Durante a posse, a nova ministra do Meio Ambiente , Marina Silva (Rede) agradeceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL). O último ministro da pasta foi o administrador e político brasileiro, Joaquim Leite , nomeado em 2021.
Duas horas antes do início do evento, uma grande fila já se estendia ao redor do pátio do Palácio do Planalto, onde ocorreu a transmissão de cargo nesta quarta-feira (4).
Marina começou agradecendo os votos no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o convite do petista para ela assumir a pasta.
"Agradeço ao presidente Lula de pela terceira vez ter me convidado para contribuir com a política ambiental brasileira. Uma alegria que tenho sem desconhecer o peso da responsabilidade dessa tarefa, sobretudo nesse momento da história do nosso país", disse Marina.
"O que vivemos nesses anos que se passaram foi um completo desrespeito pelo patrimônio socioambiental brasileiro. Povos indígenas, quilombolas sofreram a invasão de suas terras e territoriais. Nossas unidades de conservação foram atacadas por pessoas que se sentiram autorizadas pelo mais alto escalão do governo. Boiadas se passaram no lugar onde deveriam se passar apenas políticas de proteção ambiental", acrescentou Marina Silva, fazendo referência à expressão "passar a boiada", usada pelo ex-ministro Ricardo Salles, do governo Bolsonaro, quando ele defendeu a aprovação de flexibilizações ambientais.
A nova ministra anunciou também o novo nome do ministério, que agora passa a se chamar Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima.
"Esse aumento nominal tem uma razão que não é retórica. A emergência climática se impõe, queremos destacar daquele que é o maior desafio global que é vivido pela sociedade. Países, pessoas e ecossistemas mostram-se cada vez menos capazes de lidar com as consequências e comprovadamente os mais pobres são os mais afetados", explicou Marina.
Secretaria do combate ao desmatamento
Marina Silva anunciou a criação de uma secretaria extraordinária do controle do desmatamento. A ministra informou também que será retomado o controle do Serviço Florestal Brasileiro e da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam).
Quem é Marina Silva?
Marina Silva iniciou sua trajetória política no Acre e se tornou vereadora de Rio Branco em 1989, ainda filiada ao PT. Em 1991, virou deputada estadual e, quatro anos depois, passou a ser senadora. Por conta do seu conhecimento ambiental, aceitou ser ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Marina se tornou referência mundial no combate ao desmatamento, mas reclamou inúmeras vezes de não ter o mesmo prestígio dentro do governo. Ela enfrentou conflitos com outros ministros, porque muitos colocavam os interesses econômicos acima da preservação ambiental.
A maior divergência ocorreu em 2008, quando se desentendeu com Roberto Mangabeira Unger, então ministro da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Ela também enfrentou problemas com a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua adversária política em 2010 e 2014.
Por causa de diversos problemas, Marina entregou sua carta de demissão a Lula e deixou o PT, migrando para o Partido Verde. Com enorme prestígio internacional, passou a trabalhar para se colocar como uma candidata à Presidência da República.
Em 2010, Marina não era vista como um nome capaz de vencer as eleições. À época, a favorita era Dilma Rousseff, apoiada por Lula, e o maior opositor era José Serra, então governador de São Paulo e representante do PSDB.
Porém, durante a campanha, Silva passou a receber apoio de importantes lideranças evangélicas e também dos eleitores mais jovem, que se identificaram com as pautas ambientais. Vários grupos criaram campanhas nas redes sociais para Marina, o que originou a chamada Onda Verde.
Apesar do crescimento, ela terminou a eleição 2010 em terceiro lugar com 19,33% contra 32,61% de Serra e 46,91% de Dilma.
Marina saiu das eleições 2010 com enorme popularidade, mas não se colocou como candidata à Presidência. Em 2014, aceitou ser vice da chapa de Eduardo Campos, no entanto, se tornou a principal liderança do grupo por causa da morte do ex-governador de Pernambuco.
