O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta terça-feira (8) que decidiu abandonar o acordo nuclear firmado com o Irã, retomando as sanções contra o país. Durante o anúncio, o republicano afirmou que "o Irã é o principal estado patrocinador do terrorismo" e que nenhuma ação desse país foi mais perigosa do que sua busca por armas nucleares.
No acordo assinado na gestão de Barack Obama, o Irã havia se comprometido a limitar suas atividades nucleares em troca do alívio em sanções internacionais. A decisão de cancelar a negociação é uma das mais contundentes relacionadas a política externa de Donald Trump em seus 15 meses de governo.
Durante o discurso, Trump disse que o acordo de 2015 deveria proteger os EUA e seus aliados, mas permitiu que o Irã continuasse enriquecendo urânio. O magnata acredita que o país iraniano estaria próximo de obter armas nucleares e lançar uma corrida armamentista no Oriente Médio, com outras nações querendo seguir seu exemplo e também buscando programas nucleares.
Promessa de campanha
Desde a campanha eleitoral, Trump faz severas críticas ao pacto e o classificou como o “pior acordo da história”. O compromisso foi assinado em 2015 pelo antecessor Barack Obama e os líderes do Reino Unido, da França, da Alemanha, da China e da Rússia.
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No acordo, foram reduzidas as sanções econômicas impostas ao Irã em troca de limitações ao programa nuclear do país do Oriente Médio. Os líderes mundiais temiam que o Irã usasse o programa para construir armas atômicas.
Em janeiro, Trump estendeu a suspensão das sanções, concedendo mais 120 dias aos países signatários do acordo ( Reino Unido, da França, da Alemanha, da China e da Rússia) para corrigirem o que chamou de “falhas terríveis”. O prazo termina no próximo dia 12.
Rejeição
Autoridades iranianas reagiram negativamente às eventuais mudanças nos termos assinados em 2015. No mês passado, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, afirmou que o Ocidente não tem direito de mexer no acordo nuclear e no último domingo (6) afirmou que os EUA se arrependeriam de deixar o acordo.
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Logo depois, o ministro de Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, disse que o Irã não “renegociará ou fará adições ao pacto implementado”. Segundo a Reuters, a TV estatal iraniana afirmou que a decisão de Trump é ilegal, ilegítima e enfraquece acordos internacionais.
Reação internacional
O "Plano de Ação Conjunta Global" (JCPOA, na sigla em inglês) foi assinado em 2015 e também envolveu Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia, além da União Europeia. Durante os últimos dias, o presidente francês, Emmanuel Macron, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o secretário britânico de Relações Exteriores, Boris Johnson, viajaram a Washington para tentar demover Trump, sem sucesso.
"França, Alemanha e Reino Unido lamentam a decisão americana de sair do acordo nuclear iraniano. Está em jogo o regime internacional de não-proliferação nuclear", escreveu Macron no Twitter. Já a alta representante da UE para Política Externa, a italiana Federica Mogherini, disse que o bloco está determinado a "preservar" o pacto.
"Ao povo iraniano, digo: não deixem que o desmantelem, é um dos maiores sucessos alcançados pela comunidade internacional", disse a chanceler europeia. "O acordo com o Irã deve ser mantido. Contribui para a segurança na região e freia a proliferação nuclear", criticou o primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentiloni.
O tratado prevê a eliminação dos bloqueios impostos à economia iraniana nos últimos anos. Em troca, o país persa se comprometeu a limitar suas atividades atômicas, incluindo a interrupção do enriquecimento de urânio na usina de Fordow e a redução de suas centrífugas, que passarão de 19 mil para 6,1 mil em 10 anos.
Além disso, Teerã aceitou permitir a realização de inspeções periódicas por parte da Organização das Nações Unidas (ONU) em suas instalações.
A saída do acordo nuclear atende ainda aos interesses dos dois principais aliados dos EUA no Oriente Médio: a Arábia Saudita, liderada por uma rígida monarquia sunita e antagonista do Irã em conflitos na região; e Israel, cuja existência não é reconhecida pelo regime dos aiatolás.
"Apreciamos muito a decisão de Donald Trump . Se continuasse em vigor, o Irã teria bombas nucleares dentro de alguns anos", comemorou Netanyahu, chamando a retirada de "corajosa e correta".
* Com informações da Agência Brasil e Ansa