Um adolescente de 16 anos matou uma criança e feriu outras três pessoas na manhã desta terça-feira (8) ao invadir a Escola Municipal Maria Giacomazzi, em Estação, no interior do Rio Grande do Sul .
As circunstâncias do ataque ainda estão sendo investigadas. O adolescente, que não tinha antecedentes criminais, foi apreendido.
O caso é o quinto ataque em escolas registrado desde 2019 no Rio Grande do Sul, que, em 2024, criou um núcleo para prevenir a radicalização de jovens e prevenir novas ocorrências.
Desde a criação, o Núcleo de Prevenção à Violência Extrema, vinculado ao Ministério Público, impediu 178 ataques.
Cooptados pelo extremismo
De acordo com o Guia de Prevenção à Radicalização e Mobilização à Violência, publicado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, adolescentes isolados ou vítimas de bullying são mais suscetíveis à cooptação por grupos extremistas em redes sociais e plataformas de mensagens.
O documento descreve um padrão de recrutamento não estruturado, chamado de “ salad bar extremista”, no qual jovens absorvem fragmentos de ideologias violentas — como misoginia, racismo, neonazismo e discursos de ódio — sem aderir formalmente a uma organização. TikTok, Discord e Telegram são citados como canais recorrentes de disseminação desse conteúdo.
Processo gradual
A psicóloga Patrícia Moura, ouvida para pela reportagem, explicou que o processo costuma ocorrer em fases.
“A radicalização entre jovens geralmente começa por uma sensação de vazio existencial. Eles não se sentem parte da família, da escola ou da sociedade, e encontram em grupos extremistas um lugar de pertencimento” , afirmou ao Portal iG .
A especialista aponta que a adolescência é um período de fragilidade emocional, no qual a construção da identidade pode ser distorcida pela exclusão social ou por violências como o bullying.
Casos analisados pelo NUPVE (Núcleo de Prevenção à Violência Extrema) demonstram que, em todos os episódios de ataques a escolas investigados, havia histórico de isolamento ou agressões psicológicas anteriores.
Segundo o guia, a radicalização tende a se consolidar a partir da perda de senso crítico e da adoção progressiva de discursos violentos. O jovem passa por uma ruptura com seu entorno social, adere incondicionalmente ao novo grupo e passa a justificar a violência como ação legítima.
Patrícia Moura destacou que “ a busca por sentido na vida é uma das principais motivações para o engajamento de jovens em causas radicais. Muitos encontram nesses grupos uma narrativa que lhes oferece propósito, mesmo que destrutivo” .
O uso da tecnologia é apontado como fator-chave no processo. Algoritmos, anonimato e segmentação de conteúdo contribuem para a criação de bolhas ideológicas .
Plataformas de jogos on-line também aparecem como espaços de propagação dessas ideias, com oferta de comunidades que validam comportamentos violentos e reproduzem discursos extremistas.
Sinais de alerta
A identificação precoce de mudanças comportamentais é indicada como fundamental. Entre os sinais de alerta estão o isolamento, o discurso agressivo, o interesse por crimes ou massacres, e a adoção de símbolos de ódio.
“São manifestações de sofrimento psíquico e potenciais alertas de risco” , afirmou a psicóloga.
O guia recomenda ações integradas entre escolas, famílias e poder público, com foco na prevenção. As estratégias sugeridas incluem capacitação de professores, fortalecimento dos vínculos afetivos e programas específicos de desradicalização.
Em Estação, a prefeitura suspendeu as aulas em toda a rede municipal por tempo indeterminado. Equipes de apoio psicológico foram mobilizadas para atendimento às famílias e à comunidade escolar.
A Brigada Militar acionou o protocolo de resposta a ocorrências críticas e investiga as circunstâncias do ataque.