, iniciaram uma debandada
. Ao todo, 37 funcionários pediram para deixar seus cargos comissionados contra o que chamaram de fragilidade técnica e administrativa da gestão máxima do Inep e acusações de assédio moral
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Posteriormente, uma reportagem do Fantástico revelou ainda denúncias de pressão ideológica na formulação das questões.
Foi em meio a esses fatos que Bolsonaro disse que o Enem passou a ter "a cara do governo". O presidente costumava reclamar de textos com viés social nas edições anteriores do exame, como quando chamou de "ridícula" uma pergunta cujo enunciado mencionava a desigualdade salarial
entre o jogador Neymar e a jogadora Marta.
Quanto aos pedidos de exoneração, o ministro Milton Ribeiro voltou a negar que o problema tenha ocorrido por uma interferência. Segundo ele, o que causou a debandada de servidores foi uma gratificação que alguns não teriam direito. "O que acontece é que existem alguns cuja função e a descrição dos cargos que eles exercem já contempla a montagem da prova, acompanhamento da prova... A que título, então, eles iriam ganhar mais R$ 40 ou R$ 50 mil/ ano do erário público, somando os seus salários?", indagou, de forma retórica. Os servidores refutam essa versão.
Ribeiro acrescentou ainda que não aceitou os pedidos de exoneração porque os servidores foram os responsáveis por preparar a prova. Sendo assim, ele disse que só discutirá a liberação dos cargos após a prova.