A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) enviou um relatório à Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 27 de outubro do ano passado alertando que caminhoneiros poderiam realizar bloqueios em estradas pelo país após o segundo turno das eleições, caso o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PL) perdesse a votação para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os atos começaram ainda no dia 30 de outubro, data do segundo turno que marcou a vitória do petista. Grupos de apoiadores de Bolsonaro iniciaram uma manifestação que paralisou diversas rodovias pelo país. Nos protestos, eles pediam intervenção militar.
No documento enviado, obtido pelo portal Metrópoles , constam as avaliações da Abin relacionadas a possíveis ameaças de conflitos institucionais entre os dias 29 de outubro e 4 de novembro.
O relatório, que foi mantido sob sigilo, também foi encaminhado pela Abin ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao Ministério da Defesa, ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal, ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
À época, a agência havia identificado a existência de "chamamentos para que os caminhoneiros parem à beira de rodovias, visando uma eventual paralisação, em caso de derrota" de Jair Bolsonaro. A ameaça foi considerada, pela Abin, de risco médio.
Naquele período, a PRF era liderada por Silvinei Vasques, suspeito de envolvimento em interferências no processo eleitoral e preso de forma preventiva em agosto. Ele prestou depoimento à PF ainda em novembro do ano passado, sobre os bloqueios registrados nas estradas após o segundo turno, e disse que não havia previsão da ação dos caminhoneiros.
O relatório, no entanto, vai contra a versão apresentada por Vasques. "Atos pontuais tendem a ocorrer, especialmente após a divulgação dos resultados, com possível participação de empresas de transporte e de caminhoneiros ligados ao agronegócio", afirma o documento.
Na ocasião, a Abin mencionou que havia chances de bloqueios em pontos de circulação pelo país e que isso poderia levar a outras "ações similares em outras regiões" do Brasil.
"Nesse cenário, a atuação de indivíduos ou de pequenos grupos, ainda que de forma espontânea e descoordenada, tem potencial para impactar as rodovias, com consequências para a circulação de pessoas, bens e serviços. Ademais, o sucesso inicial de pequenos bloqueios tem potencial para incentivar ações similares em outras regiões do país, devido à rapidez com que grupos de caminhoneiros se comunicam por meio de aplicativos de mensageria, ampliando os impactos e o potencial de crise."
De acordo com a agência, não foram identificadas "articulações efetivas para movimentos paredistas coordenados nacionalmente" e que os caminhoneiros tinham "dificuldade de coordenar ações e organizar eventual paralisação a nível nacional".