A Rússia criticou nesta quarta-feira (8) que o Irã foi provocado a recuar em parte de seus compromissos no acordo nuclear de 2015 por culpa dos Estados Unidos.
Mais cedo, o presidente iraniano, Hassam Rouhani , anunciou que Teerã poderá retomar o enriquecimento de urânio de alto nível se os demais signatários do pacto não cumprirem suas promessas de proteger os setores petrolífero e bancário do país persa, um ano depois de Washington ter desistido do acordo e intensificado sanções contra o regime.
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O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que Moscou espera que as potências europeias cumpram suas obrigações do pacto. Depois de se reunir com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, na capital russa, Lavrov disse a repórteres que a atual situação do pacto tornou difícil para Teerã continuar a honrar seus compromissos.
O ministro russo destacou ser "crucial" que o acordo permite ao Irã exportar petróleo, criticou as sanções americanas como "irrealistas" e pediu reuniões entre os signatários.
Ao anunciar a suspensão de parte do acordo, Rouhani deu 60 dias para as potências globais — incluindo a Rússia — cumprirem suas promessas para que o país consiga driblar as restrições americanas.
O governo de Donald Trump ordenou que os países parassem de comprar petróleo iraniano sob pena de também sofrerem sanções. Lavrov criticou que o pacto nuclear fora "muito debilitado" após a retirada americana.
"O presidente Vladimir Putin disse repetidamente sobre as consequências de medidas impensadas sobre o Irã, como a decisão tomada por Washington (de deixar o acordo). Agora vemos que estas consequências começam a acontecer", reforçou a jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que classificou a situação como "muito séria".
Peskov destacou que a Rússia quer manter vivo o acordo e que seus diplomatas "fazem o que podem" nos bastidores da política externa para salvar o pacto junto a autoridades europeias. O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse no Twitter que o país persa apenas "suspendeu as medidas que os EUA tornaram impossíveis de continuar".
Após a reunião com Lavrov, ele garantiu que Teerã honrará o pacto se as nações da Europa cumprirem com suas obrigações.
Israel reage
Um dos principais desafetos do Irã no Oriente Médio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reforçou a posição histórica israelense e destacou que o país "não permitirá" que o regime persa obtenha armas nucleares.
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"Esta manhã, ouvi dizer que o Irã pretende continuar com seu programa nuclear. Não vamos permitir que o Irã consiga armas nucleares. Continuaremos a lutar contra aqueles que nos matariam", disse Netanyahu, em discurso no Dia de Memória de Israel.
Os Estados ainda não se pronunciaram sobre o recuo do Irã. Durante visita surpresa a Bagdá, nesta terça-feira, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo , se reuniu com autoridades iraquianas para explicar as preocupações de segurança dos EUA sobre Teerã.
Há três dias, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, John Bolton, disse que os Estados Unidos enviaram um porta-aviões e bombardeiros para o Oriente Médio em razão de uma "ameaça crível das forças do regime iraniano".