Apesar da guerra, o israelense resiste e busca manter a normalidade em seu cotidiano
Foto: Miriam Sanger
Apesar da guerra, o israelense resiste e busca manter a normalidade em seu cotidiano


Desde o dia 1º de outubro, data em que o  Irã lançou 200 mísseis balísticos contra Israel em seu segundo ataque ao país, o mundo aguardava a resposta israelense, que veio no último sábado. O que se sabe é que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu atendeu às exigências norte-americanas e não atacou as instalações nucleares iranianas – o que poderia escalar a  guerra e prejudicar os resultados das eleições americanas – nem seus poços petrolíferos, o que provocaria estresse econômico mundial. Sabemos que  Israel teve como alvo apenas instalações militares e fábricas. Ponto.

Irã decretou pena de prisão para iranianos que divulgassem informações ou fotos dos ataques, afirmou que apenas 20 caças israelenses invadiram seu espaço aéreo e foram repelidos, e distribuiu vídeos que mostram civis se exercitando em parques para mostrar que nada havia abalado a paz no país. Já Israel comemorou o sucesso da operação, divulgou a participação de 100 caças no ataque que, após realizarem sua missão, retornaram sãos e salvos para o país. Ponto. 

O que sim, sabemos, é que o Irã tem agora tem poucas chances reais de cumprir suas ameaças de destruição de Israel, não apenas por causa da retaliação israelense como, também, pelo fato de seu braço armado na vizinhança –  o Hezbollah – também ter sofrido perdas importantes no último mês. 

Em um mundo normal, essa situação determinaria o fim da guerra que começou em  Gaza e depois se estendeu ao  Iêmen, Síria, Iraque, Líbano e Irã. Mas, no Oriente Médio, as histórias não são assim tão óbvias. Os israelenses continuam em guerra, vivendo tudo o que ela representa: os moradores do norte desalojados de suas casas, a economia em sofrimento, constantes ataques de mísseis provenientes do  Líbano, recorrentes notícias da morte de nossos soldados tanto em Gaza quanto no sul do Líbano, tudo isso agora somado por ataques terroristas dentro de Israel com vítimas fatais. 

Mesmo assim, apesar do cansaço e da incerteza, o israelense – e também os judeus pelo mundo, que pagam o alto preço do incrível aumento do  antissemitismo – continua resiliente.

A resiliência judaica

Resiliência é uma palavra de ordem entre os judeus e a própria existência de Israel hoje é uma prova dela. Basta lembrar que os judeus passaram por duas diásporas – em 586 AEC, a região foi conquistada pelo Império Babilônico e os judeus foram expulsos, permanecendo 70 anos fora de seu território; e no ano 70 EC, quando foram novamente expulsos, desta vez pelos romanos. Mesmo espalhados pelo mundo durante dois milênios, os judeus mantiveram sua unidade cultural e religiosa, sua língua, seus costumes e sua clara noção de pertencimento. O retorno a Israel, essa disputada parte do mundo, nunca deixou de estar em suas rezas e anseios. 

E aqui estamos.

Em todo o mundo, os judeus, então sem pátria, sobreviveram aos pogroms, às expulsões e até mesmo ao  Holocausto (poucos sabem que ainda hoje a demografia judaica mundial não alcançou os números anteriores a ele). Ao longo do século 20, conseguiram o apoio necessário para que a Israel moderna fosse criada, a repovoou, consolidou uma ilha de democracia, prosperidade e estabilidade em uma região hostil. Enfrentaram diversas grandes guerras contra inimigos que, combinados, poderiam ter causado sua total destruição.

E aqui estamos.

Hoje, vivemos mais um desses momentos de sofrimento, no qual respiramos fundo, nos unimos e lutamos – não vamos para lugar nenhum, nosso período de diáspora acabou. Essa é nossa nação e essa é nossa porção (tão pequena) nesse mundo. Assim sobrevivemos à guerra mais longa de  Israel, certos de que sairemos dela – afinal, não nos resta outra opção.

Na festa de Sucot, na semana passada, a população lotou a área do Muro das Lamentações na cidade velha de Jerusalém, a qual permaneceu como referência do povo judeu mesmo durante 2 mil anos de diáspora
Foto: Miriam Sanger
Na festa de Sucot, na semana passada, a população lotou a área do Muro das Lamentações na cidade velha de Jerusalém, a qual permaneceu como referência do povo judeu mesmo durante 2 mil anos de diáspora


** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

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