O Líbano permanecia em estado de choque nesta quinta-feira (19), após as séries de explosões de aparelhos de comunicação de integrantes do Hezbollah que deixaram pelo menos 32 mortos em dois dias.
Além das vítimas fatais, que incluem duas crianças, mais de 3 mil pessoas ficaram feridas nas explosões de terça e quarta-feira, segundo o Ministério da Saúde libanês.
Na terça-feira, as explosões simultâneas de centenas de pagers, um sistema de mensagens e localização utilizado pelo movimento islamista pró-Irã, mataram 12 pessoas e deixaram quase 2.800 feridos, informou o ministério.
No dia seguinte, uma segunda onda de explosões, contra walkie-talkies, deixou 20 mortos e mais 450 feridos, segundo as autoridades libanesas.
O Hezbollah anunciou nesta quinta-feira que 20 integrantes do movimento faleceram nas explosões dos walkie-talkies, atribuídas a Israel.
O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que não ficou ferido nos ataques, fará um discurso público nesta quinta-feira.
As explosões dos últimos dias são o "maior golpe desferido contra o movimento pró-Irã" por Israel, afirmou uma fonte próxima ao Hezbollah.
O governo de Israel não fez comentários.
As explosões aconteceram em todo o país, quando os integrantes do Hezbollah que usavam os aparelhos estavam em casa, fazendo compras ou acompanhando um funeral.
O ataque aconteceu depois de Israel anunciar a extensão dos seus objetivos na guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza para a sua fronteira norte com o Líbano.
A meta é permitir o retorno das pessoas deslocadas no norte de Israel pelos confrontos na fronteira.
O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, afirmou na quarta-feira que o "centro de gravidade" da guerra está se deslocando "para o norte", onde as trocas de tiros quase diárias entre o Exército e o Hezbollah provocaram o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas dos dois lados da fronteira.
"Estamos executando nossas tarefas simultaneamente, no norte e no sul, para garantir o retorno seguro dos habitantes do norte para suas casas", destacou Gallant.
Desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023, o Hezbollah abriu uma frente na fronteira do Líbano com Israel para apoiar os aliados do Hamas.
- Infiltração do Mossad -
Charles Lister, analista do Middle East Institute, acredita que o Mossad, o serviço de inteligência externo de Israel, "se infiltrou na cadeia de abastecimento do Hezbollah" para provocar as explosões.
Segundo uma investigação preliminar das autoridades libanesas, "os dispositivos estavam pré-programados para explodir e continham materiais explosivos colocados ao lado da bateria", informou à AFP uma fonte dos serviços de segurança do país.
A União Europeia condenou os "ataques" aos pagers, a ONU criticou uma "escalada extremamente inquietante" e o governo dos Estados Unidos alertou para o risco de uma "escalada".
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, acusou "Israel de expandir a guerra para o Líbano".
Na frente diplomática, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu a Israel e ao Hamas "vontade política" para alcançar um acordo de cessar-fogo, após meses de negociações frustradas.
O conflito em Gaza foi desencadeado pela incursão letal de comandos do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que provocou a morte de 1.205 pessoas, em sua maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Dos 251 sequestrados durante a incursão, 97 continuam retidos em Gaza, dos quais 33 foram declarados mortos pelo Exército israelense.
Os bombardeios e operações terrestres israelenses destruíram o território palestino e causaram a morte de pelo menos 41.272 palestinos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.