O Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP) afastou o docente que entregou o “prêmio de pior aluna” para uma estudante do primeiro ano do curso de Bacharelado em Geologia.
O caso veio à tona na última semana, depois que centros acadêmicos da universidade se manifestaram e emitiram uma nota sobre o episódio.
De acordo com o comunicado dos alunos, o professor Joel Sigolo decidiu que daria uma coleção de livros sobre a temática do curso como um prêmio aos dois estudantes com "melhor desempenho". Já ao "pior aluno", Sigolo prometeu que daria um livro de poesias.
No dia do episódio, o professor interrompeu a aula de outra disciplina para falar com os alunos. Após pedir para aluna se levantar para receber o "prêmio de pior aluno", ele pediu para que ela lesse uma das poesias, mas a jovem se recusou.
Uma publicação do Centro Paulista de Estudos Geológicos (CEPEG) sobre o ocorrido aponta que o docente também usou dos traços físicos da aluna para ridicularizá-la na frente da turma.
"Além da violência inerente à "premiação", o Joel Barbujiani Sigolo ainda usou os traços asiáticos da aluna como recurso humorístico na frente de uma sala inteira", diz a legenda.
Constrangimento
A jovem apontada como “pior aluna” teve a identidade preservada pelos colegas. De acordo com eles, ela havia passado por complicações médicas recentemente e, com isso, teve o seu desempenho acadêmico prejudicado.
"No final do primeiro semestre, eu precisei fazer duas cirurgias. Essa matéria [que o professor lecionava] tem quatro provas e só consegui fazer duas", disse a estudante em entrevista ao UOL .
Ela também relatou que enviava cópias de atestados e recomendações médicas aos professores para comprovar a situação. "Eu mandava mensagens toda semana para os professores, deixei claro sempre o que estava acontecendo comigo", disse. "Eu já imaginava que seria eu por tudo o que aconteceu."
O que diz a USP
O Instituto de Geociências da USP afirmou ter recebido "com consternação e pesar" a nota de repúdio divulgada pelos alunos da instituição. "Os fatos narrados são tristes, desrespeitosos e aviltantes e não coadunam, de maneira alguma, com a filosofia da gestão recém-iniciada", afirma a instituição.
De acordo com a USP, o professor envolvido no caso já se aposentou, mas continua ativo via adesão ao quadro permissionário previsto no estatuto da universidade.
A universidade afastou o docente das atividades em sala enquanto a situação ainda é investigada. "Se confirmados os fatos, serão adotadas as sanções cabíveis ao caso à luz do que preconiza a jurisprudência universitária", finaliza a instituição.
O que diz o professor
O professor afirmou ao Metrópoles que não tinha conhecimento que o desempenho dela tinha relação com questões de saúde. De acordo com o docente, o objetivo dos prêmios era "estimular maior dedicação aos estudos".
"É fundamental destacar que não se trata de prêmio para o 'pior' aluno como se coloca nos diversos textos. Essa palavra apareceu posteriormente nos comunicados. O pior ou piores alunos ficaram para trás. Foram os que desistiram ou foram reprovados nesse curso", acrescentou, em entrevista ao UOL.
O professor Joel Sigolo apresentou um pedido formal de desculpas à aluna, aos seus colegas e à direção da instituição e afirma que estende o pedido a todos os membros da comunidade USP e sociedade civil.
“Compreendo que minha atitude causou constrangimento, assumo integral responsabilidade e peço desculpas publicamente pelo ato e subsequente efeito não intencional”, diz o professor.
Sigolo disse, ainda, que compreende a posição da instituição de afastá-lo das atividades até a apuração dos fatos e que o aprendizado com o caso será integrado à sua “prática docente, bem como às minhas relações pessoais e profissionais”.
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