Guerra entre Rússia e Ucrânia completa 3 meses
Reprodução / Twitter - 18.05.2022
Guerra entre Rússia e Ucrânia completa 3 meses

A Rússia e a Ucrânia entram no terceiro mês de conflito nesta terça-feira. A guerra, iniciada com a invasão russa ao território ucraniano em 24 de fevereiro , já deixou milhares de mortos, feridos, refugiados e um rastro de destruição em diversas regiões.

De acordo com os últimos dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 6,5 milhões de pessoas já deixaram suas casas na Ucrânia na tentativa de fugir do conflito. A Polônia continua sendo o país que mais recebeu refugiados ucranianos, ultrapassando a marca de 3,5 milhões de pessoas que buscaram abrigo no país. Em seguida, conforme os registros, aparecem a Romênia (961,270), a própria Rússia (919,934), Hungria (644,474) e Moldávia (471,223).

Relembre, abaixo, os principais acontecimentos que marcaram esses três meses de guerra:

Invasão ao território ucraniano

Na madrugada do dia 24 de fevereiro,  o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou o que chamou de "operação militar especial" na Ucrânia . De acordo com o mandatário, a intenção da ação era de “desmilitarizar” o leste do país, mas não ocupar.

Pouco depois de Putin fazer um pronunciamento na TV estatal russa, explosões de larga escala já podiam ser ouvidas em diversas cidades ucranianas, incluindo a capital, Kiev, que amanheceu ao som de sirenes de alerta .

Os ataques começaram enquanto o Conselho de Segurança da ONU se reunia pela segunda vez na semana, com apelos de representantes de países-membros para que Moscou descartasse a ideia da ação na Ucrânia. Isso porque a tensão de uma possível invasão crescia desde novembro do ano passado, quando a Rússia mobilizou milhares de soldados para perto da fronteira ucraniana sob a justificativa de exercícios militares , em regiões como a ​​Transnístria, na Moldávia, e Bielorrússia.

Sanções

Desde o início do conflito, a Rússia vem sofrendo  sanções de diferentes tipos, nações e até mesmo de organizações e empresas. Países como Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos impuseram bloqueios que atingiram bancos e instituições financeiras, empresários, importação de petróleo e gás natural, entre outros.

As sanções também afetaram outras áreas, como o esporte e a cultura.

Primeira rodada de negociações

No dia 28 do mesmo mês, as delegações de Moscou e Kiev se reuniram por várias horas na região de Gomel, na Bielorrússia, perto da fronteira com a Ucrânia, na primeira rodada de negociações. As conversas, no entanto, acabaram sem um cessar-fogo imediato ou qualquer acordo .

Segundo a agência estatal russa RIA, representantes dos dois países ouviram as propostas um do outro, e concordaram em marcar uma segunda reunião.

Corredores Humanitários

Após a  segunda rodada de negociações entre os países, o representante ucraniano Mikhailo Podolyak afirmou em 3 de março que ambas as nações concordaram com a criação de corredores humanitários em áreas em conflito .

À época, segundo a agência de refugiados da ONU (ACNUR), um milhão de pessoas tinham fugido da Ucrânia. 

Depois do acordo, civis ucranianos começaram a deixar as cidades sitiadas, como Sumy e Irpin, em 8 de março . Os refugiados iam em direção a países vizinhos a oeste, como Polônia, Romênia, Eslováquia, Hungria e Moldávia.

Bombardeio a maternidade em Mariupol

Em 9 de março, a Ucrânia acusou a Rússia de atacar um hospital infantil e maternidade em Mariupol , deixando mortos e feridos no local. A Rússia negou a autoria do ataque e disse que o estabelecimento não estava mais funcionando e foi ocupado por combatentes ucranianos.

Ataques para o oeste da Ucrânia

Os ataques russos começaram a se expandir para o oeste da Ucrânia, disparando mísseis contra uma base em Yavoriv, perto da fronteira com a Polônia, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em 13 de março.

Mulher invade jornal russo em protesto

Em meio aos constantes bombardeios em cidades ucranianas, uma mulher invadiu o estúdio de um jornal na principal emissora de TV na Rússia em um ato contra a guerra .

A jornalista russa Marina Ovsyannikova entrou ao vivo com uma faixa que dizia: "SEM GUERRA. Pare a guerra. Não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você aqui", em 14 de março.

Ataques em Bucha

No início de abril, a Ucrânia responsabilizou a Rússia por ataques violentos em Bucha, uma pequena cidade localizada nos arredores de Kiev . Imagens divulgadas da região mostravam centenas de corpos de civis vistos nas estradas e nas ruas, além de uma vala comum com quase 300 pessoas.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acusou os russos de crimes de guerra, mas o Kremlin negou a autoria do ataque e afirmou que as imagens de corpos foram encenadas.

"Estes são crimes de guerra e serão reconhecidos pelo mundo como genocídio", disse Zelensky, em visita à cidade. "Sabemos de milhares de pessoas mortas e torturadas, com membros decepados, mulheres estupradas e crianças assassinadas".

Navio russo afunda no Mar Negro

Em 14 de abril, o  navio mais importante da Marinha da Rússia no Mar Negro, o Moskva, foi "seriamente danificado" após uma explosão e um incêndio que a Ucrânia diz terem sido causados por um ataque com mísseis. A Rússia, por outro lado, afirma que o navio afundou após uma explosão de munição.

