Embora nem todos tenham a associação fresca em sua memória, o acidente de Chernobyl aconteceu em meio a uma disputa tecnológica e ideológica entre o bloco soviético e o Ocidente. A busca pela superioridade levou a um ambiente de negligência e falhas na segurança nuclear, resultando em uma das maiores tragédias ambientais que conhecemos.
Assim como em 1986, fatores políticos continuam agravando as consequências das catástrofes climáticas. Veja, por exemplo, as recentes queimadas e incêndios que atingiram boa parte do Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apenas em 2024 (até 17/09) houve mais de 188 mil focos de incêndio, e o que nós fizemos? Ao meu ver, falhamos.
Falhamos em prevenir, combater e pedir ajuda. O presidente e seus ministros falharam miseravelmente em liderar.
Primeiro, era preciso ter planos preparados para esta ocasião. Queimadas não são novidades, já aconteceram várias vezes no passado; e o desafio climático não foi exatamente descoberto semana passada. Este plano, se existisse, deveria definir em cada fase o que deveria ser feito pelos agentes do estado, ter os recursos de combate ao incêndio devidamente mapeados, com planos de logística pré-definidos e orçamento de emergência em um fundo para catástrofes.
Agora, que já não temos mais tempo hábil para construirmos tamanho potencial de solução sozinhos, é preciso pedir ajuda global. Agendar uma coletiva de imprensa com todos os maiores veículos de comunicação do mundo para convocar os apoiadores da Amazônia, do bioma e do meio ambiente. Dizer a eles que estamos vivenciando uma emergência sem precedentes, e certamente sem fronteiras, pois muito em breve seus resultados podem atingir o delicado ecossistema das florestas das chuvas, e essa tragédia não mais será apenas brasileira, mas mundial.
Fazer um apelo à ONU, pedir ajuda a todo mundo, pedir a quem puder e esperar que os países e personalidades comecem a se posicionar. E aproveitar que a mídia os pressione para isso. Mas, essa é a minha perspectiva de liderança, muito pouco provável de acontecer, uma vez que o Lula prefere manter sua posição de político e não estadista. Afinal, ele se aliou com Irã, Rússia e China. É questionável como estas nações poderiam ajudar, porém fica a pergunta, se puderem, a que preço? Quem poderia de fato ajudar, pode até fazer, mas com migalhas.
Essa é a importância de termos um estadista à frente da direção do país, de termos alguém que pudesse liderar com iniciativa sem limites partidários, com sabedoria e proatividade de ao menos ter aprendido a falar inglês em algum momento dentre os mais de oito anos em que esteve no poder. De alguém que além de usar o corpo diplomático, já tivesse declarado, junto aos seus ministros, mais especificamente a de Meio Ambiente, calamidade pública em todos os estados afetados pelas chamas e fumaça.
Alguém que tratasse a situação como a crise que é, que fizesse pronunciamentos diários com a imprensa para se reportar e dar transparência aos brasileiros, uma vez que os recursos naturais que estão sendo destruídos são nossos.
Nenhum deles está ali nos fazendo nenhum favor, tudo é parte do ofício deles. Nós, como cidadãos, temos direito de saber exatamente quantos recursos estão sendo destinados e quais os efeitos deles. Nós não temos que descobrir quais países resolveram nos ajudar por meio da mídia, é parte do governo anunciar diretamente. Se for o caso, que coloquem especialistas para responderem a questões específicas, como a ANS e a ANVISA fizeram durante a COVID.
Como comentei neste artigo, volto a repetir: Yuval Noah Harari destacou em seu livro "Sapiens" que muitos dos desafios enfrentados pela humanidade não se limitam a barreiras definidas politicamente, legalmente ou militarmente. Problemas globais como mudanças climáticas, organizações criminosas, pandemias e crises econômicas transcendem as fronteiras nacionais e requerem a cooperação entre países para serem efetivamente abordados. Também já falei sobre a importância de termos uma organização nacional que funcione como um “google” de recursos, um Sistema Integrado de Segurança, Emergência e Risco, onde todo o conhecimento necessário esteja reunido a fim de aumentar a resiliência de locais atingidos.
Lula tem a oportunidade de sugerir - e liderar- a criação de uma entidade da ONU emergencial, que eventualmente, todos países do mundo precisarão por conta de crises climáticas. Como uma OTAN, ou uma WHO com capacidade executiva de alocar recursos emergenciais para crises humanitárias e climáticas. Agora, essa é uma tarefa para um líder, se ele será um, cabe a ele decidir.