Talibãs cercam milícia que resiste no Afeganistão, mas afirmam querer negociar
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Talibãs cercam milícia que resiste no Afeganistão, mas afirmam querer negociar

Talibã anunciou nesta segunda-feira (23) que cercou o Vale do Panshir, considerado o bastião da resistência, mas afirmou que deseja negociar com suas lideranças. Localizada no Nordeste do Afeganistão, a província é a única das 34 do país que ainda não foram controladas pela milícia talibã.

Durante a noite, informações não confirmadas citaram confrontos nos arredores do vale, onde o vice-presidente do governo derrubado pelos talibãs, Amrullah Saleh, se refugiou e decretou a resistência contra os fundamentalistas.

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Nesta segunda, as forças do Talibã limparam três distritos da província de Baghlam — que foram tomados por grupos de milícias locais na semana passada — e se estabeleceram nas províncias de Badakhshan, Takhar e Andarab, perto do Vale do Panshir, disse o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, no Twitter.

Ainda segundo Mujahid, a passagem de Salang, na principal rodovia que corta o Afeganistão de Norte a Sul, foi aberta e as forças inimigas bloqueadas no vale do Panshir. Mas sua declaração sugeria que não havia conflitos no momento.

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"Nossos combatentes estão posicionados perto de Panshir", disse Mujahid, antes de dizer que  "o Emirado Islâmico [como eles se autodenominam] está tentando resolver os problemas pacificamente".

No domingo, contas pró-Talibãs nas redes sociais anunciaram que "centenas" de combatentes seguiam para Panshir, mas contas favoráveis à resistência negam qualquer avanço dos talibãs, alegando que emboscadas impediram o avanço da milícia na região.

Panshir é conhecido como um reduto anti-Talibã desde a década de 1990. A resistência foi organizada nas últimas semanas ao redor da Frente Nacional de Resistência liderada por Ahmad Masoud e Saleh, um dos homens de confiança do pai de Massoud, Ahmad Shah Massoud, um importante  “senhor da guerra” até ser assassinado pela Al-Qaeda em 2001.

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Sua orografia, um vale protegido por montanhas íngremes entre as quais uma estrada estreita corre ao longo do rio Panchami,a torna uma fortaleza natural a apenas 65 km de Cabul. Também ajuda o fato de sua população, atualmente com menos de 200 mil pessoas, ser quase exclusivamente tadjique (cerca de um quarto dos 38 milhões de afegãos) e com laços tribais estreitos.

Massoud, cujas forças incluem remanescentes do exército afegão e unidades de forças especiais, pediu negociações para formar um governo inclusivo para o Afeganistão, mas prometeu resistir se as forças do Talibã tentarem entrar no vale.

Economia debilitada

Uma semana após tomar a capital, Cabul, o Talibã anunciou um presidente interino para o Banco Central do Afeganistão para ajudar a organizar as instituições e resolver os problemas econômicos que a população enfrenta, informou o movimento islâmico em comunicado nesta segunda.

O nome escolhido para a função foi o de Haji Mohammad Idris, ex-chefe de finanças do Talibã durante a gestão de  Mullah Akhtar Mansour, morto em um ataque de drones em 2016. Embora não tenha perfil público fora do movimento e nenhum treinamento financeiro formal ou educação superior, ele é respeitado por sua experiência, disse um importante líder talibã.


Desde a tomada de Cabul pelo Talibã, no dia 15, bancos e muitas empresas privadas do Afeganistão permanecem fechados e escritórios do governo estão vazios. O Talibã tem tentado persuadir especialistas e técnicos a voltarem a trabalhar para fazer a economia funcionar novamente, mas muitos altos funcionários e outros associados ao governo pró-Ocidente estão na clandestinidade ou no exílio.

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