Aliados de Bolsonaro condenaram declarações sobre desaparecido durante a ditadura
Isac Nóbrega/PR - 30.7.19
Aliados de Bolsonaro condenaram declarações sobre desaparecido durante a ditadura

O ataque de Jair Bolsonaro (PSL) ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz , foi considerado estúpido e desnecessário por parlamentares no Congresso. Após o presidente da República questionar as circunstâncias do assassinato do pai de Santa Cruz, quando este tinha apenas dois anos de idade, deputados da oposição e até mesmo base aliada do governo saíram em defesa de Santa Cruz e criticaram Bolsonaro pelo que consideraram ser um “excesso”.

Vice-líder do PSL na Câmara,  o deputado Alexandre Frota (SP) avaliou como “péssimas” as afirmações de Bolsonaro e lembrou de episódios polêmicos ao longo dos primeiros sete meses de governo.

"Bolsonaro é presidente, não é deputado. Ele precisa se colocar longe de polêmicas assim, mas não consegue. É mais forte que ele. Estamos com seis meses de governo e todos os dias tivemos uma confusão. O Brasil precisa de muita coisa, o país está passando por uma transformação, mas ele não colabora para deixar as coisas calmas", afirmou.

Aliado do presidente  Jair Bolsonaro na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) também criticou as manifestações do presidente. "Um desserviço ao governo. A morte e um atentado de pessoas, sejam pelos motivos que forem, devem estar distante da disputa política", disse ao jornal O Globo, considerando ter sido “desnecessária” a defesa da OAB ao sigilo do advogado de Adélio Bispo, responsável por esfaquear Bolsonaro.

Bolsonaro também foi criticado por outros parlamentares alinhados ao governo, como Vinicius Poit (SP), do partido Novo. Nas redes sociais, ele disse que não poderia silenciar sobre a declaração e afirmou que "abomina" qualquer ditadura.

"Ainda sobre essa desfeita com relação ao pai do Santa Cruz: eu não votei no Santa para presidente da República, votei no Jair Bolsonaro . Se eu faço a crítica, é justamente porque quero ver o governo dar certo. Tanto que fui um dos parlamentares que mais votaram a favor do governo", escreveu.

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O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Helder Salomão (PT-ES), afirmou que vai convocar sessão do colegiado para a próxima semana para deliberar sobre eventual convocação de responsáveis do governo a fim de esclarecer sobre a morte de Fernando Santa Cruz, integrante do grupo Ação Popular (AP) e desaparecido durante a ditadura.

As declarações de Bolsonaro também incomodaram parlamentares do centrão. "O Brasil elegeu um idiota. Então, dá nisso", salientou Paulinho da Força (SD-SP), um dos líderes do grupo.

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Paulinho acrescenta que o país já conhecia os arroubos retóricos de Bolsonaro. Mas, na sua avaliação, o presidente está piorando. Ele criticou o fato de Bolsonaro mentir sobre a morte de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe, na década de 70. Não há qualquer indício de que o assassinato de Fernando tenha sido um caso de "justiçamento" pela esquerda (quando traidores são "eliminados"), como indicou Bolsonaro.

"Tem que dar o remédio tarja preta. Não estão dando mais. Primeiro que ele fala uma inverdade (o justiçamento de Fernando Santa Cruz). Imagine você ter um pai que nunca mais apareceu. Aí vem alguém dizer que sabe (o que aconteceu), mas conta uma mentira", acrescentou.

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Nas redes sociais, o deputado Marcelo Ramos (PR-AM), que presidiu a comissão especial da reforma da Previdência, avaliou que a moderação prevalecerá, apesar de "tanta insensatez e ódio"

"É repugnante um presidente da República tripudiar sobre a memória de uma vítima da ditadura. Tenho compromisso com o Brasil e com a pauta econômica, mas repudio o descompromisso do presidente com os valores humanitários e democráticos. Minha solidariedade ao presidente da OAB", escreveu.

A oposição foi ainda mais incisiva. Segundo o líder do PSOL , Ivan Valente (SP), após as declarações de Bolsonaro, o impeachment passa a ser "inevitável".

"A crueldade de Bolsonaro ao agredir o presidente da OAB e sua família lutadora, dizendo saber quem matou Fernando Santa Cruz, é acrescida, agora, de outra insanidade: militantes de esquerda o mataram , e não torturadores do DOI-CODI . Presidente mente, quebra decoro e impeachment é inevitável", escreveu o deputado.

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) avalia que Bolsonaro afronta "a memória, as feridas abertas, os fatos e a democracia".

"A declaração de Bolsonaro é incompatível com o que se espera de um presidente da República em um país democrático. Se Bolsonaro tem informações sobre o assassinato de Fernando Santa Cruz, deve revelá-las imediatamente. É inaceitável que use deste tipo de expediente para intimidação", diz.

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