Negociações estacionadas

A última conversa presencial entre as autoridades russas e ucranianas aconteceu há mais de um mês e meio, quando eles se reuniram em Istambul, na Turquia . No encontro, a Ucrânia se comprometeu a adotar a neutralidade. Em troca, Moscou retirou as tropas russas de Kiev e arredores. 

No último dia 17, o Ministério de Relações Exteriores da Rússia afirmou que as negociações de paz com a Ucrânia não estão acontecendo "de nenhuma forma", dizendo que o país "praticamente se retirou do processo de negociação".

Mais tarde, o conselheiro da presidência da Ucrânia, Mikhail Podolyak, confirmou a pausa nas conversas, porque, segundo ele, Moscou está relutante em aceitar que as condições que estavam em vigor no início da guerra mudaram substancialmente.

Suécia e Finlândia se candidatam à Otan

No início de maio, os governos da Finlândia e Suécia apresentaram interesse e, em seguida, um pedido formal para entrar para a Otan .

A decisão, que muda uma postura histórica das duas nações sobre suas neutralidades militares, tem apoio de praticamente toda a aliança, mas o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, é contra a adesão e disse que não vai aprovar a entrada dos países .

Embora o presidente russo Vladimir Putin tenha dito que a possível adesão dos países à aliança não cria ameaças para Moscou, na última semana, a Rússia cortou todo o fornecimento de gás natural à Finlândia . Segundo comunicado Gasum, estatal finlandesa, os russos prepararam represálias devido aos flertes com o ocidente e após o início das negociações com a Otan.

Em meio à tensão de uma possível ofensiva russa, a  Noruega, Dinamarca e Islândia informaram que vão dar apoio à Finlândia e à Suécia caso os países sofram represálias por parte da Rússia.

Soldado russo julgado

Nesta semana, começou o primeiro julgamento de crimes de guerra desde o início da invasão russa. Um soldado russo, de 21 anos, chamado Vadim Shishimarin, se declarou culpado por matar um homem de 62 anos desarmado . Segundo a denúncia, a vítima andava de bicicleta numa estrada na região de Sumy, no norte do país, quando foi assassinada.

Shishimarin pode ser condenado à prisão perpétua por crimes de guerra e assassinato premeditado.

Nesta segunda, o Ministério Público da Ucrânia informou que mais 48 soldados russos serão julgados por supostos crimes de guerra no conflito

De acordo com a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, as autoridades ucranianas têm uma lista de cerca de 600 suspeitos de envolvimento em crimes de guerra, sendo que dois casos envolvendo três pessoas já estão sendo julgados pelos tribunais. Ao todo, o país está investigando "mais de 13 mil" casos de supostos crimes de guerra cometidos pelas tropas russas, conforme Venediktova.

O que esperar daqui para frente?

Na visão de Rodrigo Fernando Gallo, doutor e professor de Política e Relações Internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), na entrada desse terceiro mês de guerra, a Ucrânia vive um momento em que sua capacidade defensiva tem sido duramente afetada, tanto pela perda de caças quanto pela quantidade de bombardeios que algumas regiões-alvo da Rússia têm sofrido, como Mariupol. No entanto, a resistência do país chamou a atenção do especialista.

"A Ucrânia demonstrou uma capacidade de resistência que eu não imaginei que existiria. E, ao mesmo tempo, acho que a Rússia talvez tenha adotado algumas estratégias conservadoras na invasão, já que não fizeram um ataque em escala total", afirma ao iG . "Talvez, o plano de fato tenha sido criado para que a Ucrânia fosse sendo atacada aos poucos, já prevendo que dessa forma a guerra se encerraria possivelmente a médio prazo."

Considerando as divergências entre os países e a falta de consenso, o professor diz que é natural que as conversas estejam paralisadas. Na visão dele, a Rússia só aceitaria uma negociação se, além de abrir mão de aderir à Otan, a Ucrânia também se rendesse.

"O governo ucraniano não demonstrou, até agora, interesse em abrir mão da sua soberania e da sua defesa. Então dificilmente o país vai se render, exceto se alguma coisa mais grave acontecer, mais catastrófico", explica. "Do contrário, é muito difícil que essa negociação aconteça."

O internacionalista também não acredita que outros países, como os Estados Unidos — que tem apoiado a Ucrânia com o envio de munições e armamento —, se envolva diretamente no conflito. "Isso está muito longe de acontecer por uma razão muito simples: a Rússia tem arma nuclear", pontua Gallo. "Se, eventualmente, os EUA atacassem a Rússia e houvesse uma reação nuclear por parte dos russos, os norte-americanos também poderiam usar armas nucleares e os dois lados seriam afetados por esse bombardeio".

De acordo com o especialista, o apoio não só dos EUA como dos outros países da Europa Ocidental, como Alemanha e Inglaterra, deve se limitar às sanções em diversos níveis, que vão testar a resistência da economia russa, e ao envio de armas e equipamentos militares.

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** Letícia Moreira é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. No Portal iG, trabalha nas editorias de Último Segundo e Saúde, cobrindo assuntos como cidades, educação, meio ambiente, política e internacional.

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