Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro
Lula Marques/ Agência Brasil - 17/08/2023
Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro

Ministério da Agricultura e Pecuária empenhou um total de R$ 47,2 milhões em emendas aos municípios de Canarana e Campo Verde, no Mato Grosso, no fim de julho deste ano. Nas duas cidades, o maior produtor de soja do país, Eraí Maggi Scheffer — de quem o  atual chefe da pasta, Carlos Fávaro, é amigo —, detém ao menos dez fazendas.

Ele e o primo, o ex-governador Blairo Maggi, ajudaram na aproximação de  Fávaro  com o  presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e trabalharam para que ele fosse indicado ao posto.

Segundo dados coletados pelo iG no Portal da Transparência, Canarana foi a cidade que mais teve recurso reservado do estado no período pelo ministério, sendo um valor de R$ 26.360.088,76. 

Em seguida, aparece a cidade de Matupá, com R$ 25.197.182,29. Campo Verde está em terceiro lugar entre os priorizados da lista, com R$ 20,9 milhões.

Conforme o descritivo do site do governo federal, o montante destinado a Canarana foi para "manutenção de estradas vicinais" do município mato-grossense. O detalhamento é o mesmo no caso de Campo Verde.

Em Matupá, a descrição é similar, indicando que o valor foi destinado ao "serviço de manutenção e adequação das estradas vicinais".

O dinheiro faz parte das emendas do orçamento secreto que foram extintas após serem derrubadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro de 2022.  Com 6 votos favoráveis e 5 contrários ao veto, a Corte considerou as "emendas do relator" um instrumento inconstitucional.

Parte do valor em emendas que estava previsto para o orçamento  do país de 2023 foi transferida para os ministérios para financiar programas.

O iG entrou em contato com o Ministério da Agricultura e Pecuária para comentar a quantia empenhada aos municípios, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Proximidade com Eraí Maggi

Conhecido como "Rei da Soja" e um dos principais nomes do agronegócio brasileiro, Eraí Maggi é dono da empresa Bom Futuro, uma das maiores do ramo. A companhia conta com mais de 30 fazendas e atua na produção de milho, soja, algodão, pecuária, entre outros. Ele ainda atua nos setores de piscicultura, sementes, energia, aeroportuário e imobiliário.

Carlos Fávaro, Eraí Maggi e o também empresário Kleverson Scheffer em registro de março de 2022, quando Fávaro ainda não era ministro
Reprodução / Facebook - 23.03.2022
Carlos Fávaro, Eraí Maggi e o também empresário Kleverson Scheffer em registro de março de 2022, quando Fávaro ainda não era ministro

Em Campo Verde, a empresa tem as fazendas Fartura e Filadélfia, além de uma usina hidrelétrica no rio Galheiros.

Na última semana, Fávaro prestou depoimento à CPI do MST da Câmara. Na ocasião, saiu em defesa de Blairo e Eraí Maggi, mencionou a amizade entre eles e confirmou que eles são seus "padrinhos" políticos.

A declaração se deu após o  relator da CPI, deputado federal Ricardo Salles (PL-SP),  afirmar que Fávaro era o "representante" dos Maggi no governo do presidente Lula.

"Eu tenho muito orgulho, porque os dois são dois exemplos de produtores. Os dois são meus amigos e meus padrinhos mesmo", disse Fávaro na comissão. "Eu sou representante do Blairo e de todos os produtores que fazem as coisas certas, todos que respeitam o meio ambiente [...] Não represento quem faz coisa errada", acrescentou.

Salles rebateu a fala dizendo que Fávaro só protege os Maggi, pois "só eles são bons na soja, os outros são fascistas".

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