A poucos dias da eleição à Presidência da França, no próximo domingo, seus dois principais candidatos tiveram uma terça-feira dedicada à campanha. A líder da extrema direita, Marine Le Pen, que diminuiu tanto a distância do presidente Emmanuel Macron nas pesquisas de opinião a ponto de abalar o mercado financeiro, procurou aliviar um pouco mais a sua imagem.
Enquanto isso, Macron estava no Noroeste do país, sorrindo para a multidão que gritava “Macron presidente!”. O presidente tenta reviver uma campanha sem brilho que começou muito mais tarde que a da sua rival.
Macron ainda está à frente nas pesquisas de opinião, mas sua rival eurocética vem diminuindo a diferença, e uma pesquisa divulgada segunda-feira colocou a vitória dele dentro da margem de erro, enervando os investidores antes do primeiro turno de domingo.
O índice CAC-40, que serve de referência para a bolsa de valores na França, perdeu terreno abruptamente na terça-feira, com operadores citando nervosismo nas eleições, enquanto o spread entre os títulos do governo francês e alemão de dez anos foi o maior em dois anos.
A analista Jessica Hinds, da Capital Economics, divulgou uma nota que deve ter agradado a Macron:
"Uma vitória de Le Pen certamente pioraria as finanças públicas e colocaria um ponto de interrogação sobre o lugar da França na Europa, enervando os investidores".
"Os mercados acordaram com Le Pen", disse Jerome Legras, chefe de pesquisa da Axiom Alternative Investments.
Os mercados e os eleitores. Desde sua retumbante derrota em 2017, quando Macron venceu o segundo turno com 66,1% dos votos, Le Pen trabalhou pacientemente para suavizar sua imagem, esforçando-se para aparecer como uma líder em potencial, em vez de uma oponente radical anti-sistema.
"Sempre tento ter a visão mais razoável possível e que defenda os interesses da França", disse Le Pen em entrevista à rádio France Inter, explicando suas opiniões sobre temas que vão da política externa às mudanças climáticas.
Foi assim que Le Pen continuou a melhorar em sua pesquisa pré-primeiro turno, chegando a 23%, contra 27% de Macron, segundo duas pesquisas divulgadas nesta terça-feira. Elas indicam ambos se qualificando mais uma vez para o segundo turno, em 24 de abril, mas colocam a vantagem de Macron em apenas 3 a 6 pontos.
Mesmo assim, cerca de 59% dos entrevistados esperam que Macron ganhe um segundo mandato, mostrou a pesquisa da OpinionWay e Kéa Partners para o jornal Les Echos e Radio Classique. Este ainda é o cenário mais provável, indicam todas as pesquisas. Pelo menos, uma sondagem diz que a candidata tornou-se a segunda personalidade da vida política mais querida do país, algo há muito considerado impossível na França.
'Fazendo campanha seriamente'
Le Pen começou sua campanha cedo, principalmente com reuniões em cidades pequenas, em um momento em que os eleitores dizem que querem que os candidatos estejam próximos deles.
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"Estou fazendo campanha seriamente, estou em campo há seis meses… outros optaram por não fazer campanha, incluindo o presidente da República", disse Le Pen ao France Inter.
A espetadela é pertinente. Macron só jogou o chapéu no ringue no início de março e, assim, teve poucos eventos de campanha. Para alguns críticos, parece ter se concentrado demais na guerra na Ucrânia, esquecendo-se do seu próprio eleitorado.
Mesmo querendo desintoxicar sua imagem, e esforçando-se muito nos últimos meses para enfatizar seu amor pelos gatos, Le Pen não mudou o núcleo do programa de seu partido de extrema-direita.
Nesta terça-feira, defendeu opiniões como o corte de uma série de benefícios sociais para estrangeiros, a preferência aos franceses para empregos e habitação social, a proibição do hijab em espaços públicos e a expulsão de estrangeiros desempregados da França.
"Ser francês deve dar a você mais direitos do que ser estrangeiro", disse ela.
Diga-se também que a candidatura de Eric Zemmour, que é ainda mais à direita do que Le Pen e muito franco sobre suas ideias anti-imigrantes inflamatórias, ajudou a candidata do Reagrupamento Nacional a suavizar sua imagem e deixá-la mais palatável para os eleitores.
Depois que as pessoas do próprio campo de Macron se preocuparam com o início tardio de sua campanha e com a audiência de Le Pen impulsionada por meses de angariação de pequenos eleitorados, o presidente passou horas desta terça-feira conversando com eleitores na praça principal de Spezet, na Bretanha, tirando selfies em meio a aplausos e um punhado de vaias.
"Você pode contar comigo... com minha determinação. Vou, nos próximos dias e semanas, buscar, um a um, a confiança de nossos compatriotas, para (ter o mandato e continuar a) agir nos próximos anos pelo nosso país, pela Europa", disse.
Macron concentrou um discurso de meia hora, espremido entre duas caminhadas, sobre o quão crucial a Europa é para a França — e criticou, sem nomear a concorrente, o persistente euroceticismo de Le Pen, enfatizando sua própria experiência como estadista.
"Os projetos que dão as costas à Europa são prejudiciais e mortais… para o nosso futuro", disse ele, concluindo com um retumbante “Vive la France, et vive l ’Europe!”
Embora Le Pen tenha abandonado os planos de deixar o euro, que desanimaram muitos eleitores no passado, a plataforma da candidata visa a esvaziar a União Europeia dando primazia à lei francesa e substituir o bloco por uma “Aliança Europeia das Nações”.