Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, presidente da Rússia
Alan Santos/ PR
Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, presidente da Rússia


Em meio à crescente tensão entre a Rússia e potências do Ocidente , como os Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) está de viagem marcada a Moscou. Ele estará na Federação da Rússia de 14 a 17 de fevereiro, a convite do presidente do país, Vladimir Putin. 


O encontro foi marcado ainda no ano passado e é visto por Bolsonaro como uma "oportunidade de alavancar a economia", como ele disse em transmissão ao vivo nas redes sociais em dezembro. Dois meses depois, entretanto, a atitude correta seria deixar a reunião para depois.


"Com certeza seria prudente o governo brasileiro adiar esse encontro porque, por mais que seja interessante, o Brasil tem uma parceria com a Rússia, tem ali a questão dos Brics [grupo formado pelos emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e tudo o mais, não se discute relações bilaterais em um contexto tão envenenado quanto esse hoje", frisa o cientista político especialista em Relações Internacionais e professor do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Leandro Consentino.


O contexto a que ele se refere é uma disputa de poder. De um lado, os Estados Unidos acusam a Rússia de se preparar para invadir o território ucraniano. Do outro, o país comandado por Vladimir Putin nega a intenção, mas ocupou a região de fronteira com a Ucrânia com mais de 100 mil soldados e pressiona para que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não aceite o país como membro da aliança militar.


A Otan foi fundada em 1949 por americanos e europeus com o objetivo de fazer oposição ao poder soviético. Por isso, a Rússia se opõe à incorporação da Ucrânia ao grupo, uma vez que a nação é um dos países ainda não integrados à força adversária.


Diante desse cenário, Consentino acredita que a viagem de Bolsonaro pode sinalizar um "apoio que contraria frontalmente nossas posições no cenário internacional". Esse é também o receio de membros da equipe ministerial, que, segundo a CNN Brasil, tentam fazer o presidente remarcar a viagem.


"Relações internacionais se dão, sobretudo, no plano do símbolo, da simbologia. E aí quando você faz uma visita dessa, nesse momento, você está passando alguma mensagem ali que pode ser aquela que você não gostaria, de se alinhar à Rússia em detrimento do Ocidente. E eu acho que o prejuízo é iminente porque as relações com os Estados Unidos após a eleição do Joe Biden e com alguns países europeus já vêm sendo desgastados pelo governo atual", acrescenta o professor, em referência à postura de Bolsonaro que só reconheceu a vitória do democrata contra o republicano Donald Trump um mês após o pleito.

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Dado o cenário atual, o iG procurou a assessoria de comunicação do governo para saber se a possibilidade de adiar a viagem é discutida, mas o departamento limitou a resposta ao envio de um link com esclarecimentos sobre o credenciamento de imprensa para veículos interessados em acompanhar a comitiva presidencial. Na última semana, o próprio Bolsonaro  minimizou os apelos para reconsiderar a data da viagem.

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"Brasil é Brasil, Rússia é Rússia. Faço um bom relacionamento com o mundo todo. Assim como se Joe Biden me convidar, estarei nos Estados Unidos com o maior prazer", declarou.


Prejuízos para o Brasil

Se o temido confronto armado se concretizar, Leandro Consentino acredita que o Brasil pode ser muito afetado por dois motivos. O primeiro seria o aumento no preço do barril de petróleo, que acarretaria em um aumento no preço do combustível, desencadeando em um cenário "desastroso" para a economia brasileira.


"Um segundo impacto complicado do ponto de vista econômico é um problema relacionado à agricultura. O Brasil não é autossuficiente em fertilizantes e os fertilizantes que ele traz pra cá são fortemente dependentes do gás natural, que é uma commodity que vai ser claramente afetada por um eventual conflito, e aí a gente teria um impacto muito grande no agronegócio que é uma das molas propulsoras do país", esclarece.


Mas o professor não acredita que o conflito chegará ao status de guerra. Ele pondera que a destruição deixada pela Segunda Guerra Mundial, após duas bombas atômicas, culminou numa espécie de "equilíbrio do terror" que ajuda a evitar uma colisão entre duas potências armamentistas, como são a Rússia e os Estados Unidos. "Já uma Guerra Fria 2.0, como alguns chamam, é provável sim", ressalta.


Atualmente, o cenário é impreciso. Nesta segunda, o presidente da França, Emmanuel Macron, esteve em Moscou para se reunir com Vladimir Putin. O francês disse que tenta "evitar uma guerra" , enquanto o russo elogiou o papel da França e disse apreciar os esforços dele para garantir segurança e intermediar um acordo para a crise na Ucrânia.


Também hoje, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, se encontrou com o presidente americano na Casa Branca. Após a reunião, Biden declarou que os dois estão dedicados a encontrar uma solução diplomática e também em sintonia para reagir à agressão russa, caso necessário.

** Ailma Teixeira é repórter nas editorias Último Segundo e Saúde, com foco na cobertura de política e cidades. Trabalha de Salvador, na Bahia, cidade onde nasceu e se formou em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2016. Em outras redações, já foi repórter de cultura e entretenimento. Atualmente, também participa do “Podmiga”, podcast sobre reality show, e pesquisa sobre podcasts jornalísticos no PósCom/Ufba.

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