Setores da esquerda têm intensificado as críticas a uma possível chapa entre o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato a retornar ao Palácio do Planalto. Adversários históricos das gestões tucanas de Alckmin no governo de São Paulo, setores do PT no estado e o ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), que é próximo de Lula, estão em campanha contra a aliança.
As conversas começaram no ano passado, com troca de elogios públicos entre os dois e ganharam força com a saída de Alckmin do PSDB e um jantar, em dezembro, em que ele e Lula posaram para fotos. O ex-tucano tem convite para ir para o PSB, que negocia apoio a Lula, mas as conversas sobre a filiação estagnaram nas últimas semanas.
Os principais pontos de tensão com a esquerda são medidas tomadas pelo governo paulista durante o comando de Alckmin, como uma reintegração de posse ocorrida há dez anos em São José dos Campos (SP) e que terminou com dezenas de sem-teto feridos e presos.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) marcou um ato para lembrar o episódio na ocupação Nova Canudos, na Zona Norte de São Paulo, nesta sexta-feira.
Líder do MTST, Boulos, que é pré-candidato a governador, escreveu ontem nas redes sociais que jamais serão esquecidas o que chamou de “cicatrizes do governo Alckmin”. Ele foi um dos detidos na operação policial no bairro Pinheirinho.
“Lula, sim; Alckmin, não”, disse Boulos em postagem no Twitter em que faz referência a um artigo seu no jornal Folha de S.Paulo com críticas à aliança entre o petista e o ex-governador.
No PT paulista, um abaixo-assinado virtual contra a união reunia 1.285 adesões até o início da noite de ontem. No texto, Alckmin é descrito como um político com “longa trajetória de combate às posições nacionais, democráticas, populares e desenvolvimentistas” e é criticado por ter apoiado o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na direção do partido, no entanto, grupos que são frontalmente contra a chapa são tidos como minoritários e sem força para barrar a eventual aliança.
Memória
Antes de estar em condições de se colocar como vice, o ex-governador precisa se filiar a um partido. Desde que foi convidado pelo PSB, em 13 de dezembro, Alckmin não deu uma resposta à sigla.
Além disso, no período, se reuniu com outra legenda que também lhe ofereceu espaço, o Solidariedade. Como mostrou ontem o colunista Lauro Jardim, a postura do governador é vista como a de alguém que dá sinais trocados ao PSB.
O deputado federal Rui Falcão (SP) é outro que tem trabalhado para expor divergências com o ex-governador, lembrando passagens de suas gestões como a tentativa de fechamento de escolas estaduais e as políticas de privatizações de estatais de saneamento e do setor de energia. No final de dezembro, ele chegou a dizer que o embarque de Alckmin na campanha de Lula poderia “esfriar” a militância.
Outros petistas buscam contemporizar as críticas e defendem o acordo. O deputado federal José Guimarães (CE) diz que o partido deve se concentrar em derrotar Bolsonaro:
"Não dá para fazer política olhando para o retrovisor. Prefiro que o Lula lidere um amplo programa de reconstrução nacional e construa uma ampla aliança."
O presidente estadual do PT paulista, Luiz Marinho adota um meio-termo: diz que os debates sobre os problemas deixados pela gestão do ex-governador precisam ser colocados, mas que a aliança com Alckmin pode ser cogitada mais para frente, desde que não haja alternativas.