Em um ano de mandato, Lula teve 27 agendas internacionais em 24 países
Reprodução: Ricardo Stuckert
Em um ano de mandato, Lula teve 27 agendas internacionais em 24 países


Ao longo de sua campanha e do primeiro ano de governo, o presidente Lula (PT) repetiu várias vezes que um de seus maiores objetivos em sua terceira passagem pela Presidência da República é reposicionar o Brasil internacionalmente, reconstruir relações diplomáticas, ampliar relações comerciais e parcerias estratégicas e buscar investimentos para reverter o isolamento do país durante o mandato de Bolsonaro. 

De acordo com a Secretaria de Comunicação da Presidência, ao longo de 2023 Lula visitou 24 países para 27 agendas, como a COP28, em Dubai, e a participação brasileira em grandes foros multilaterais, como a ONU (Assembleia Geral e Conselho de Segurança), os BRICS, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), G7 e G20.

No próximo ano, espera-se que o ritmo de viagens internacionais de Lula diminua, visto que trata-se de um ano eleitoral muito importante para o PT, que teve em 2020 seu pior resultado no que diz respeito ao número de prefeituras conquistadas no país. 


Diante disso, o presidente já anunciou que em 2024 pretende concentrar suas viagens no território nacional. As exceções serão as viagens de Lula à Etiópia e à Guiana (em função da disputa com a Venezuela pelo controle da região do Essequibo).

As viagens de Lula, segundo a Secom, resultaram em investimentos para o Brasil, mesmo diante de um cenário global em que 30% de queda dos investimentos diretos, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

“Apenas de janeiro a outubro/2023, entraram US$ 44,9 bilhões no Brasil (mais de 220 bilhões de reais), segundo o Banco Central. Na viagem à China, por exemplo, foram fechados 15 acordos de cooperação, que podem render investimentos da ordem de R$ 50 bilhões, além de novas tecnologias. Na volta, foram fechadas parcerias que podem render até R$ 12,5 bilhões em recursos dos Emirados Árabes”, declarou a Presidência, citando parte dos investimentos obtidos para o país.

No entanto, nem tudo é positivo nesse cenário. O tempo que o presidente passou fora do país e os gastos relativos às viagens, somados a algumas falas equivocadas de Lula durante as agendas, serviram de “munição” para a oposição dentro do Brasil e dificultou o andamento de algumas negociações e articulações com o Congresso Nacional, gerando certo desgaste.


Na visão da Doutora em Ciência Política e professora universitária, Priscila Lapa , depois que a imagem do Brasil foi arranhada em diversos mercados durante o governo do ex-presidente Bolsonaro, tornou-se de suma importância o retorno do país a uma posição de protagonismo nas principais arenas de discussão internacional.

“Algumas agendas emergentes exigem posicionamento dos países, sob o risco de ficar fora de mercados importantes e de discussões relevantes ao nível mundial, para que a partir desse novo paradigma, o Brasil possa voltar a atrair investimentos e alavancar seu modelo econômico através de uma relação estabelecida no contexto internacional”.

Ela avalia que “o objetivo foi plenamente atingido”, mas pontua que, nesse processo, também ocorreram alguns erros de percurso que causaram impactos negativos para o presidente Lula.

“Podemos destacar a questão do posicionamento dúbio que o presidente tem em relação a países democráticos e ao próprio conceito de democracia. Ele relativiza o conceito de democracia sob certa conveniência política, e isso tem um efeito ruim, pois Lula foi eleito a partir da base de entendimento de que a democracia é relevante.”

Priscila completa seu ponto de vista argumentando que as falas “desastrosas” de Lula ocorreram de modo pontual e, portanto, não interferiram a ponto de minar os resultados desejados pelo governo brasileiro com as viagens do presidente.


Já o doutorando em Ciência Política com ênfase em Política Internacional pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Igor Sabino , avalia que ao buscar o protagonismo internacional como um guia dos países do sul global, Lula conseguiu alguns resultados interessantes, mas também desagradou alguns aliados no Ocidente.

“Principalmente em relação à guerra da Ucrânia. Mais recentemente, no conflito de Israel contra o Hamas. No caso dos Brics, a gente vê o Brasil aceitando a entrada do Irã, considerado pária pela comunidade internacional”.

“Algumas falas dele também foram percebidas como sendo muito mais parciais à Rússia, embora Lula fale muito sobre essa questão do Brasil ser um país neutro, que busca a paz. Mas no discurso, Lula reconhece que tanto Israel quanto a Ucrânia foram atacados, mas ao reagir eles estariam criando uma guerra, pessoas estão morrendo, e isso é ruim. Na prática, ele acaba meio que fazendo uma equiparação moral entre países que foram atacados e aqueles que os atacaram. É uma postura que destoa bastante de países ocidentais com os quais o Brasil era aliado.”

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