Escola Thomázia Montoro foi palco de um ataque a facas que causou a morte de uma professora
Fernando Frazão/Agência Brasil
Escola Thomázia Montoro foi palco de um ataque a facas que causou a morte de uma professora

Um grupo que monitora o comportamento de perfis extremistas nas redes sociais mostra, em relatório, que boatos no Twitter incentivaram  ameaças de ataques nas escolas com o objetivo de causar pânico na sociedade. 

O relatório "Monitoramento das ameaças massivas de ataques às escolas e universidades: o papel das subcomunidades online que cultuam atiradores em escolas e sua relação com os boatos que produziram pânico generalizado no Brasil a partir do dia 09/04/2023" , aponta que a ação foi iniciada nos primeiros dias desse mês, com suposta ameaça de ataque nas escolas do Rio de Janeiro.

Dias antes da disseminação desses boatos, uma creche na cidade de Blumenau (SC) foi atacada e resultou na morte de quatro crianças .

O iG teve acesso exclusivo ao relatório e conversou com uma das autoras do documento, a jornalista que monitora grupos neofascistas no Brasil desde 2011, Letícia Oliveira. Segundo ela, o documento foi desembargado nesta quarta-feira (19) e será apresentado nesta tarde em audiência para a Câmara dos Deputados.

Letícia explica que mesmo sendo boatos, essas ameças tem que ser levadas a sério.

"A gente não tem como saber se essas ameaças são reais ou não, mas elas devem ser levadas a sério porque elas incentivam algo perigoso", diz ela.

Segundo o texto, foi monitorado, até o dia 13 de abril, 225 perfis que faziam apologia de ataques nas organizações chamadas True Crime Community -  comunidades de crimes reais em tradução livre.

"A comunidade de crimes reais é bem mais abrangente, a gente tá falando de um grupo específico que cultua atiradores de escola e usa hashtags relacionadas ao True Crime", destaca Letícia.

Até o dia 13, dos 225 perfis, 56 foram suspensos, 40 contas estavam ativas e privadas e 132 estavam com as contas ativas e públicas, com o conteúdo disponível no Twitter.

O relatório mostra ainda que ataques em escolas de Goiás, Amazonas e Ceará foram evitados na semana passada por conta do monitoramento feito pelas pesquisadoras. Além disso, o documento revela que os autores dos atentados em Amazonas e Goiás faziam parte da subcomunidade True Crime Community.

As redes sociais

Em reunião interministerial nesta terça-feira (18), o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino , anunciou que 756 perfis de redes sociais foram retirados do ar nos últimos 10 dias por estimular ataques nas escolas .

Dino ainda citou mais números a respeito do tema nos últimos 10 dias. Veja:

  • 225 pessoas presas ou menores apreendidos;

  • 155 buscas e apreensões realizadas;

  • 1.595 boletins de ocorrência registrados;

  • 1.224 casos em investigação em todo o território nacional;

  • 694 adolescentes e adultos intimados a prestar depoimento em delegacias;

  • 7.473 denúncias pelo canal de denúncias oficial, o Escola Segura , criado especialmente para o caso de ameaças nas escolas.

Combate a violência nas escolas

Letícia Oliveira também coescreveu um relatório de enfrentamento a violência nas escolas entregue durante o governo de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano passado. O documento foi iniciado após ataques em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo , que deixaram 4 mortos e 13 feridos em novembro de 2022.

Segundo a pesquisadora, desde o ano passado já era possível identificar uma tendência de aumento de ataques nas instituições de ensino.

"A gente faz esse monitoramento desde o ano passado, desde o caso de Aracruz, então a gente já via tendência de aumento. Depois de Aracruz teve a tentativa de atentado na escola de Monte Mor, no interior de São Paulo, e mais tentativas depois do carnaval, então a tendência só foi se confirmando", diz Letícia.

Para a jornalista, é necessária "uma regulamentação urgente das redes sociais " para os boatos, ameaças e desinformações sobre ataques nas escolas.

"A gente tem que ver primeiro as redes sociais, é urgente que a gente tenha uma regulamentação das redes para além do que do que já foi feito com o monitoramento do Ministério da Justiça, porque essas plataformas são responsáveis pelo conteúdo que é difundido nelas", afirma Oliveira.

Ontem, durante reunião interministerial com o presidente Lula, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, t ambém sugeriu uma regulamentação das redes socais .

"Precisamos de uma vez por todas determinar que o que não pode ser feito no mundo real não pode ser feito no mundo virtual. Para mim bastaria, presidente Lula, um artigo na lei a ser regulamentado pelo Congresso: o que não pode no mundo real não pode no mundo virtual, é simples", defendeu o ministro.

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