Manifestantes tomaram as ruas de mais de 100 cidades em todos os 26 estados e no Distrito Federal para expressar apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) neste domingo (26). Os maiores atos ocorreram na Avenida Paulista, em São Paulo, em Copacabana, no Rio de Janeiro, e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
As manifestações tiveram como principal bandeira o protesto contra integrantes dos Poderes Legislativo e Judiciário. Foram eleitos como maiores alvos os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente, e os deputados do chamado centrão – grupo que tem patrocinado derrotas do governo no Congresso e que reúne partidos como DEM, PP, PR, SD, PRB e PSD.
Maia inspirou a criação de um boneco inflável de 3,5 metros de altura, levado à manifestação no Rio de Janeiro. Quem também viu sua representação ser inflada por apoiadores foi o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro , um dos nomes mais exaltados ao longo do dia – como tamém o foram Paulo Guedes, ministro da Economia, e o próprio Bolsonaro.
Vestidos de verde-amarelo e carregando bandeiras do Brasil, milhares de manifestantes defendiam a aprovação da reforma da Previdência – que anda a passos lentos na Câmara – e do pacote anticrime apresentado por Moro ao Congresso
. Também houve coro pela instauração da CPI da Lava Toga, que visa apurar a atuação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de outros integrantes do Poder Judiciário.
As manifestações foram convocadas por grupos como o Nas Ruas – encabeçado pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP) –, Patriotas Lobos Brasil, Avança Brasil, Ativistas Independentes, Movimento Brasil Conservador e Direita São Paulo.
Grupos com maior estrutura, como o Movimento Brasil Livre ( MBL ) e o Vem Pra Rua, que, no passado, promoveram manifestações em apoio a Bolsonaro, não entraram na articulação dos protestos desta vez. O MBL, em nota, justificou seu não envolvimento com a "estranha manifestação" alegando que os atos têm "pautas antirrepublicanas", tais como a defesa do fechamento do STF.
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No Rio de Janeiro desde sexta-feira, Bolsonaro
não participou de corpo presente das manifestações. Mas desde cedo usou as redes sociais para inflamar seus apoiadores
.
Ao participar de um culto na Igreja Batista Atitude, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, o presidente disse que os atos representavam a "defesa do futuro" do País. “Hoje, por coincidência, é um dia em que o povo está indo às ruas não para defender o presidente, um político ou quem quer que seja. Ele está indo para defender o futuro desta nação", disse.
Pelo Twitter, seu principal canal de comunicação, Bolsonaro compartilhou vários vídeos e mensagens, enaltecendo os protestos, mesmo sabendo que eles atingiam aliados importantes no Congresso.
Já pelo fim do dia, conforme os manifestantes se dispersavam Brasil adentro, o presidente passou a mudar o tom
. "Há alguns dias atrás, fui claro ao dizer que quem estivesse pedindo o fechamento do Congresso ou STF hoje estaria na manifestação errada. A população mostrou isso. Sua grande maioria foi às ruas com pautas legítimas e democráticas, mas há quem ainda insista em distorcer os fatos", escreveu Bolsonaro, às 16h48.
Já à noite, o presidente começou a pregar a pacificação do País, colocando-se no "mesmo barco" que aqueles políticos atacados durante todo o dia nas ruas.
"Os brasileiros foram pacificamente às ruas para nos cobrar. Sinal que a sociedade não perdeu as esperanças de que nós políticos escutemos sua voz. Não podemos ignorar isso. É hora de retribuirmos esse sentimento. Estamos todos no mesmo barco e juntos podemos mudar o Brasil!", publicou.
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Confira como foram os principais atos deste domingo:
Brasília
Em uma manhã de sol, os apoiadores se concentraram no gramado da Esplanada dos Ministérios, na altura do Palácio Itamaraty. Cinco carros de som ocupavam a pista com mensagens em apoio à agenda do governo federal como a Medida Provisória 870, da reforma administrativa, a reforma da Previdência Social (Emenda Constitucional nº 6/2019) e os projetos de lei que compõem o pacote anticrime. Os manifestantes também declaravam apoio à Operação Lava Jato e pediam a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Cortes Superiores, conhecida como Lava Toga.
A manifestação – convocada por movimentos como Ordem e Progresso; Limpa Brasil; e Organização Nacional dos Movimentos – foi marcada pela diversidade de participantes que criticavam o Supremo Tribunal Federal (STF), protestavam contra o Congresso Nacional e lideranças parlamentares. Alguns manifestantes defendiam a volta do regime monarquista.
