Giuseppe Conte estava no cargo de primeiro-ministro desde o ano passado
Reprodução/Twitter/Giuseppe Conte
Giuseppe Conte estava no cargo de primeiro-ministro desde o ano passado

O presidente italiano, Sergio Mattarella, encarregou formalmente, nesta quinta-feira (29), Giuseppe Conte de formar um governo de coalizão entre o antissistema Movimento 5 Estrelas(M5S) e o Partido Democrático(PD), de centro-esquerda. Ambas legendas anunciaram na véspera que haviam chegado a um acordo para governar, após uma crise que quase levou a Itália a antecipar as eleições gerais.

Conte concordou em liderar o novo mandato apenas uma semana após renunciar do cargo de primeiro-ministro, em consequência do esfacelamento da aliança de governo que mantinha com a Liga, partido de extrema direita. O  ex-primeiro-ministro deverá consolidar um novo governo na Itália em um processo que durará alguns dias, em uma aliança que deverá reavaliar as políticas eurocéticas e anti-imigração defendidas pelo governo anterior.

O próximo passo do ex-primeiro-ministro será apresentar ao presidente Mattarella uma lista de novos ministros , além das linhas principais que devem ser seguidas pela nova coalizão. Caso o presidente não apresente objeções, os ministros devem assumir suas posições — e Conte será submetido a um voto de confiança nas duas casas do Parlamento.

"Nos próximos dias, eu retornarei ao presidente da República e apresentarei minhas propostas para os ministros", Conte disse a repórteres no palácio presidencial, nesta quinta.

A missão do ex-primeiro-ministro, entretanto, promete não ser fácil, visto que o PD e o M5S são historicamente hostis entre si — o partido antissistema, inclusive, surgiu em oposição à dita "política tradicional" representada por seu novo aliado.

As legendas divergem em questões importantes, especialmente em assuntos como a reforma do Judiciário, a política econômica e a União Europeia, da qual o M5S sempre foi crítico. O M5S, inclusive, anunciou que fará uma votação interna para saber a opinião de seus integrantes sobre a coalizão, com o resultado previsto para ser apresentado antes de a lista de ministros ser levada ao presidente Mattarella

Apesar das divergências, os partidos decidiram agir em conjunto para evitar que novas eleições fossem convocadas e que o líder da Liga, Matteo Salvini , saísse fortalecido.

A aliança entre PD e M5S é uma grande derrota política para o atual ministro do Interior, que, alavancado pela popularidade da Liga após as eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2018, investiu contra seu próprio governo de coalizão. Ele apostava em novas eleições gerais porque via a chance de conseguir a maior bancada parlamentar e formar uma coalizão de extrema direita apenas com o partido Irmãos da Itália, neofascista.

Orçamento é prioridade

Um acadêmico sem filiação, apesar de sua proximidade com o M5S, Conte disse que a questão orçamentária para o ano de 2020 será a prioridade do novo governo.

Em uma versão inicial da plataforma do governo de coalizão, ambos os partidos concordaram em pedir flexibilidade à União Europeia com relação ao déficit orçamentário italiano para "reforçar a coesão social no país", disse o jornal econômico Il Sole 24 Ore, nesta quinta.

O bloco europeu impõe regras orçamentárias aos seus Estados-membro, buscando garantir estabilidade financeira dentro do bloco. Esta foi uma das questões de maior impasse entre Bruxelas e Roma na última gestão, com Salvini culpando as normas da UE por empobrecer os italianos. 

O prospecto de um novo governo de coalizão liderado por Conte , considerado a voz da razão dentro do M5S, aqueceu os mercados. Investidores estão apostando que um novo governo com prudência fiscal evitará desavenças com a Europa. Os índices blue chip da Itália caminham em direção a sua melhor performance semanal em seis meses, com ganhos de quase 2%. Caso o resultado se confirme, o índice italiano será o único europeu a terminar o mês positivamente.

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"Nós achamos que será menos complicado que o M5S e o PD concordem em uma agenda porque acreditamos que as prioridades estabelecidas por ambas forças políticas parecem bastante consistentes em muitas áreas, como na política fiscal, na relação com o bloco europeu e em uma economia verde", disse Matteo Ramenghi, gerente de riquezas da UBS da Itália , à agência de notícias Reuters .

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