Por meio do seu Ministério das Relações Exteriores, o presidente do Uruguai , Tabaré Vázquez, afirmou que, como governo, não considera que classificar a Venezuela como uma ditadura contribua para resolver a crise política em Caracas. Distanciou-se, assim, de outros líderes da Frente Ampla governista, que em entrevistas recentes chamaram de ditatorial o regime de Nicolás Maduro.
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— Não cabe aos Estados definir a natureza do regime governamental de outro Estado — disse o vice-chanceler Ariel Bergamino à rádio Carve nesta terça-feira. — Rotular significa adicionar mais um elemento a um problema que já é sério o suficiente — acrescentou, afirmando que o governo uruguaio está trabalhando para "promover condições favoráveis para um diálogo" na Venezuela e considera que são os venezuelanos que devem resolver sua "crise aguda".
O Uruguai faz parte do Grupo Internacional de Contato para a Venezuela , formado por países europeus e latino-americanos, que tenta promover uma saída pacífica para o impasse político em Caracas, por meio da realização de eleições livres.
Faltando três meses para as eleições presidenciais de outubro, o posicionamento sobre a Venezuela tornou-se um ponto de discórdia dentro da Frente Ampla, uma coalizão de forças de esquerda em que, entre outros, coexistem socialistas, comunistas, social-democratas e ex-guerrilheiros tupamaros.
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O ex-presidente José Mujica
(2010-2015), que faz parte de um setor à esquerda do de Vázquez na Frente Ampla, fundado por ex-guerrilheiros tupamaros e que já foi próximo do chavismo, afirmou que a Venezuela "é uma ditadura
sim, na situação em que está não é nada além de uma ditadura", embora tenha ressaltado que "há ditaduras na Arábia Saudita, há na Malásia e na República Popular da China", e que não se resolver a questão política nesses países por meio de intervenções externas.
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As afirmações do líder histórico geraram reações iradas dentro da coalizão que governa o Uruguai desde 2005, em particular vindas do Partido Comunista, que explicitamente apoia o governo de Maduro.
As diferenças internas levaram a rusgas que foram acentuadas quando o Uruguai decidiu apoiar a suspensão de Caracas do Mercosul em 2017. O ingresso da Venezuela havia sido apoiado pelo governo de Mujica ao lado da argentina Cristina Kirchner e da brasileira Dilma Rousseff quando o Paraguai, outro sócio, estava suspenso do bloco. Já então, o Mercosul considerava que havia uma "ruptura da ordem democrática" na Venezuela.