Um dia após o PL anunciar que seu presidente, Valdemar Costa Neto, recebeu “carta branca” dos dirigentes estaduais do partido para filiar Jair Bolsonaro (sem partido), integrantes da sigla que fazem oposição ao presidente já se preparam para deixar a legenda.
Durante a própria reunião do PL foi anunciada a saída de Maurício Quintella, atual secretário de Infraestrutura de Alagoas. O estado é governado por Renan Filho (MDB-AL), que faz oposição a Bolsonaro. Quintella criticou duramente o presidente nas redes sociais durante o último ano e disse ao site Metrópoles que não ficará no mesmo partido que Bolsonaro.
“Pelo andar da carruagem o PL está pulando uma grande fogueira! Filiar um presidente genocida, que destrói o Brasil dia após dia, seria desastroso. Bolsonaro precisa ser combatido, não abrigado!”, escreveu Quintella no Twitter.
Vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) pretende se reunir com Costa Neto na semana que vem, quando voltar de missão oficial na COP-26. Deputados que conversaram com ele nos últimos dois dias dizem que Ramos está convencido a sair do partido. Anteontem, após a reunião da legenda, ele afirmou que não estará no palanque de Bolsonaro.
Na Bahia, a situação também é delicada, embora não haja ameaça de defecções de imediato. O ex-deputado José Carlos Araújo, dirigente estadual, disse que está tentando “aparar as arestas” para manter seu acordo com ACM Neto, pré-candidato a governador pelo União Brasil, partido que resultará da fusão do DEM com o PSL. Bolsonaro estuda lançar João Roma, ministro da Cidadania, ao governo.
"Estamos tentando negociar com ACM Neto um apoio a Bolsonaro. Se houver isso, João Roma poderia retirar a candidatura. Seria céu de brigadeiro, a melhor possibilidade", disse Araújo ao Globo.
Segundo o presidente do PL no Piauí, Fábio Xavier, que é secretário de Cidades no governo de Wellington Dias (PT), uma reunião com correligionários marcada para terça-feira, em Teresina, servirá para “afinar” os possíveis cenários no estado em meio ao avanço na filiação de Bolsonaro.
Ele afirmou que a reunião em Brasília com a cúpula nacional do PL não mudou seu interesse em manter a coligação com o governador petista em 2022 e descartou pedir para deixar o partido. Há possibilidade, no entanto, de que outros parlamentares do PL troquem de sigla para manter a aliança com Dias.
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"Marcamos essa reunião na terça-feira para afinar tudo em relação ao Piauí. Isso não muda o que venho dizendo, que temos uma relação de longa data com o governador e pretendemos mantê-la. Mas, antes de avançar em qualquer outra posição, preciso estar de acordo com meus colegas no estado. O que ficou combinado é que o PL receberá Bolsonaro", afirmou.
Em Pernambuco, segundo presentes na reunião, o incômodo ocorreu porque o ministro do Turismo, Gilson Machado, tem insinuado em entrevistas que poderia se candidatar. O dirigente estadual Anderson Ferreira, prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE), saiu do encontro na sede do PL dizendo que tudo estava pacificado. Questionado sobre Gilson, porém, ironizou:
"Para ser candidato, primeiro precisa ter voto."
Presidente do diretório do Pará, o deputado Cristiano Vale diz que a perspectiva é de tentar conciliar o apoio a Bolsonaro com uma aliança com o grupo de Helder Barbalho (MDB), atual governador que deve concorrer à reeleição.
"O PL aqui absorve bem essa situação, viemos dialogando (com bolsonaristas) desde o primeiro anúncio, lá atrás. Somos base do governo estadual e colocamos isso ao Valdemar. Aparentemente está tudo bem, mas vamos ver lá na frente", diz Cristiano Vale.
Impasse em São Paulo
Em São Paulo, os sete deputados estaduais do PL estão comprometidos com a pré-candidatura do vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), aliado de João Doria. Eles admitem a possibilidade até de deixar o partido se a sigla resolver lançar um candidato de Bolsonaro no estado.
Um dos parlamentares relata que já está “praticamente fazendo campanha” para o tucano pelo estado. Alguns deles têm até participado de agendas com Garcia no interior.
Os deputados do PL foram beneficiados com a liberação de R$ 20 milhões em emendas este ano. Por outro lado, a bancada do partido ajudou a aprovar projetos impopulares de interesse do governo estadual, como a reforma administrativa e o ajuste fiscal.
O cenário da eleição de São Paulo deve ficar mais claro no fim de semana, já que a candidatura de Garcia está vinculada à saída de Doria do governo para concorrer à Presidência — as prévias do PSDB ocorrerão domingo. Caso Doria perca a disputa, o PL discute atrair Garcia para a legenda, hipótese vista com desconfiança por aliados do vice-governador.