Na última quarta-feira (27), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, emitiu um novo alerta, com uma ameaça nuclear subentendida, durante uma discurso no Parlamento. Na oportunidade, ele disse: “Se alguém decidir se intrometer em eventos em andamento e criar ameaças estratégicas inaceitáveis para a Rússia, deve saber que nossa resposta será rápida como um raio”.
E completou: “Temos todos os instrumentos para isso, dos quais ninguém mais pode se gabar. E nós os usaremos, se preciso for. Quero que todos saibam: tomamos todas as decisões sobre essa questão”.
A declaração do presidente russo acendeu um alerta global para uma possibilidade real de ataques nucleares contra a Ucrânia e até contra outros países que forem de encontro aos interesses russos. Além de Putin, o governo local também está alinhado com as falas mais duras sobre uma possibilidade de iniciar uma nova fase no conflito.
Na quinta-feira (28), a porta-voz da Chancelaria russa, Maria Zakharova, acusou países ocidentais de incentivarem a Ucrânia a atacar alvos em território russo.
“Tais agressões contra a Rússia não podem ficar sem resposta. Mais provocações que levem a Ucrânia a atacar as instalações russas serão recebidas com uma resposta dura da Rússia. Não aconselhamos a continuarem testando nossa paciência”.
Além dela, o chefe da diplomacia da Rússia, Serguei Lavrov, já havia afirmado na terça-feira (26) que quer continuar as negociações de paz com a Ucrânia, porém, alertou para um "perigo grave e real" do conflito se transformar na Terceira Guerra Mundial. “O perigo é grave, é real, não pode ser subestimado", afirmou.
Entretanto, para Igor Gadelha, economista e doutor em relações internacionais, a possibilidade de uma guerra nuclear ou até mesmo uma terceira guerra mundial é pequena. “Eu acho muito difícil neste primeiro momento isso de fato acontecer, o que eu vejo hoje são só ameaças mesmo”.
Ele afirma que a posição russa pode ser encarada como uma defesa por conta da real possibilidade da entrada da Suécia e Finlândia na Otan. Segundo jornais finlandeses e suecos, os governos se preparam para apresentar um pedido para aderir à aliança em maio.
Segundo analistas, uma possível adesão dos países nórdicos à Otan teria como principais consequências um aumento do território da Otan e de sua fronteira com a Rússia, além da viabilização de melhores condições estratégicas para que a aliança defenda os Estados bálticos. Ou seja, a Rússia estaria ainda mais sitiada.
“A entrada deles (Finlândia e Suécia) na Otan é vista como uma realidade. A saída desses países da neutralidade se deu por causa da invasão da Rússia na Ucrânia. Então, a Rússia quer passar uma colocação inversa, como se isso fosse uma afronta, aí ela diz que vai usar armas atômicas, mas na verdade ela causou isso”, diz Igor Gadelha.
E complementa: “O que eu acho que de fato poderia colocar o mundo numa escalada nuclear mais real seria a Rússia testar armas atômicas em ilhas desabitadas ou locais sem pessoas, para mostrar do que ela seria capaz caso fosse necessário”.
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Sobre a questão de uma possível terceira guerra mundial, o especialista explica que enquanto o conflito estiver ocorrendo em territórios russos e ucranianos, não é possível se falar em guerra mundial, mas alerta que a possibilidade da Rússia escalar suas tropas para a Moldávia - que faz fronteira com a Ucrânia pelo sul do país - pode ser um sinal mais claro de escalada no conflito.
“De fato estão subindo a tonalidade dos conflitos e isso é muito negativo. A Alemanha se comprometeu a mandar tanques para a Ucrânia e, se eles usarem esses tanques em ataques no território rival, os russos podem entender que isso é um ataque indireto alemão, o que poderia causar uma grande escalada no conflito”, afirma Gadelha.
“Eu ainda vejo longe um ataque efetivamente russo de cunho atômico, mas os dias passam e nós estamos mais perto de um conflito que envolva outras nações além da Rússia e Ucrânia e isso é muito perigoso”.
Estados Unidos
Sobre a influência dos Estados Unidos no conflito, por conta da presença na Otan e nos países aliados, Gadelha acredita que os norte-americanos não devam entrar de fato no conflito, apesar do apoio expresso à Ucrânia.
“Eu acho que não vai ter uma entrada de tropas americanas, mas a cada dia que passa nós vamos ver mais armas da Otan, mais equipamentos e mais sanções para a Rússia. Essa está sendo a grande arma da Otan”.
Outro ponto de análise é que a Rússia hoje está sitiada no mundo por conta das sanções impostas pela maioria dos países do ocidente, principalmente os que antes eram os principais compradores de itens e bens russos, como o gás natural e o petróleo.
A Europa já está em vias de depender cada vez menos da dependência russa no que diz respeito aos combustíveis, o que vai fazer com que a economia russa pereça ainda mais em um médio prazo.
Para se entrar em um conflito global ou atômico, um país precisa estar preparado financeiramente, o que não é o caso da Rússia atualmente, que vê sua moeda local, o rublo, cada vez mais desvalorizado.
“O Banco Central russo, apesar das medidas tomadas, não vai ter condição de manter o nível do rublo e o nível inflacionário estável pelos próximos meses; uma hora isso vai explodir e os russos vão ter uma maxi desvalorização do rublo. Isso pode ser um ponto de virada para o segmento do conflito”, diz Gadelha.
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