Após o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro , transmitido em rede nacional de televisão e rádio na noite desta terça-feira, não foram poucas as reações negativas. Em carta aberta, secretários de Saúde se disseram “estarrecidos” e que o presidente faz “uma tentativa de desmobilizar a sociedade brasileira, as autoridades sanitárias de todo o país”.
Leia também: "Coragem e visão de estadista": filhos e aliados exaltam Bolsonaro após discurso
No texto, gestores destacam que Bolsonaro contraria todas as recomendações passadas pelo Ministério da Saúde."Ao invés de desfazer todo o esforço e sacrifício que temos feito junto com o povo brasileiro, negando todas as recomendações tecnicamente embasadas e defendidas, inclusive, pelo seu Ministério da Saúde, deveríamos ver o Presidente da República liderando a luta, contribuindo para este esforço e conduzindo a nação para onde se espera de seu principal governante: um lugar seguro para se viver, com saúde e bem estar".
Em outro trecho da carta, os secretários de saúde dizem que 'todas as decisões e recomendações do Conass e do Ministério da Saúde têm se baseado em evidências científicas, na realidade nacional e internacional e buscado inspiração nas melhores práticas e exemplos de condutas exitosas ao redor do mundo".
"Passou dos limites"
Quem também criticou a fala foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Segundo ele, Bolsonaro "repetiu opiniões desastradas sobre a pandemia" do novo coronavírus e "passou dos limites" ao discursar em oposição às recomendações de médico infectologistas. Para o tucano, se o presidente "não calar" estará "preparando o fim".
"Eu não ia voltar ao tema, mas o Pr repetiu opiniões desastradas sobre a pandemia . O momento é grave, não cabe politizar, mas opor-se aos infectologistas passa dos limites. Se não calar estará preparando o fim. E é melhor o dele que de todo o povo. Melhor é que se emende e cale", escreveu FH.
Leia também: Por sétimo dia consecutivo, há panelaço contra Bolsonaro em capitais
Além do antecessor tucano de Bolsonaro, também o criticaram os presidentes da Câmara e do Senado , bem como líderes partidários e parlamentares das duas casas.
Você viu?
O deputado Rodrigo Maia , também utilizando o Twitter, afirmou que pede sensatez desde o início do crime e que "o pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública".
Também houve críticas de governadores — como Wilson Witzel (PSC-RJ), Renato Casagrande (PSB-ES) e Flávio Dino (PCdoB) — e até do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes . O magistrado disse que "as agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez".
Renúncia
Já João Amoêdo, fundador e ex-candidato a presidente pelo Novo, foi ainda mais longe. Segundo ele, discurso colocou a vida dos brasileiros em risco e deveria ser motivo de renúncia caso não aconteça um pedido de desculpas.
"É um risco muito grave para todos os brasileiros ter uma pessoa como ele na liderança do país. Certamente ele está colocando a vida de vários brasileiros em risco", disse Amoêdo.
"Eu acho que é difícil, eu gostaria muito pois a gente poderia sair mais forte como nação. Ele tem uma liderança ainda grande, muitas pessoas o ouvem não apenas por sua posição, e o Brasil precisa de um entendimento, de uma união para atacarmos o inimigo comum que temos. Ele está enfraquecendo as nossas defesa em relação ao nosso inimigo, que é o vírus que nos ataca. Ele fala ao contrário que deveria", completou.
Leia também: OMS atualiza números do coronavírus no mundo: 372 mil casos e 16.231 mortos
Há cerca de um mês, Amoêdo disse que, diante do PT, não se arrependia de ter votado em Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. Porém, ressaltou que pode mudar de posicionamento: "se amanhã ele não vier a público (se desculpar do pronunciamento da noite de terça-feira), eu acho que vou ter que dizer que me arrependo sim. Apesar da opção do PT ser muito ruim, nesta situação de crise, essa postura do presidente é muito ruim, dados estes últimos acontecimentos, se amanhã ele continuar na sua estratégia, vou ter que dizer que me arrependo do meu voto sim".