A catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul traz um alerta: o que foi não é mais o que será. Sejam as alterações climáticas derivadas do estilo de vida pós-industrial que adotamos, o abandono da ordem mundial baseada em regras em favor de realpolitik 2.0, a aceleração dos saltos tecnológicos, as enormes dívidas fiscais, os super governos entrelaçados em todos os aspectos de nossa vida - complicando o que uma vez foi simples, o fim da privacidade e o reinado da desinformação. Entramos em uma nova era da humanidade: insegura, imprevisível e de riscos extremos.
Ao longo de 300 mil anos, os humanos demonstraram uma fantástica capacidade de adaptação. Desde os nossos primeiros passos nas savanas africanas até às modernas metrópoles repletas de tecnologia, a nossa espécie enfrentou e superou desafios em constante mudança. Esta capacidade de adaptação não é apenas uma resposta física ou biológica, mas também um reflexo de uma extraordinária plasticidade cultural e intelectual. Através de inovações tecnológicas, sociais e culturais, os seres humanos têm redefinido continuamente o que significa viver neste planeta.
Porém, para mitigar o sofrimento futuro precisamos admitir que os sistemas, especialmente os governamentais que estão à nossa volta, não foram construídos para os novos tempos e muito menos demonstram a flexibilidade necessária para serem facilmente reestruturados as novas demandas da sociedade.
Vamos analisar o caso do Rio Grande do Sul de forma abstrata e genérica como um evento que acontecerá dezenas ou centenas de vezes nos próximos cem anos. Como os furacões nos Estados Unidos, identificados por satélites com antecedência, levam à evacuação das cidades, onde as pessoas serão recolocadas antes mesmo do impacto de fortes crises ambientais? Que infraestruturas, como represas, drenagem, canais, bueiros devem ser aprimorados ou construídos para tornar cidades mais resilientes?
Uma vez que catástrofes podem acontecer em diferentes momentos e locais, sem necessariamente aviso prévio, como podemos criar sistemas de informação para identificar e distribuir facilmente os recursos? Por exemplo, após um grave incêndio na boate KISS em 2013, onde 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas, houve uma grande procura de pele humana para enxerto. Ao criar um ‘google para recursos emergenciais’ ganhamos facilidade, tempo e salvamos vidas - muitas vidas.
Precisamos criar uma organização nacional denominada aqui de SISER - Sistema Integrado de Segurança, Emergência e Risco, onde todo o conhecimento sobre os recursos necessários para aumentar a resiliência de locais atingidos, com mecanismos de distribuição desses recursos, será centralizado.
A questão seguinte é como financiar os recursos alocados, considerando que estaríamos utilizando tanto capital humano quanto físico de outras regiões, incluindo setores públicos e privados. Uma estratégia seria recorrer ao mercado de capitais por meio de um instrumento chamado "Debênture de Catástrofe" (ou Cat Bond, em inglês).
As seguradoras captam recursos financeiros emitindo esses títulos, cujo preço e riscos são determinados pelo mercado. Os investidores recebem juros atraentes quando não ocorrem sinistros. No caso de eventos imprevistos, esses recursos podem ser rapidamente mobilizados para atender às necessidades emergenciais.
Do ponto de vista geopolítico, há uma oportunidade para o Brasil se tornar referência na gestão de incidentes de larga escala - podendo realizar acordos internacionais para prover suporte a outros países que podem passar por eventos similares, elevando assim o status do Brasil no mundo. Os exemplos incluem terremotos no Irã e na Turquia, incêndios florestais na Sibéria e na Califórnia e inundações na Índia.
Enquanto trilhões de dólares são investidos para tentar reverter o desequilíbrio ambiental que causamos ao longo de pouco mais de dois séculos, devemos reconhecer que a próxima geração de problemas que enfrentaremos não respeita os limites das cidades, estados ou nações. Portanto, as soluções devem transcender fronteiras.