Dia 24 de novembro, a população uruguaia
deverá ir às urnas novamente para eleger o sucessor de Tabaré Vázquez. O governista Daniel Martínez
, da coalizão Frente Ampla, teve 40,7% dos votos no primeiro turno (27 de outubro) e disputa contra Luis Lacalle
Pou, do Partido Nacional, que conquistou 29,9% dos votos.
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Será um duelo entre a esquerda - que está há 15 anos no poder - e a direita. O candidato Guido Ríos, que era conhecido como "Bolsonaro do Uruguai", já foi derrotado, e, além dele, todos os que perderam no primeiro turno devem apoiar Lacalle , o que representa, pela primeira vez, uma ameaça para Martínez e a Frente Ampla. Entenda o perfil dos candidatos:
Daniel Martínez
Nascido em Montevidéu, capital do país, Martínez completou 62 anos em 2019. É engenheiro e político ligado à Frente Ampla, mesmo partido dos dois últimos presidentes: Tabaré Vázquez e José Mujica.
Os uruguaios adquiriram grande confiança na Frente Ampla após a crise político econômica que assolou a Argentina em 2001, e fez com que os argentinos retirassem suas poupanças dos bancos uruguaios, quebrando o sistema bancário local. Nessa época, o Uruguai conheceu a pobreza e a recessão. Os partidos tradicionais, Nacional e Colorado, caíram na opinião pública e deram lugar a Vázquez, candidato da Frente Ampla - partido que reunia grupos de socialistas e centro-esquerdistas.
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Desde então, o país elenca índices desejáveis por quanlquer outro: cerca de 65% de sua população está na classe média; o país tem o terceiro melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da América Latina; e, de acordo, com relatório anual do Latinobarómetro , está entre os líderes de satisfação com a democracia.
Se for eleito, Martínez afirma que dará continuidade às pautas priorizadas pelo partido, mas se mostra aberto aos assuntos do comércio, diferentemente dos governos anteriores. Entretanto, afirmou que se não houver salvaguardas para o desenvolvimento local de tecnologia e compras públicas, hesita assinar qualquer tipo de acordo de livre-comércio, como o do Mercosul .
Pesquisas apontam que o apoio à Martínez cresceu diante ao caos governamental em outros países, que escolheram representantes com ideologias à direita. A falta de habilidade de Macri, presidente da Argentina, ao tratar dos desafios econômicos do país; o caos do governo Bolsonaro, ao lidar com acidentes ambientais - como o rompimento da barragem em Brumadinho, os incêndios na Amazônia e óleo no Nordeste -; além da insatisfação dos chilenos com as políticas do presidente Sebastián Piñera, fazem o Uruguai considerar a direita com extrema cautela.
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Caso os uruguaios optem pelo seguro e conhecido, no dia 24 de novembro, será o quarto mandato consecutivo da Frente Ampla, algo inédito no país. Martínez , no entanto, precisará repensar nas formas de governo, já que a Frente Ampla esteve por muito tempo fechada e terá de se abrir à negociação.
E o que, de fato, ameaça a esquerda no Uruguai?
Tabaré Vázquez , presidente de 2005 a 2010 e novamente eleito de 2015–2020, e José Mujica , que cumpriu mandato de presidência entre 2010 e 2015, promoveram um governo progressista focado em pautas como a legalização do aborto e do comércio da maconha, do casamento gay e da aprovação da Lei Trans - que garante o direito à identidade de gênero - além apostar no investimento em energia renovável e no turismo - hoje responsável por 8% a 10% do PIB nacional, segundo dados do governo.
Entretanto, relativo a segurança e à economia , deixaram a desejar. Durante os dois últimos governos, a criminalidade no país cresceu. Só em 2018, o Uruguai esteve entre os países com as maiores taxas de homicídio da América Latina. Foram 414 crimes de assassinato, o que representa uma taxa de 11,8 homicídios a cada 100.000 habitantes. A nível de comparação, no mesmo ano houve 57.341 assassinatos no Brasil, índice de 27,5 casos por 100 mil habitantes.Os roubos no Uruguai, por sua vez, tiveram aumento de 27,4%, passando de 9.280, em 2017, para 11.827 casos, em 2018.
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A alta taxa de violência se intensificou com a legalização da maconha , já que as disputas entre os narcotraficantes por causa da redução do mercado se intensificaram. Para o segundo turno, parte da população considera candidatos mais à direita que proponham endurecer as leis contra os criminosos .
Lacalle Pou
Lacalle tem 45 anos, é advogado e político uruguaio do Partido Nacional. Basicamente o candidato promete flexibilizar o Mercosul , colocar um fim na "farra" dos criminosos e promover políticas de choque para reduzir o déficit.
Sua família tem histórico político: Luis Alberto de Herrera, seu bisavô, foi uma das figuras mais destacadas na história do Partido Nacional . Seu pai, Luis Alberto Lacalle Herrera, governou o Uruguai de 1990 a 1995, reduzindo principalmente o déficit do Produto Interno Bruto (PIB) em mais de 6%.
O candidato a presidência deste ano seguiu os passos do pai e ingressou na política com apenas 26 anos pelo Partido Nacional . Foi eleito deputado da república em 1999, e reeleito em 2004 e em 2009, ou seja, cumpriu 3 mandatos consecutivos. Em 2014, Lacalle Pou foi eleito senador da república, função que desempenha até então.
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Sobre sua posição política, Lacalle diz que não é nem de esquerda nem de direita e diz que se dedica a "fazer política e interpretar as sensibilidades nacionais". O projeto de lei de Lacalle , em 2010, foi o primeiro a pensar sobre o cultivo individual de maconha no Uruguai , mas o candidato manifestou-se contra a legalização aprovada pelo governo de Mujica. Sobre o assunto, o candidato pensa em substituir parte das vendas em farmácias por clubes de fumantes ou mais cultivo próprio.
Além disso, se for eleito, Pou promete fechar as fronteiras para o tráfico de drogas e considera criar uma lei para abater aviões que transportam drogas nos céus do Uruguai. Sobre a segurança da população, o candidato irá reforçar a presença policial nos bairros.
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Caso Lacalle Pou ganhe o segundo turno das eleições, o retorno do Partido Nacional à presidência, após 20 anos, exigirá do presidente muita habilidade. Além das demandas dos eleitores da Frente Ampla , o candidato terá que conciliar diferentes perfis de eleitores que seguem ideologias de centro e extrema-direita - incluindo eleitores de Manini Ríos, o "Bolsonaro do Uruguai".