Nas primeiras horas de quarta-feira, autoridades de pelo menos três cidades no Sul da Rússia , em áreas próximas à Ucrânia, reportaram várias explosões, e investigam se foram provocadas por drones — veículos aéreos não tripulados — ucranianos. Os casos se somam a outros supostos ataques que, embora não reivindicados por Kiev, sugerem que a guerra pode estar se espalhando para dentro do território russo.
Ainda nesta quarta, o líder russo, Vladimir Putin , declarou que se o Ocidente intervier no conflito com a Ucrânia, a resposta será 'rápida como um raio'.
O primeiro dos incidentes e considerado o mais grave ocorreu em Belgorod, onde houve um incêndio em um depósito de munições nos arredores da cidade.
"Por volta das 3h35 da manhã eu acordei com um grande estouro que soou como uma explosão. Enquanto escrevia essa publicação, outros três estrondos foram ouvidos", escreveu, no Telegram, Vyacheslav Gladkov, governador da oblast (região) de Belgorod. "Até o momento, não foram encontradas as causas para o barulho."
De acordo com a agência Tass, o incêndio foi controlado e não há feridos, tampouco sinais de estragos semelhantes ao redor de Belgorod.
Em Kursk, cidade também próxima à fronteira ucraniana, o governador regional, Roman Starovoyt, relatou explosões similares, e disse que os sistemas de defesa aérea foram acionados, e conseguiram interceptar o que seria um drone pertencente à Ucrânia. Em Voronezh, foram relatadas duas explosões, e as autoridades locais afirmam ter destruído uma pequena aeronave não tripulada de reconhecimento.
Logo após os incidentes, o Comitê de Investigação da Federação Russa afirmou que despachou equipes para as cidades, e acusou diretamente a Ucrânia.
"O presidente do Comitê de Investigação da Rússia instruiu a documentar os fatos das ações ilegais das Forças Armadas da Ucrâniano no território das regiões de Kursk e Voronezh. Os investigadores foram ao local do incidente para esclarecer as circunstâncias do incidente", disse o comunicado, citado pela agência Tass.
Dois dias antes, na segunda-feira, em Bryansk, também no Sul russo, dois grandes incêndios atingiram depósitos civis e militares de combustíveis, e autoridades locais afirmaram ter encontrado destroços de armamentos usados por um dos drones das Forças Armadas ucranianas, o Bayraktar TB-2, de fabricação turca, que teriam sido abatidos posteriormente.
Nas etapas iniciais do conflito, quando as forças russas ainda planejavam uma ocupação de grande porte da Ucrânia, incluindo da capital, Kiev, ataques pontuais com drones, como o Bayraktar TB-2, destruíram dezenas de tanques, blindados e veículos de transporte, atrasando e, em alguns casos, inviabilizando o avanço dos militares.
Agora, as supostas ações envolvendo drones em solo russo parecem ter como alvo estruturas de apoio às forças da invasão, como os depósitos de combustíveis de Bryansk, cidade localizada a menos de 140 km da fronteira com a Ucrânia. Belgorod, onde ocorreu o incêndio no depósito de armamentos e onde, no começo do mês, houve uma explosão em tanques de combustíveis, fica a 70 km de Kharkiv.
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Oficialmente, a Ucrânia nega ter realizado ações contra cidades russas, seja com drones ou com helicópteros, mas um conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky deu a entender que essa é, de fato, uma estratégia de Kiev.
"Se vocês (russos) decidirem atacar outro país em massa, massacrar todos em fila, massacrar civis com tanques e usar armazéns em suas áreas para garantir mortes, mais cedo ou mais tarde as dívidas terão que ser pagas", escreveu, no Telegram, Mykhailo Podolyak, dizendo que as cidades russas estão aprendendo o conceito de "desmilitarização", se referindo a um dos objetivos apresentados para a invasão. " E é por isso que o desarmamento dos armazéns dos assassinos de Belgorod-Voronezh é um processo absolutamente natural. Karma é uma coisa cruel."
'Rápida como um relâmpago'
Do lado ucraniano da fronteira, forças russas afirmaram ter destruído um depósito de armas nos arredores de Zaporíjia, no Sudoeste do país, onde estariam armazenados equipamentos militares doados por nações europeias e pelos EUA. De acordo com o Ministerio da Defesa, mísseis Kalibr "destruíram hangares com um grande lote de armas e munições estrangeiras fornecidas às tropas ucranianas pelos Estados Unidos e países europeus".
A Rússia vem alertando, desde o início do conflito, que vai atacar carregamentos de armas doadas a Kiev, o que inclui ações contra estradas e ferrovias — na segunda-feira, pelo menos cinco estações ferroviárias foram atingidas por projéteis russos nas regiões Central e Oeste do país.
"Eles estão tentando destruir as rotas de suprimento de assistência técnico-militar de Estados aliados. Para fazer isso, centram seus ataques em junções ferroviárias", escreveu, no Facebook, o comando militar ucraniano. No dia 8 de abril, um desses bombardeios, contra uma estação em Kramatorsk, deixou mais de 50 civis mortos.
Sem mencionar os bombardeios, o presidente russo Vladimir Putin afirmou a parlamentares que, caso o Ocidente resolva intervir no conflito, a resposta será 'rápida como um raio'.
"Temos todas as ferramentas para isso, ferramentas que ninguém pode se gabar de ter. E nós a usaremos se for necessário", declarou Putin.
Na semana passada, a Rússia testou um novo modelo de míssil balístico intercontinental , o Sarmat, integrante de uma geração de armas que Moscou considera serem "invencíveis", e que, segundo o presidente, fariam todos seus adversários "pensar duas vezes". Nesta quarta, além das ameaças, ele voltou a acusar o Ocidente de deliberadamente afastar a Ucrânia da área de influência de Moscou.
"Os inimigos de nosso país aceleraram a produção de novas armas geopolíticas, ano após ano, descaradamente, transformando a Ucrânia em anti-Rússia sem cerimônia", afirmou.