Havia faixas também com dizeres favoráveis ao ministro Paulo Guedes e um boneco inflável de 20 metros que misturava a imagem do ministro Sergio Moro com o personagem de quadrinhos e cinema Super-Homem. De acordo com a Polícia Militar, o ato reuniu entre 15 e 20 mil pessoas.
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São Paulo
Diversos movimentos estacionaram carros de som ao longo da Avenida Paulista, na região central da capital, para o ato de apoio ao governo de Jair Bolsonaro. Próximo ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), foi inflado um boneco gigante do presidente.
A polícia não fez estimativa de público. Um dos carros de som, do movimento Brasil Conservador, trazia um grande cartaz com uma fotografia de Jair Bolsonaro. Um caminhão verde-oliva foi estacionado em uma das calçadas da via por um grupo que pede intervenção militar.
A maioria dos manifestantes que caminhava pela avenida, que aos domingos fica fechada para os carros, usava roupas verde-amarelas ou estava enrolado na Bandeira Nacional. Vários participantes levavam faixas e cartazes com as pautas do protesto, como o apoio à reforma da Previdência e ao pacote anticrime, apresentado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. Um grupo de motoqueiros passou em carreata pela Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, que corta a Paulista.
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Rio de Janeiro
Os manifestantes fizeram a concentração no Posto 5 da orla de Copacabana e se espalharam até o Posto 4. Durante a manifestação, que começou às 10h, as únicas faixas liberadas para o trânsito também foram ocupadas. Aos domingos, as faixas junto à praia são interditadas para área de lazer e as do canto, perto dos prédios, ficam liberadas aos motoristas.
Os participantes do ato começaram a chegar ao local por volta das 9h. Muitos deles vestiam roupas com as cores verde e amarela e carregavam faixas. Muitos levavam bandeiras do Brasil, que também estavam expostas nas fachadas de prédios. Ao longo das pistas, ambulantes vendiam produtos como cornetas, apitos e bandeiras, cujos valores variavam de R$ 5 a R$ 30.
A Polícia Militar não calculou o número de manifestantes. Mas agentes presentes ao local informaram que não foi necessário reforçar o esquema de policiamento de rotina realizado pelo 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para os fins de semana na orla de Copacabana. Houve apenas o apoio do 2º BPM (Botafogo) e 23º BPM (Leblon) em áreas desses dois bairros próximos. A Guarda Municipal também estava presente para orientar o trânsito e participar do patrulhamento.
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Aracaju
O ato na capital sergipana foi organizado pelo núcleo estadual do PSL e pelo movimento Sergipe com Jair Bolsonaro. Os manifestantes se reuniram, a partir das 15h, no Mirante da Treze de Julho, na Avenida Beira Mar.
Um vídeo veiculado no perfil do movimento mostra trechos da manifestação, em que pessoas seguram cartazes com os dizeres "Capitão, nenhum soldado desistiu da batalha. Estamos com você até o fim", "Centrão, nós vamos dissolver vocês, um a um" e "A única coisa que coloca medo em político é o povo na rua". Outras comparecem agitando bandeiras do Brasil e de Israel.
De acordo com José Egnaldo Chagas De Souza Junior, representante do movimento, 5 mil pessoas estão presentes no ato. A reportagem também procurou a Polícia Militar a fim de obter o número de participantes, mas a corporação disse que não informa estimativas de público.
Curitiba
Em Curitiba, a manifestação teve como ponto de partida a Praça Santos Andrade, onde está localizado um dos campi da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Por volta das 16h30, o grupo seguiu em direção à Praça Zacarias, a dois quilômetros de distância. Segundo o advogado Thiago Chamulera, um dos organizadores que afirma prezar pela "imparcialidade", do que decorre sua escolha pelo afastamento de "grupos políticos", o corpo de manifestantes foi aumentando, à medida que avançavam ao segundo local. Ele estima que, quando deixou o ato, por volta das 17h40, 20 mil pessoas se encontravam ali.
Na galeria de fotos e vídeos da página do evento no Facebook, é possível ver manifestantes vestindo camisetas com mensagens como "Curitiba sem mimimi" e o número 17 estampado nas costas, em referência ao número utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições. Um participante portava um cartaz que dizia: "Um novo Brasil começa a surgir... Os verdadeiros brasileiros agradecem!"
De acordo com os organizadores, o ato reuniu 15 mil pessoas. A Polícia Militar do estado, no entanto, informou que não faz estimativa de manifestantes em protestos.