Quais são os maiores riscos para a democracia global? Seriam o avanço do autoritarismo e de líderes autocráticos, a erosão das instituições democráticas, a disseminação de desinformação e propaganda, a crescente polarização política e populismo? Talvez, o aumento da desigualdade econômica, a apatia cívica e o declínio no engajamento social, a vigilância em massa e a erosão da privacidade, ou o impacto de pandemias e crises de saúde pública na governança democrática? Acredito que nenhum desses.
Em minha opinião, o maior desafio para as democracias modernas está na erradicação da pobreza em seus países. O autoritarismo chinês parece interessante porque conseguiu tirar centenas de milhares de pessoas da miséria e crescer em um ritmo mais acelerado do que as democracias. A desinformação é um problema gravíssimo e relevante, mas pessoas em condições precárias estão mais sujeitas a ideias populistas e soluções milagrosas, pois estão em situação de desespero.
Referente à desigualdade, nem todas são negativas. Se todos enriquecerem, mesmo que uns mais do que os outros, a sensação de inveja ou injustiça poderá dar lugar ao pensamento: ‘eu também consigo’. Outras questões também são importantes, mas nada é pior do que: ‘este sistema não funciona para mim’.
Na ‘Série Especial sobre a Evolução do Sistema Democrático’, conversamos sobre mudanças no presidencialismo como a transição para um semi-presidencialismo que distribui metas e execução. Também abordamos uma nova arquitetura de poder que divide o legislativo em três casas: a primeira, que realmente representa o povo, pois é feita por ele e não por políticos em esquemas partidários; a segunda, a introdução de uma casa do notório saber, formada pelos melhores especialistas do nosso país em diversas áreas de conhecimento; e a terceira, o Senado político, para concluir negociações. Tratamos da falha inerente do sistema de justiça e apresentamos o primeiro passo em direção a uma democracia mais pragmática e voltada ao cidadão.
Para que a democracia seja atrativa para outras nações e para que possa se perpetuar por gerações, garantido as liberdades, é fundamental que seus cidadãos tenham orgulho dela. E para que aqueles grupos em países autocráticos a desejem é vital que este sistema saiba lidar com as tentativas de corrompê-lo e tenha um mapa que facilite sua adoção. Acredito que a melhor alternativa seja a adoção de GOD, ou “Genesis Oriented Democracy”, em português “Democracia Orientada a Gênesis”.
Optamos pela palavra "Gênesis" dentro do conceito de "Genesis Oriented Democracy" (GOD) porque "Gênesis," vinda do grego, representa o início, a criação de algo novo e incrível, e, neste contexto, simboliza os resultados concretos que uma democracia deve produzir. Em uma democracia orientada por resultados, como a que propomos, esses resultados são medidos de forma clara e objetiva.
A quantidade de pessoas que saem da pobreza a cada ano, a redução da poluição do meio ambiente e a demanda por serviços de saúde em paralelo ao aumento da qualidade do sistema de saúde impactado também pela adoção do esporte frequente e da excelente educação, o crescimento sustentável da demanda por trabalho, a confiança crescente de investidores estrangeiros na economia local, a estabilidade de preços, a diminuição da violência e do tráfico nas fronteiras, entre muitos outros fatores. Esses são apenas alguns exemplos de métricas que guiarão o sistema político em todos os níveis — federal, estadual e municipal.
Para alcançar esses objetivos, as instituições públicas devem operar sob um sistema de seleção natural, onde experimentos, servidores e líderes que apresentam alto desempenho permaneçam e até sejam premiados, enquanto aqueles que não atingem as metas sejam cuidadosamente filtrados. "Gênesis" encapsula essa ideia de criação e perfeição, refletindo uma democracia que não apenas reage, mas que proativamente cria um futuro melhor para todos.
A transição requer um movimento que englobe todos os espectros políticos, de esquerda a direita, unido em volta de um bem comum que transcende esta geração, visando o avanço da sociedade de forma sistêmica, com mecanismo de tentativa e erro cientificamente mensurado, para almejar mil anos ou mais de prosperidade.
Darwin demorou duas décadas entre seu entendimento do processo de seleção natural e sua publicação porque queria ter certeza de que poderia responder a toda e qualquer objeção. Em contraste, acredito que, se GOD pode fazer o bem para o mundo, ele precisa evoluir através de críticas, testes, e pesquisas - e não pode esperar nem sequer cinco anos até a finalização do futuro livro que trará toda sua profunda explanação. Muito pode ser feito hoje, inclusive por você!
Existem milhares de projetos paralelos no mundo todo que vem melhorar algum aspecto de nossa vida, seja retirando CO2 da atmosfera, utilizando IA para melhorar a educação e a saúde, ou criando redes de cadeia de suprimentos mais econômicas, sustentáveis e resilientes. Porém, apenas uma atualização constitucional profunda do regime democrático conseguirá incorporar tudo que aprendemos em mais de duzentos anos de democracia, permitindo a evolução exponencial da sociedade a algo melhor, pronta para os desafios da próxima década, século e milênio.
Pequenas mudanças incrementais são importantes e devem continuar, mas para acelerar o ritmo da aprimoração do bem-estar social, sustentá-lo por longos períodos e conquistar a confiança da população no que tange a liberdade individual, democracia, instituições, além de incentivar outros países a aderirem ao modelo, melhorar a coordenação internacional e combater juntos os desafios globais, é preciso da Democracia Orientada a Genesis! Outras alternativas deixarão a desejar.
Não há dúvidas dos benefícios que o sistema democrático/capitalismo trouxe em comparação ao que existia antes. Mas, para as gerações atuais, que não conheceram a “escravidão”, há grandes expectativas sobre o futuro que os governos, sob o mecanismo atual, não conseguem atender.
Vejam, como exemplo, o partido Conservador na Grã-Bretanha, que governou por 14 anos. Ele não foi “expulso” nas últimas eleições porque o povo não acreditava na sua agenda, mas porque não conseguiu executá-la. Seja pela imigração ilegal descontrolada, a falta de moradia e, por consequência, altos preços, deficit público, problemas no sistema de saúde e o desastroso Brexit.
Para sair deste redemoinho que atrasa a civilização, precisamos de uma nova “religião” que traga a fé de que podemos realizar grandes conquistas para a humanidade. Portanto, tenhamos fé em GOD, na ‘Genesis Oriented Democracy’, por nós e pelas gerações que estão por vir.
Tenhamos também o diálogo para alcançarmos novas ideias que possam reavaliar nossas estruturas de governança. Se quiser conversar sobre este e muitos outros assuntos, estarei lhe esperando no Horasis Global Meeting. O evento, sediado pela primeira vez na América do Sul, acontecerá entre os dias 25 e 26 de outubro em Vitória, Brasil, e reunirá líderes globais para discutir os desafios atuais que as sociedades enfrentam e como podemos construir pontes para o futuro.
Para acompanhar a série especial sobre a evolução do sistema democrático, leia os textos: À Beira do Colapso; A Nova Arquitetura do Poder; Injustiça para todos; Leis boas, Leis Ruins e Juiz Calibrador, Levante-se.