A ex-ministra apareceu em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos bem próxima de Dilma. O PT identificou internamente que teria maior chance de vencer Aécio Neves (PSDB) em um eventual segundo turno contra o tucano.
Marina virou alvo da campanha de Dilma, o que a deixou muito irritada. A ex-ministra viu seu índice cair nas pesquisas e terminar em terceiro lugar nas eleições 2014.
A ex-senadora rompeu com o PT e declarou apoio a Aécio, que foi derrotado no segundo turno por Rousseff.
Em 2018, Marina lançou sua candidatura pela Rede Sustentabilidade, partido que ela fundou. Nas primeiras pesquisas de intenções de voto, Silva apareceu em primeiro lugar quando não tinha o nome de Lula nas indicações.
Após o início da campanha, a ex-senadora viu seu desempenho cair. Ela perdeu votos para Fernando Haddad (PT), que chegou ao segundo turno, e Ciro Gomes (PDT), que obteve o terceiro lugar. Marina ficou em 8° lugar com apenas 1% dos votos, seu pior índice.
Marina descartou qualquer possibilidade de concorrer à Presidência e se colocou à disposição para concorrer ao cargo de deputada federal pelo estado de São Paulo, o que se concretizou neste ano.
Silva conseguiu ser eleita e se reaproximou do ex-presidente Lula, sendo cogitada para ocupar o cargo de ministra do Meio Ambiente.
Com a vitória do PT, iniciaram as negociações para que Marina voltasse ao Ministério. Na semana passada, ela foi convidada para ser Autoridade Climática, mas ela relatou que só faria parte do novo governo se fosse para comandar a pasta do Meio Ambiente.
No dia 29 de dezembro, Marina foi confirmada no cargo. Ela retornará para o Ministério do Meio Ambiente 14 anos depois da sua saída.
Veja quem são os 37 ministros escolhidos por Lula:
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Gabinete de Segurança Institucional: general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias
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Secretaria-Geral: Márcio Macêdo (PT)
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Comunicações: Juscelino Filho (União Brasil)
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Integração e Desenvolvimento Regional: Waldez Góes (PDT)
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Educação: Camilo Santana (PT)
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Minas e Energia: Alexandre Silveira (PSD)
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Esportes: Ana Moser
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Transportes: Renan Filho (MDB)
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Defesa: José Múcio Monteiro
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Casa Civil: Rui Costa (PT)
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Justiça: Flávio Dino (PSB)
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Fazenda: Fernando Haddad (PT)
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Portos e Aeroportos: Márcio França (PSB)
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Agricultura: Carlos Fávaro (PSD)
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Pesca: André de Paula (PSD)
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Gestão: Esther Dweck
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Relações Institucionais: Alexandre Padilha (PT)
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Cidades: Jader Filho (MDB)
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Advocacia-Geral da União: Jorge Messias
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Controladoria-Geral da União: Vinícius Marques de Carvalho
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Turismo: Daniela Carneiro (União Brasil)
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Previdência Social: Carlos Lupi, presidente do PDT
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Ciência e Tecnologia: Luciana Santos (PCdoB)
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Planejamento: Simone Tebet (MDB)
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Saúde: Nísia Trindade
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Relações Exteriores: Mauro Vieira
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Igualdade Racial: Anielle Franco
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Indústria e Comércio: Geraldo Alckmin (PSB)
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Povos Indígenas: Sônia Guajajara (PSOL)
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Mulheres: Cida Gonçalves (PT)
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Direitos Humanos: Silvio Almeida
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Cultura: Margareth Menezes
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Desenvolvimento Social: Wellington Dias (PT)
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Meio Ambiente e Mudanças Climáticas: Marina Silva (Rede)
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Trabalho: Luiz Marinho (PT)
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Desenvolvimento Agrário: Paulo Teixeira (PT)
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Secretaria de Comunicação Social: Paulo Pimenta (PT)
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