Projéteis iranianos no céu de Jerusalém em 1º de outubro de 2024
Menahem Kahana
Projéteis iranianos no céu de Jerusalém em 1º de outubro de 2024


Oriente Médio é uma região bem pouco tradicional, para dizer o mínimo. Aqui, a linguagem, as relações e, principalmente, as ferramentas de guerra são diferentes do resto do mundo. Talvez por isso o Ocidente tenha tanta dificuldade em compreender a realidade local. 

O Irã  está significativamente enfraquecido em termos bélicos. Seu braço armado no Oriente Médio, o grupo terrorista libanês Hezbollah, está sofrendo fortes baixas desde o início do contra-ataque de Israel nas últimas semanas. Milhares de terroristas foram incapacitados em resultado da  explosão de seus pagers – uma operação que já está registrada como uma das mais geniais da História das guerras –, seus comandantes foram eliminados, assim como seu líder absoluto,  Hassan Nasrallah. 

Terror como estratégia

No ataque ao Irã do último sábado,  as informações disponibilizadas pelo governo de Israel mostram que sua capacidade de defesa e de produção de novos armamentos foi gravemente reduzida. O país está totalmente desprotegido e incapaz de produzir mísseis – o que não significa, de forma alguma, que perdeu sua capacidade de armar-se por meio de seus aliados, como a Rússia.

Assim, incapaz de guerrear por meio de um exército, o Irã reforçou duas estratégias antigas e perigosas: a incitação a ataques terroristas individuais dentro e fora de Israel, e o fortalecimento de sua rede de espionagem no país. São ferramentas que, apesar de provocar uma repercussão lenta e a longo prazo, provocam enorme comoção entre os judeus em Israel e na diáspora. A estratégia expressa a definição clássica do terror: a utilização de instrumentos de baixo impacto que, no entanto, causam grandes repercussões.

Espionagem e ataques internacionais

Nas últimas semanas, a mídia local tem divulgado a captura de espiões dentro de Israel. Até o momento, foram presos nove cidadãos israelenses, sete deles provenientes do mesmo país, o Azerbaijão. Todos eles afirmaram que suas motivações não são ideológicas, mas financeiras – o que, na prática, não muda nada.

Atentados terroristas voltaram a ocorrer por aqui com uma frequência indesejada.  Atropelamentos, tiroteios e ataques com facas acontecem nas cidades israelenses resultando em mortos e feridos. As lideranças da comunidade judaica internacional também estão tomando precauções extras para proteger seus membros e a polícia federal brasileira já localizou e prendeu vários criminosos ligados ao Hezbollah que operam no país.

Essa ameaça vigora também em países que não contam com uma comunidade judaica, mas são destinos turísticos consagrados entre os israelenses. Na semana passada, o governo de Israel emitiu um comunicado a turistas judeus (especialmente israelenses, facilmente identificáveis) que visitavam o Sri Lanka, exigindo sua saída imediata do país após confirmação do planejamento de um ataque terrorista na área costeira. O aviso gerou pânico e corrida ao aeroporto e, dias depois, três suspeitos foram presos. 

Segundo o serviço de inteligência israelense, o alvo seria um centro religioso judaico da corrente Chabad, que mantém, em dezenas de destinos turísticos procurados por judeus no mundo todo, um local de apoio e referência. Eles contam com sedes em cidades como Itacaré (Bahia), Bangkok (Tailândia) e Hanói (Vietnã). Os terroristas teriam conseguido entrar no grupo de Whatsapp de turistas israelenses no Sri Lanka e enviado um convite falso para a celebração conjunta de uma festa judaica no centro do Chabad localizado na área turística da Baía de Arugam. O rabino responsável pela unidade conseguiu imediatamente enviar uma nova mensagem ao grupo, negando a informação.

Ao contar tudo isso, só posso me lembrar do que digo a quem me pergunta como convivemos com tantas ameaças. Reproduzindo o que ouvi certa vez, eu respondo: “Quem disse que é fácil ser judeu?” Não é – mesmo assim, aqui estamos, e não vamos para lugar nenhum.

** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

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