Apontado pela CPI da Covid como uma das peças-chave para elucidar a negociação com supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin, o líder do governo na Câmara Ricardo Barros (PP-PR) depõe nesta quinta-feira (12) à comissão. Segundo o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), Barros é o deputado a quem Bolsonaro teria se referido ao ser informado sobre suspeitas de corrupção nas tratativas para a importação da vacina. Também segundo Miranda, o líder do centrão teria feito lobby para que o contrato fosse assinado a toque de caixa.
Antes de se tornar alvo da CPI, Barros fez carreira de mais de 20 anos como deputado federal. Membro do chamado 'centrão', é considerado fisiológico e foi líder ou vice-lider no Congresso de quase todos os presidentes eleitos após a ditadura militar. Hoje apoiador de Bolsonaro, ele já foi base dos governos FHC, Lula, Dilma e Temer.
Diferentemente de grande parte dos convocados como depoentes à CPI, Barros pede para comparecer à comissão desde que foi citado pela primeira vez na oitiva de Luis Miranda. Em julho, o deputado entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) exigindo que a comissão marcasse com rapidez o seu depoimento, alegando direito à defesa.
"Estou há quase 10 dias sendo acusado por ilações e especulações levianas. Não há provas. Desde o início me coloquei à disposição da CPI para prestar os esclarecimentos, quantas vezes forem necessárias. Estão impedindo a minha a garantia do direito constitucional de ampla defesa", disse, em nota oficial.
Na véspera do comparecimento (11), o presidente da CPI, Omar Aziz, em ato simbólico, atendeu aos pedidos de Barros e transformou sua convocação em convite. A intenção da mudança seria minimizar o constrangimento do líder do centrão, visto que, desde o início, manifestou intenção de colaborar.
Base de governos Lula, Dilma, FHC e Temer
Formado em engenharia civil, o deputado tem 61 anos e é natural de Maringá (PR). Iniciou sua trajetória política já como deputado federal, em 1995, pelo PFL — que posteriormente se transformou no DEM.
De 1999 a 2002, Barros foi vice-líder na Câmara do governo FHC e líder do governo no Congresso Nacional ao longo do ano de 2002 pelo PP.
Com a chegada de Lula à presidência, o PP se aliou ao PT e, novamente, Barros esteve na base do governo, tendo sido vice-líder do PP na Câmara e vice-presidente nacional do partido. Foi ainda vice-líder do governo no Congresso, em 2007.
Barros também integrou o governo de Dilma Roussef (PT), mas, após a abertura do impeachment, foi um dos maiores articuladores para a queda da ex-chefe do Executivo.
Com temer, em 2016, o parlamentar foi nomeado ministro da Saúde, comandando a pasta até 2018, quando foi exonerado para concorrer na eleição, novamente como deputado federal.
Ex-ministro da Saúde
No tempo em que esteve na chefia o Ministério da Saúde, Barros tentou promover cortes na pasta, sempre defendendo o enxugamento de gastos do SUS, argumentando que o país poderia perder a capacidade de garantir acesso universal à saúde.
Por defender pautas semelhantes às de entidades privadas de saúde, foi chamado de lobbysta por membros da oposição em diversas oportunidades.
Em sua gestão, o Ministério da Saúde sofreu um processo por improbidade administrativa, que atualmente tramita na Justiça Federal de Brasília. Nele, Barros e quatro servidores são acusados de beneficiarem empresas que atrasaram a entrega de remédios para doenças raras, levando pacientes à morte.