A postura do procurador-geral da República, Augusto Aras, em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e demais integrantes do governo incomoda ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que vêm aumentando o grau de reprimendas públicas direcionadas ao chefe do Ministério Público Federal. Para uma ala da Corte, ele é pouco incisivo ao tratar de assuntos que respingam no Palácio do Planalto.
Ministros como Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin tomaram decisões recentes contrariando manifestações de Aras e de outros integrantes da equipe. Parte dos despachos do STF também serviram como uma espécie de atuação preventiva para permitir o prosseguimento de investigações sensíveis.
Os embates mais recentes ocorreram com Moraes, relator de inquéritos que têm como alvos apoiadores, aliados e o próprio presidente. Em 3 de dezembro, ao abrir mais uma investigação contra Bolsonaro, o ministro fez duras críticas à PGR, destacando que não basta abrir apurações preliminares internas, como alegou Aras. Na semana passada, Moraes negou a suspensão da apuração sobre a associação feita pelo presidente entre a vacina contra a Covid-19 e o desenvolvimento da Aids e cobrou da PGR o envio de documentos, sob pena de “obstrução de Justiça”.
O procurador-geral costuma citar investigações preliminares, sem a supervisão do STF, para rejeitar pedidos de apuração feitos ao tribunal por adversários políticos do governo. Tais apurações, porém, não resultam necessariamente em inquéritos. Essa postura também foi criticada por Cármen Lúcia, que mandou a PGR detalhar medidas adotadas para apurar ameaças em tom golpista feitas pelo presidente no Sete de Setembro.