O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que o líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), passou à condição formal de investigado. A comissão apura a participação dele na negociação de vacinas no Ministério da Saúde, em especial nas tratativas com a Precisa, a empresa que representava no Brasil a vacina Covaxin . Barros começou a prestar depoimento na CPI na semana passada, mas a audiência foi interrompida após senadores avaliarem que ele estava mentindo
"A partir de hoje faz parte da investigação, formalmente como investigado, o deputado Ricardo Barros, Nós estamos agregando o nome do Ricardo Barros aos nomes já investigados em função dos óbvio indícios de sua participação nessa rede criminosa que tentava vender vacina através de atravessadores, comprometendo muitas vezes setores da sua própria família e fazendo com que o país perdesse oportunidade de comprar vacina na hora certa. Vacina que salvaria vidas", disse Renan.
Questionado por que ele passou a ser investigado, Renan disse que foi pelo "conjunto da obra".
"A CPI tem notícia de outras pessoas que negociaram vacinas com Ricardo e que foram mandadas para Roberto Ferreira Dias [ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde]. Então, pelo conjunto da obra, pela Covaxin, pela Belcher [empresa que representava no Brasil a vacina da empresa chinesa Cansino], pela participação de Roberto Ferreira Dias na Davati [empresa dos Estados Unidos que tentou negociar vacinas do laboratório AstraZeneca com o Ministério da Saúde], por tudo isso, nós tornamos Ricardo Barros investigado na CPI", afirmou Renan.
O nome de Ricardo Barros (PP-PR) no âmbito da CPI apareceu após o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, terem denunciado pressão na pasta pela liberação da Covaxin, desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech e representada no Brasil pela empresa Precisa. Foi a vacina mais cara a ter contrato firmado pelo Ministério da Saúde, ao custo de 15 dólares a dose, mas o negócio foi suspenso após as suspeitas de irregularidade terem entrado no radar da CPI.
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Os irmãos contaram que se encontraram com o presidente Jair Bolsonaro em 20 de março, ocasião em que afirmaram ter relatado pressão na pasta. Eles disseram também que apresentaram a Bolsonaro uma cópia da primeira versão do documento de importação, que continha erros, como a previsão de pagamento antecipado.
Na ocasião, Miranda disse que Bolsonaro citou o nome de Barros, que foi ministro da Saúde entre 2016 e 2018, no governo do ex-presidente Michel Temer. Na época, a pasta fechou contrato com a empresa Global, que é sócia da Precisa. A Global recebeu pagamento antecipado mas nunca entregou os medicamentos comprados. Há uma ação de improbidade administrativa em curso na Justiça Federal contra Barros e outras pessoas em razão desse caso. Bolsonaro não esclareceu ainda o que teria dito a Miranda sobre o seu líder na Câmara.
O deputado nega ter cometido qualquer irregularidade. Barros reconhece que a Global causou um prejuízo de R$ 19,9 milhões, mas também afirma que sua gestão no Ministério da Saúde gerou gerou uma economia de R$ 5 bilhões, advindos de quebra de monopólios e outras ações que adotou.
Além disso, em medida provisória editada pelo governo, Barros apresenta emenda para acrescentar a Central Drugs Standard Control Organization (CDSCO) — o equivalente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na Índia — no rol de órgãos habilitados a autorizar vacinas que podem ser importadas pelo Brasil. A Covaxin não tem registro na Anvisa, mas, como tem na Índia, a emenda poderia autorizar sua importação. Barros e os governistas vêm apontando que outros parlamentares, entre eles o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também apresentaram emenda para incluir a agência indiana na medida.