A França realiza neste domingo (10) o primeiro turno das eleições presidenciais . As pesquisas eleitorais mostram que a disputa deve ser a mais acirrada das últimas décadas no país e deve ser resolvida apenas em 24 de abril, data do segundo turno.
A pesquisa pesquisa Ipsos Sopra Steria Cevipof para o jornal Le Monde divulgada na quarta-feira (6) mostra o candidato à reeleição, Emmanuel Macron, liderando com apenas 5 pontos de vantagem em relação à representante da extrema-direita, Marine Le Pen. Jean-Luc Mélenchon, representante da esquerda, também vem subindo nas pesquisas e pode surpreender.
Se os números das pesquisas se confirmarem, Macron e Le Pen se enfrentarão no segundo turno, como aconteceu na eleição passada, em 2017. Segundo simulação da Ipsos, Macron seria reeleito com 54% dos votos.
Para Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, embora Le Pen venha diminuindo a vantagem em relação a Macron, o atual presidente tem boas chances de ser reeleito.
"Macron corre risco como todo político disputando reeleição, mas eu não vejo um grande risco, sobretudo porque existe um segundo turno. A gente tem que saber que, apesar de Macron parecer estar perdendo força nessa etapa final, existe uma segunda volta onde um só desses candidatos mais 'extremos' deve passar, e Macron pode aglutinar o outro lado no segundo turno. Mas risco sempre existe."
Uma eventual derrota de Macron fatalmente traria uma mudança significativa na política externa e interna da França. Isso porque o atual presidente é considerado um político moderado e dado a diálogos bilaterais. Já Le Pen e Mélenchon representam polos opostos: o conservadorismo e uma esquerda arraigada, respectivamente.
"Seria uma guinada, sem dúvida nenhuma. Hoje nós temos um centrista, e ele cederia espaço a um presidente ou à esquerda ou à direita, com todas as prerrogativas e idiossincrasias que um governo de direita ou esquerda podem carregar. O governo da chamada direita, mais conservador, menos afeito a questão das minorias, por exemplo, mais ligada a essa agenda conservadora certamente tomaria parte na França caso Le Pen ganhe. E um governo mais à esquerda, estadista, voltado às questões sociais sem a moderação e as pontes necessárias com setores produtivos seria evidentemente o que o Mélenchon traria para o governo", avalia Consentino.
Ariane Roder, Cientista política e professora do Coppead/UFRJ, chama atenção para as consequências de um eventual êxito de Le Pen no âmbito da política externa.
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"Em uma possível vitória de Le Pen, há possibilidade de haver uma retração da participação da França na União Europeia, quiçá sua saída, tal como vimos no Brexit. Neste caso, são esperadas ações de caráter mais nacionalistas, protecionista e menos atenciosas às ações e organismos multilaterais, com muito alinhamento ao discurso anti-globalismo da extrema direita no mundo", avalia a especialista.
Macron, Le Pen ou Mélenchon: o que muda para o Brasil?
O atual presidente Emmanuel Macron não esconde a antipatia que tem pelo chefe do Executivo brasileiro. O mandatário, aliás, chegou a colocar o Brasil como exemplo de nação descompromissada com as questões ambientais.
Por outro lado, Macron tem boa relação com o atual líder das pesquisas eleitorais no Brasil, Luis Inácio Lula da Silva . Em novembro do ano passado, Macron recebeu Lula em Paris com honras de um chefe de estado. O movimento do presidente francês irritou Bolsonaro, que alegou que o encontro no Palácio do Eliseu pareceu uma "provocação".
Para Ariane Roder, fica claro que Macron apoiaria Lula em caso de embate direto contra Jair Bolsonaro. Já Le Pen, embora mostre certo distanciamento do presidente brasileiro, certamente o apoiaria por convergências ideológicas.
Para Consentino, Bolsonaro é ainda mais 'extremo' que Le Pen. Segundo o professor, os cenários mais dificultosos para as relações bilaterais entre Brasil e França seriam: Le Pen vencendo na França e Lula no Brasil, ou Mélenchon vencendo na França e Bolsonaro no Brasil.
"É importante ressaltar que mesmo Le Pen não quer uma associação tão próxima com Bolsonaro. Ele é tão Sui generis nesse movimento conservador que assusta até alguns tradicionais representantes da extrema-direita. Uma vitória dela, porém, faria com que a França se tornasse mais um polo de diálogo ou de aproximação do presidente brasileiro. Ele tem a característica de colocar o interesse ideológico à frente do interesse nacional na sua política externa. E ele teria aí mais um ponto de contato", diz o professor.
"Para Bolsonaro, uma eleição de Mélenchon talvez criasse um muro ou um ponto de animosidade em relação a ele. E vice-versa: uma candidata de extrema-direita poderia criar embaraços com um eventual governo Lula. Os cenários trocados talvez fossem os fatores mais complicadores do ponto de vista de relacionamento entre os dois países. Mas obviamente a política externa comporta muito mais do que isso. A própria noção de criar um adversário, um inimigo pode ajudar ambos os lados. Mas se a gente pensar em alianças históricas com a França, seriam esses cenários trocados. Macron seria um ponto mais moderado ou seguro seja quem for eleito no Brasil em 2022."
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