Dois dias após a tragédia de Petrópolis, que nesta terça-feira (15) completou um mês, a deputada estadual Mônica Francisco (PSOL-RJ) protocolou a criação da Frente Parlamentar pela Justiça Climática e contra o Racismo Ambiental. A discussão ganhou mais urgência após as chuvas que devastaram o município na região serrana do Rio de Janeiro.
Com imagens fortes, como a de pessoas tentando sair de ônibus quase completamente submersos
pela água, a tragédia deixou pelo menos 233 mortos
e mais de mil desabrigados.
Antes disso, em janeiro, a chuva havia feito estragos em São Paulo
e Minas Gerais
, com 28 e 24 mortos, respectivamente. Um mês antes, o desastre se deu na Bahia, com 27 mortos
e mais de 90 mil desabrigados ou desalojados.
Diante de tantos desastres recentes, Mônica acredita que a criação da frente parlamentar provoca uma importante discussão. "Abre um debate importante porque, quando a gente vai olhar pra todos esses eventos e tantos outros espaços de erosão, de degradação, com consequentes desastres e mortes, a gente tem alguns pontos em comum. Primeiro, quem mora neles. Segundo, a degradação sistemática desses espaços", defende a parlamentar, militante dos Direitos Humanos.
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Quem mora nessas ocupações sem a devida infraestrutura são as camadas mais pobres do país, que pelo processo histórico e racial do Brasil, são compostas principalmente pela população preta e parda.
Por isso, o uso do termo racismo ambiental, referente à discriminação que torna determinados grupos mais vulneráveis a fenômenos naturais nocivos.
"O conceito vai ser produzido a partir das experiências dos guetos nos Estados Unidos, olhando as experiências de gentrificação, ou seja, de mudanças dos bairros, do embranquecimento dos bairros e do deslocamento dos grupos populacionais negros e latinos, mas muito mais grupos negros, para espaços extremamente degradados, segregados, longe e com proximidade a aterros sanitários e lixo tóxico", contextualiza a deputada.
Ela conta que, no Brasil, dado o contexto de miscigenação do país, se convencionou por utilizar o termo "injustiça ambiental", o que, em sua opinião, esvaziou a discussão. "A gente provoca novamente a retomada do conceito e reafirma que o que acontece nas cidades é relegar a população negra - preta e parda - a contextos de extrema exclusão e danos. (...) A gente sabe quem perde, quem morre e quem sofre durante anos os impactos de situações como essa", frisa.
Planejamento urbano ambiental
Quanto à degradação dos espaços, o problema reflete, entre outros fatores, a demanda urgente por planejamento urbano ambiental . Engenheiros, geógrafos e urbanistas já ouvidos pelo iG reforçam que as cidades precisam de políticas públicas que considerem as emergências climáticas . A expectativa é de que eventos extremos como as chuvas que assolaram Petrópolis e dezenas de cidades no sul da Bahia devem se tornar cada vez mais frequentes.