A última quinta-feira (31) foi marcada por abalos na chamada terceira via cotada para as eleições presidenciais deste ano. Em meio à possibilidade de desistência do governador de São Paulo, João Doria (PSDB) , e do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) de concorrer ao Planalto, o futuro candidato da rota proposta como uma alternativa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou incerto.
Na tarde de quinta, Moro anunciou a desfiliação do Podemos e também a desistência da pré-candidatura à Presidência . "Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor", escreveu o ex-ministro da Justiça em publicação nas redes sociais.
Pouco depois, em pronunciamento, Doria recuou e afirmou que vai seguir o planejado: renunciar ao governo de São Paulo e manter a pré-candidatura . "Daqui para frente, nosso trabalho continua em São Paulo pelas mãos de Rodrigo Garcia, que, a partir do dia 2, será governador do estado de São Paulo", disse ele na ocasião. "Nem Bolsonaro, nem Lula tem a confiança da maioria dos brasileiros [...] A partir do próximo dia 2, estarei do lado de vocês para mostrar que existe uma nova alternativa para o Brasil."
Conforme pesquisa eleitoral do Datafolha , divulgada na última semana, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem 43% das intenções de voto, e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem 26%, aparecem o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), com 8%, Ciro Gomes (PDT), com 6%, e Doria, com apenas 2%.
De acordo com Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper, a desistência de alguns candidatos da terceira via já era esperada. "[Esse movimento] significa uma convergência necessária, justamente para que essa terceira via se firme. A terceira via como está, está totalmente pulverizada, descentralizada, e isso torna mais difícil o desafio de bater uma das duas candidaturas da polarização [de Lula ou Bolsonaro]", explica.
"A eles dois [Lula e Bolsonaro] interessa que essa terceira via não se viabilize, e como desse jeito é mais difícil de ela se assegurar, acho que a desistência de alguns candidatos era esperada e isso ajuda nessa convergência", acrescenta.
Embora Doria não tenha deixado a corrida presidencial , Consentino avalia que a maioria dos eleitores de Moro não deve migrar para o tucano, podendo, inclusive, fortalecer a candidatura de Bolsonaro. "Acredito que possa haver uma migração para o presidente Jair Bolsonaro, que já vinha mostrando algum crescimento nas últimas pesquisas ", afirma. "Então, pode ser que alguns bolsonaristas que tenham migrado para Moro voltem a apoiar Bolsonaro."
Um fator que pode definir a escolha dos eleitores de Moro para um novo nome ao Planalto é o índice de rejeição dos pré-candidatos. De acordo com a última pesquisa XP/Ipespe, Doria aparece com a segunda maior taxa de rejeição entre a população brasileira, com 58% , atrás somente do presidente Bolsonaro, que aparece com 63%.
No mesmo levantamento, Moro aparece em terceiro (55%), seguido por Ciro Gomes (45%) e Lula (42%).
"Acho que o 'espólio' de Moro acaba se espalhando um pouco. O mais difícil é ir para a esquerda, para Lula, o que de fato não aconteceria", acrescenta o especialista.
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Segundo o cientista político, nesse cenário, nomes como o da senadora Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes também podem registrar certo crescimento nas pesquisas. "O problema é que Ciro Gomes tem um teto muito complicado, porque ele é mais identificado com a esquerda, e tem uma candidatura de esquerda muito forte que acaba segurando o crescimento dele, que é a do ex-presidente Lula. Então, acho que ele tem mais dificuldade para herdar esses eleitores, porque não vejo o perfil que vota em Moro migrando para o Ciro."
Decisão de Doria desagrada parte do PSDB
Embora o tucano tenha vencido as prévias do partido, realizadas em novembro do ano passado , parte da legenda não ficou contente com a decisão de Doria de deixar o governo de São Paulo e manter a pré-candidatura ao Planalto, uma vez que já havia um movimento dentro da sigla para lançar Eduardo Leite à Presidência.
"Não acho que esse movimento deixe de existir, sobretudo porque essa decisão de quem vai ser o candidato do partido tem que ser tomada na convenção nacional. Então, se as pesquisas continuarem dando João Doria em patamar muito baixo e ele não se beneficiar com a desistência do Moro, esse movimento contra a candidatura dele e a favor da candidatura Leite pode voltar a crescer", conclui Consentino.
Em meio a rumores de uma crise dentro do partido, antes da declaração de Doria, o presidente do partido, Bruno Araújo, reafirmou o nome do tucano na disputa e disse que o PSDB respeitaria o resultado da eleição interna .
"Venho, por meio desta, reafirmar que o candidato a Presidente da República pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) é o Governador do Estado de São Paulo, João Doria, escolhido democraticamente em prévias nacionais realizadas em novembro de 2021. As prévias serão respeitadas pelo partido. O governador tem a legenda para disputar a presidência da República. E não há, nem haverá qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido", diz um trecho da carta endereçada aos governadores, deputados federais, senadores, deputados estaduais, diretórios estaduais, e Executiva Nacional da legenda.