O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) admitiu que sabia da ligação telefônica que serviu como argumento para a decisão de afastar na última segunda-feira (22) o juiz da Lava Jato Eduardo Appio. A declaração do ex-ministro da Justiça foi dada em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews.
"Eu fiquei a par dessa ligação quando ela foi feita, à época, porque eu tenho uma ligação [com João Malucelli], nunca escondemos isso", explicou o parlamentar ao ser perguntado sobre o tema.
O magistrado assumiu a 13ª Vara em fevereiro, após o juiz Luiz Antônio Bonat, ser promovido a desembargador do TRF-4. Apesar de carregar opiniões que criticavam a condução da Lava Jato, Appio sempre afirmou que não "enterraria" a operação: "A Lava Jato na minha mão não vai morrer, não vou ser o coveiro oficial da Lava Jato, de forma alguma. Eu não aceito esse papel histórico".
Appio, que é um desafeto de Moro e do deputado cassado Delyan Dellagnol, sempre foi contrário aos métodos utilizados na Lava Jato: "Mesmo no auge da Lava Jato, quando havia essa tsunami popular em favor da operação, eu me sentia muito à vontade, como professor, para fazer uma crítica ao que estava acontecendo, porque entendia que havia excessos", disse em uma de suas declarações.
Afastamento
A decisão ocorreu após uma representação do desembargador federal Marcelo Malucelli. O magistrado alegou que o filho dele, João Eduardo Barreto Malucelli, recebeu “ameaças” através de um telefonema.
De acordo com a denúncia, a ligação aconteceu de um número não identificado e a pessoa se apresentou como Fernando Gonçalves Pinheiro, um suposto servidor do setor de saúde da Justiça Federal. Só que não há nenhum funcionário com esse nome atuando no local.
Malucelli é pai de um sócio do ex-juiz Sergio Moro. O desembargador se colocou como suspeito para analisar qualquer caso que faça parte da Operação Lava Jato.
O Conselho do TRF-4 argumentou que há indícios de que Eduardo Appio tenha sido o responsável por ligar para o filho de Marcelo. Por isso ficou decidido que o juiz fique afastado.
A partir de agora, o agora antigo titular da Lava Jato terá 15 dias para apresentar a defesa. Pessoas próximas de Appio apostam que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) derrubará a decisão.
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